Capítulo 13 - Mapas.

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Aquela noite ainda me assombra, as vezes acho que foi um pesadelo, mas então acordo no meio da madrugada e vejo que tudo foi real, tudo. Meu corpo está dolorido desde então, minha cabeça dói muito, tentei pegar alguns remédios na enfermaria, mas não queria arriscar, eu estava com medo. Tive que ir até a cidade e comprar algumas aspirinas. Laura percebeu que eu estava estranha, não sei se foi porque me pegou chorando ontem à tarde durante o banho, eu disse que não era nada, mas ela não pareceu acreditar muito. Hoje já é o segundo dia depois de um dos piores dias da minha vida, se fosse classificar em um ranking eu colocaria a morte da minha mãe em primeiro lugar e isso viria logo em seguida, afinal, foi o dia que eu descobri sentindo na própria pele o quanto obscuro pode se tornar o ser humano. Arthur não publicou a matéria e eu nem sequer tive forças para ir atrás dele descobrir o porquê, não vi a cara dele desde o incidente que tivemos. Pedro vive me ligando e mandando mensagens, ele quer me ver, eu não contei para ele também.

Não contei para ninguém que eu, Rebecca.

Matei Gohan.

***

As coisas aconteceram muito rápido naquela cabana, ele não me estuprou, muito menos conseguiu cortar a alça do meu sutiã. Ele se distraiu, estava muito nervoso. Ele começou a mexer nas cordas, ver se conseguia deixa-las um pouco mais soltas, resmungava o tempo todo, naquele momento eu me senti forte e foi quando ele aproximou aquele canivete de mim novamente que eu perdi o medo de morrer, eu tinha que lutar. Mordi o dedo indicador dele que estava apoiado no cabo de madeira, mordi com tanta força que minha boca se encheu de sangue, Gohan soltou o canivete e puxou o corpo para trás, nesse movimento eu acabei sendo puxada também e cai encima dele, ainda mordendo seu dedo, ele começou a socar minha cabeça com a mão esquerda e gritava para eu parar. A certo momento senti que estava prestes a desmaiar de tantos socos que estava levando, mas os socos eram fracos e eu me sentia mais forte ainda, acho que foi um surto de adrenalina. As cordas já não prendiam mais meu corpo, eu estava parcialmente presa, mas podia me movimentar, a primeira coisa que fiz foi pegar o canivete, ele se levantou e tentou me acertar um soco, mas acabou me atingindo com o braço e não com o punho. Eu cortei as cordas e quando ele se aproximou para me agredir, enfiei a faca em sua barriga. Me senti parte daquela lâmina explorando o intestino dele, rasgando sua pele e trazendo o sangue para fora do corpo. Ele gritou e achei que iria desmaiar. Puxei a faca com tudo e enfiei novamente, depois mais uma vez e mais uma e mais uma.

Meu braço se movimentava rapidamente e após a sétima facada ele caiu no chão desacordado e eu continuei.

Perdi a conta de quantas vezes o esfaqueei.

Eu não tinha intenção de mata-lo, meu corpo fazia aquilo tudo automaticamente. Quando voltei para si, vi que a faca estava enfiada no ombro dele.

Gohan se tornou um poço de sangue. Eu não sabia o que fazer. Que desculpa eu daria para a polícia?

-Re...b...c... – Ele tentou dizer.

Meu rosto estava encharcado de lágrimas. Peguei minhas coisas e o deixei ali.

***

Jornal do internato Primavera.

Recado importante.

A formatura acontecerá no dia 04 de dezembro (domingo), portanto avisem seus pais ou responsáveis. Os pagamentos devem ser feitos até o dia 28 de novembro, na secretaria. Conto com a compreensão de todos.

Fuja.Onde histórias criam vida. Descubra agora