Passagem

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    Há dias em que simplesmente não estamos risonhos, é como se estivéssemos no automático e fizéssemos tudo por conta do corpo. Não é melancolia, apenas uma paz estranha, uma estranheza nem boa, nem ruim, apenas uma calmaria dentro do mar agitado que somos nós.

     Para alguns, o Inverno e o Outono remete isso, essa calmaria, uma quase tristeza que se mistura e confunde com melancolia e indiferença. Porém, isso é a influencia da estação em nós. Tal como somos feitos de vida, a natureza também é e por vezes ela precisa demonstrar sua indiferença para que percebamos o quanto ela é bela na primavera. O Inverno, nada mais é do que uma estação que aquece e acalma nosso ser, mas para isso, precisamos deixa-lo entrar em nós.

      Através da brisa, do ar, de um dia nublado ou mesmo das gotas de chuva, que insistem em nos banhar. Seja a terra, as pessoas ou mesmo nosso lar. A chuva devia ser agraciada por todo bem que nos faz e a natureza também. Seja grata. A chuva de hoje, fortalece a terra para suportar o sol do amanhã.

" Não é tristeza, não é solidão. É só a calmaria do meu coração após tantos dias de tempestades."

Música: Cícero- De Passagem

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        Andando sem pressa entre a multidão, Luíza é só e apenas mais uma mulher entre tantas outras a caminho do metrô. Seus passos são seguros, porém as vezes parecem insertos. Ela se pergunta sobre o mundo, a vida, as matérias da faculdade, a politica, mas agora... ela nada pensa. Apenas se limita a ouvir a música que toca em sua mente, aquela mesma que ela ouviu no caminho de casa até ali.

       Descendo as escadas, elas só quer chegar logo na faculdade e que o dia passe ligeiro, para voltar para casa, para o conforto do seu lar. Hoje, ela só queria ficar no conforto da sua cama, lendo um livro e tomando um xícara de café bem doce. O cheiro do café parecia estar presente no ar, de fato estava. No copinho de um rapaz apressado, segurando uma revista no braço, a mochila nas costas, o celular numa mão e o café na outra. Era outono, sua estação favorita e o dia estava chuvoso e gélido. Oh coisa boa.

      Engraçado, como todo mundo parecia sempre apressado, afoito e alvoroçado para pegar o metro e partir a seus destinos pré estabelecidos. Ou será que não eram? Mas se não fosse, porque estariam ali?! Ela se acanhava no cantinho, chegando a sua plataforma, esticava a mão dentro do bolso da calça jeans e puxou seu passe. Pagou pela viagem e passou. Seguindo o percurso decorado, ela só se deixava ir.

     Diante da porta que abriu para ela, milhares e outras mil pessoas vinham atrás tão apressadas que a obrigavam a acelerar, sendo que hoje ela estava desacelerada. Sentou em um lugar livre, na janela e ali ficou. Se aconchegou no banco e segurando sua mochila, o transporte apitava e começava a se mover.

       Enquanto ele se movia, Luíza estava ali, parada, observando a janela embaçada da qual ela passava a mão gelada, que limpava o vidro do vapor que ali estava. Ela via então o túnel, os trilhos e as luzes laranja e vermelhas, que piscavam e em sua mente, a música ainda tocava.

      Mexeu no bolso da mochila, tirou o celular e os fones, colocando em suas orelhas, ela escolhia uma música. Aquela música, parecia perfeita para aquele agora. A cada nota do vocalista, ela nem prestava atenção, sua mente estava vazia e ao mesmo tempo tão cheia...

Uma parte dela gritava e a outra sussurrava: Silêncio...

Assim ficou alguns minutos, ouvindo a melodia que lembrava-lhe o som do mar, o som do vento...

Chegando ao seu destino, ela guardou o telefone no bolso do moletom e saiu do transporte atrás de tantas outras Marias e Joões que ela desconhecia e talvez estivessem no mesmo transe que ela. Subia escadas, corria um pouquinho, atravessava a rua e ali estava, na entrada do campus. Seus passos diminuíam a velocidade, seus olhos fitavam as tantas mulheres e homens que iam na mesma direção que ela e depois seguiam caminhos adversos.

Ela não se sentia bonita hoje, tinha só molhado o cabelo e jogado o cabelo de qualquer jeito. Sua roupa, fora literalmente a primeira que viu cair do guarda-roupa bagunçado. Ela estava confortável, mesmo a calça sendo preta e o moletom e o tênis também. Tudo nela estava preto. A camiseta de manga longa por baixo, a lingerie e até as meias. Era automático.

Sua mente agora, estava conectada com ela mesma. E ambas ligadas a melodia de outra canção que tocava nos fones. A garoa, começou a cair. Todos corriam, mas ela era a única que não se importava. De certa forma, sentia como se o peso de cada gota que caía sobre ela, na verdade, lavava sua mente, sua alma e energizava seu coração.

Ela podia sentir as gotas dançarem e caírem sobre ela. Seu cabelo crespo e naturalmente seco, era motivo de orgulho para ela, pois fazia parte da sua identidade, de sua história. Sua pele, não era negra, não era branca, o que ela era? Não sabia e nem se importava em saber. Pois o que importava era seu nome, Luíza. Ela era o que era, fosse quem fosse, com os problemas, defeitos, imperfeiçoes. Ela era uma onda diante do mar. Porém, hoje ela estava branda.

A chuva começou a ficar forte e o vento, gelado. Ela precisou apressar o passo e naqueles segundos de pressa, ela se deu conta: Hoje não era um dia ruim, apenas um dia bom. Um dia como qualquer outro dia de sua vida, de sua semana, ou seu ano. Mas era mais um dia que ela tinha a oportunidade de sacudir sua onda e fazer um tsunami na vida de alguém, ou só e penas, fluir em direção a praia.

Tirou os fones, desligou o celular e o guardou na mochila. Fosse como fosse o seu hoje, ele acabaria e ela não podia deixa-lo acabar sendo só e apenas mais um dia. Hoje era o dia em que ela podia sacudir a areia da praia e mudar seu eu. Se ela queria? Sim, porém era assustador. Mas as melhores loucuras se tornam os melhores dias, diante de um dia que seria apenas bom.

Quem faz seu dia, é você. Luíza percebeu isso. Ela poderia agir no automático, porém ela decidiu que seria protagonista de seu próprio eu. Correu até a lanchonete e pediu um café. Para dar uma acordada. Quando pagou e foi embora, indo no sentido  da sua sala, ela esbarou em alguém. Era o cara do café.

- Desculpa, eu... - Ficou sem saber o que falar, diante do riso singelo deste que nem se quer se importava, afinal era apenas mais uma mancha de café na sua camiseta que já estava marrom.

- Deixa, eu pago outro para você... Sou Caio. - Disse ele dando um sorriso tão aberto, que podia ser o sol em um dia nublado.

- Luíza. - Disse ela fitando o rapaz que tinha olhos amendoados. Sua pele era um tom café brilhante.

- Vem Luíza, que tal um café e uma história? Eu adoro ouvir histórias...

- Claro, mas eu não tenho uma história. - Disse ela, achando ele estranho e feliz demais. Aquela felicidade era estranha a ela.

- Tem sim. Sua história se chama: Eu, Luíza. - Disse ele por fim, fazendo-a entender que uma história não precisa ser eletrizante, ela só precisa existir para ser contada.

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Oii Abacaxi, tudo bem?

Então, será que hoje você foi uma Luíza?

Andando por aí, no automático sem se dar conta de que a vida passa diante de seus olhos?

Você não precisa encontrar um Caio em sua vida, basta um gole de café uma abanada nesse corpo.

ACORDA MENINA! Acorda Menino!

Bjosss de Luz!

Quatro EstaçõesOnde as histórias ganham vida. Descobre agora