Capítulo 22 - Chuva.

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Dia 04 de dezembro. Domingo.

No fundo eu sempre soube que ela estava viva, ver ela inteira na minha frente não me causou tanto impacto quanto eu esperava. Lucia continuava do mesmo jeito, cabelos trançados, olhos negros e opacos, o rosto fino e a expressão fria, além também de algumas espinhas. Não esbocei sorriso, nem mesmo me movi. Olhei ao meu redor e vi os rostos que me espreitavam, todas meninas, todas meninas do internato, eu conhecia o rosto de cada uma. A maioria me olhava com frieza. Laura está ao meu lado e não escondia a decepção que estava sentindo, ela devia saber o que me esperava.

-Não entendo, eu fiz tudo o que me pediram - falei. - Porque votou contra mim, Lucia?

Antes que imaginem a cena da forma errada, vou esclarecer. Lucia não estava com a expressão de uma vilã imponente, ela e só uma adolescente. Estava sentada em uma cadeira como todas as outras e desviava os olhos do meu olhar, estava me evitando, devia estar com medo.

-Não temos que justificar nossos votos, isso aqui não é big brother. -Começou Camila se levantando e indo até Amélia. - Vamos dar um fim nisso logo.

Fim?

Me levantei e isso fez com que as outras meninas se levantassem também, inclusive Laura e Maria. Apenas Lucia permaneceu sentada. Se eu tivesse que lutar pela minha vida, assim eu faria. Meus punhos se fecharam e elas notaram pois me olhavam com desconfiança agora. Camila também me encarava.

-Porque todas se levantaram? - Amélia perguntou em tom de irritação. -Vai, quero todas sentadas!

Todas se sentaram, mas eu fiquei em pé. Amélia me encarou tentando me intimidar, mas não funcionou, continuei de pé.

-O que vão fazer comigo? - perguntei sem gaguejar.

Amélia olhou para Camila e aquele olhar demonstrou toda sua raiva com a menina.

-Respondam! - gritei irritada. Elas estavam quietas, olhando para os lados. - Vão me matar? É isso o que vão fazer? Vocês teriam coragem de fazer isso comigo? Eu não estou do lado dele, não podem fazer isso comigo! -Comecei a chorar. -Eu vim até aqui, me machuquei, tenho certeza de que quebrei meu pé e... é por causa do que falei? Eu posso... eu posso mostrar para vocês o que eu quis dizer, acho que entenderam errado e... e eu não quero morrer, vocês não podem. Não podem fazer isso comigo! Vocês estão sendo injustas!

-De novo com esse negócio de justiça... - disse Camila em tom provocativo.

Minha situação era humilhante, meu choro se tornou desesperador. Estou domada pelo medo.

Passei a mão pelo rosto limpando algumas lágrimas. Senti meu rosto inchado, os olhos doloridos, os lábios trémulos.

-Não somos assassinas. Você não entendeu ainda, por isso não vai se juntar a nós, não faria sentido você estar aqui conosco. - Amélia estava em pé, um sorriso irônico no rosto. - Você é fraca, Rebecca. Não tem lugar para gente fraca aqui. Que se foda o que você falou ou da maneira como falou, você não é uma de nós e as coisas vão continuar assim.

Cai de joelhos, eu não aguentava mais ficar em pé. Meu desejo era sair dali e nunca mais voltar, esquecer essa história, começar do zero. Se eu tivesse beijado Pedro as coisas poderiam ter sido diferentes. Toda essa minha busca foi uma jornada de autodescobrimento, mas foi uma jornada árdua, envolveu o desaparecimento da garota que eu achava estar apaixonada, além também de assassinatos e coisas que até hoje não fazem muito sentido para mim. Eu não estava apaixonada por Lucia, nunca estive. Aquele... beijo, foi só um beijo e nada mais, foi algo que não deveria ter acontecido, algo que saiu do nosso inconsciente como se naquele momento eu me sentisse parte de algo mais junto com ela. Eu senti medo, mas não medo de ser diferente ou de não ser aceita pela sociedade, se fosse isso o que eu realmente queria. O medo que eu senti foi o de nunca descobrir o porquê daquilo, porque aquele beijo aconteceu. Porque?

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