Jéssica

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5 de março de 2018

Jéssica, como foi difícil dizer o que sinto. Desde que nos vimos pela primeira vez no campo de golfe, fiquei fascinado. 

Eu estava jogando e encontrei um boné preto caído perto do lago do clube e alguém falou "isso era dela", apontado para a mulher mais bonita que vi em toda minha vida, estava usando um conjunto de saia e blusa xadrez em tons de lilás, tênis branco com meias combinando e o cabelo castanho claro trançado. Você caminhava de um lado para o outro, conversando com todos os seus amigos, e quando nossos olhares se encontraram, quando vi aqueles magníficos olhos verdes emoldurados por cílios de boneca me observando também, tive certeza que estava apaixonado.

Às vezes algo acontece dentro de nós, Jéssica, uma luz se ascende e nos mostra a verdade e o caminho para a felicidade. Eu soube naquele mesmo dia, naquele instante, que você era a mulher da minha vida, com quem iria me casar e ter uma família. Mas você parece não ter percebido isso. Minha doce Jesse, sempre tão avoada.

Em todas as sextas-feiras e sábados seguintes, a convidei para tomar um chá comigo, e sempre ouvi recusas. Você dizia estar ocupada com suas amigas, preparando algum evento beneficente, ou que iria lanchar com algum parente seu que também havia vindo ao clube naquele dia. Eu sabia que estava mentindo para mim, mulheres fazem dessas: demoram para corresponder as investidas masculinas justamente para serem valorizadas. Vocês são espertas, mas nem tanto.

Depois de um mês você apareceu com aquele tal de Jorge. Não desgrudava dele, durante todo o jogo de golfe batia palmas animada e gritava comemorando quando ele acertava o buraco na primeira tacada. Aquilo me doeu de verdade. Mas, pelo menos, depois de tanta insistência, você aceitou me encontrar no domingo para almoçar, "apenas como amigos", você disse.

Fiz a reserva em um dos melhores restaurantes da cidade, tive que subornar muita gente para conseguir uma mesa tão em cima da hora, quanto mais com vista para o porto. Tudo seria perfeito, ou melhor, teria sido perfeito se você não tivesse chegado usando uma camiseta comum com as mangas arrancadas, all star, calça jean surrada e o cabelo amarrado de qualquer jeito. Era nosso primeiro encontro, Jéssica, você poderia ter ao menos passado um batom vermelho e usado um salto alto como qualquer mulher de verdade faria. É o mínimo que eu esperava! Pelo visto, você é dessas garotas moderninhas que desaprenderam a ser femininas, mas eu sabia que, com um pouco de paciência, conseguiria reverter isso. É antinatural mulheres agirem assim.

Lembro como se fosse hoje sua voz me perguntando no carro "Onde estamos indo? Este não é o caminho para minha casa", "Esqueci algo no clube de golfe e preciso ir lá buscar agora", respondi. Sinto muito pelo jeito com que falei com você depois disso, me descontrolei quando você começou a chorar. Também não deveria ter te dado um soco tão forte, mas se não fosse assim você não teria parado de gritar, estava histérica e dizia coisas horríveis.

Estacionei quase no final do campo, precisava decidir o que fazer. Pesando em todos os prós e os contras sobre o que aconteceu e a sua forma de agir, Jéssica, não havia futuro para nós. Mal nos conhecíamos e já tínhamos mais magoas que lembranças boas para compartilhar.

Esvaziei minha sacola de tacos de golfe, enchi de pedras e prendi-a em você, como uma bolsa transversal. Mesmo inconsciente, você ainda estava respirando quando te joguei no lago do clube.

A culpa não foi sua, não tinha como dar certo.


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Desafio #22 (05/03/2018)

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