Os bons corações franceses

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O imperador da Inglaterra está morto. Após três anos acamado, delirando e tendo seus braços perfurados diariamente por seringa para novas sangrias, sua alma descansou. Seu único filho, Dorian, de apenas quinze anos e aparência frágil, tornou-se o novo imperador.

As relações internas e externas da Inglaterra ficaram conturbadas. Pois, até então, Anton, Lorde de Wellington e líder do Conselho Real, estava à frente das decisões do império e, com isso, ele havia adquirido muito poder e prestigio graças a essa posição.

Dorian estava começando a se apropriar de suas funções quando recebeu a visita de um mensageiro da França, que havia solicitado uma audiência inesperada.

– Deixe-o entrar – disse o imperador ao guarda.

O francês trazia um arranjo de rosas coloridas.

– Que belas flores! – exclamou – Qual o significado do presente, mensageiro?

O homem tirou da bolsa uma carta selada, abriu-a e leu: "Para Dorian, a mais bela e casta dama da Inglaterra, envio o que melhor temos de flores nascidas na França para alegrar seu dia. E espero que deixe para os homens os assuntos oficiais."

– Majestade, não se zangue com uma brincadeira tola dessas.

– Ah, Anton? – disse Dorian, surpreso e confuso – Não o vi chegar. Desde quando está aí?

– O suficiente para perceber que vossa majestade é incapaz de compreender um gracejo inocente, sendo capaz até de causar um acidente diplomático por uma atitude impensada.

– "Um gracejo inocente", Anton? Eles caçoam da minha pouca idade e dos delicados traços que herdei da minha mãe, mas esquecem que nas minhas veias corre o nobre e valente sangue dos mais fortes guerreiros. Rindo de mim, eles zombam de toda a Inglaterra e isso é imperdoável. Guardas! Prendam Anton por desrespeito à coroa e alta traição, o enforquem ao amanhecer. E que isso sirva de aviso aos outros que pensam como ele. E você, mensageiro, leve meu recado ao seu rei, diga que agradeço as rosas endereçadas a mim e ao meu povo, e que ele esteja certo que retribuirei o presente à altura.

Estava havendo um enorme banquete no castelo francês quando o mensageiro chegou com o recado inglês. Todos os presentes, a maioria nobres, riram.

– Se soubéssemos que ele encararia de uma forma tão pacifica deveríamos ter escrito um texto mais ousado – disse um dos conselheiros e mentor do plano – "Talvez devêssemos nos beijar para quebrar a tensão entre nossos países".

Bêbados, gargalharam. Até serem interrompidos pela entrada de um enviado da Inglaterra, trazendo um objeto coberto por um pano, carregado por dois ajudantes.

– Vejam – disse o rei – Dorian também nos mandou algo para nos lembrarmos dele.

O mensageiro inglês leu a carta:

"Fiquei realmente tocado pelo buquê que recebi, digno unicamente dos bons corações do povo francês, tanto que reuni os quarenta e nove que moram na Inglaterra – entre homens, mulheres e crianças –, para admirar o que eles têm de melhor mais de perto.

Sinceramente, Dorian"

E os carregadores descobriram o vaso de vidro, cheio até o topo com corações humanos.

***

Dasafio #11 (30/01/2018)

Dasafio #11 (30/01/2018)

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