Desafios Por Recompensas

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×Visão de Ethan

Eu nunca tinha treinado alguém, por isso era difícil me colocar no lugar dele e entender seus limites. Cresci sendo obrigado a olhar ao redor e enxergar as pessoas como merda – e mesmo que isso não justifique nada e eu sei que não justifica, explica muitos comportamentos que eu preciso reconhecer para mudar. Empatia definitivamente não era uma qualidade que poderia ser atribuída a mim e eu tinha completa noção desse fato, o que era relativamente frustrante, mas pelo menos agora eu conseguia compreender minhas limitações e batalhar para superá-las. 

No entanto, treinar o homem que eu amava transformava essa missão de exercitar empatia como algo menos difícil de ser alcançado, confesso. Quando Rodrigo chorava, eu o apoiava, quando ele caía, eu o levantava, quando se sentia desamparado, eu estava ali para sustentar a barra que era auxiliá-lo e não tinha problema algum nisso, porque me sentia útil. É claro, no entanto, que uma empatia sem uma base sólida de conhecimento e experiência apenas seria algo descartável, então eu precisava continuar me esforçando de verdade.

Acontece que mais do que namorar com ele, treiná-lo me fez olhar para as pessoas com novos olhos. Ele obrigava minha carne a tremer de verdade, como se implorasse para que eu fosse mais humano e dentro dos meus pensamentos eu percebia essa obrigatoriedade, mesmo que nada disso fosse expressado verbalmente. 

Ele estava diante do maior desafio de sua vida e por mais que eu não tivesse certeza se era o melhor para motivá-lo, tentava não ser aquele que iria desmotivá-lo sem perceber. Eu precisava me colocar lado a lado dele, para que caminhássemos juntos – e para alguém que sempre caminhou sozinho esse também se tornava um grande desafio pra mim. 

– Vamos, vou com você dessa vez. — falo para Rodrigo, enquanto Júnio e Giovani assistem o treinamento dele do outro lado da arena. 

O contador de segundos zera e um pequeno aviso sonoro toca. É aí que toda a atividade começa e a única coisa que faço é focar no caminho que eu tinha traçado para vencer aquele lugar. Toda a arena tinha sido montada por Bruce e eu sabia que ele tinha pensado exatamente na capacidade de Rodrigo ser expandida com o passar do tempo. O foco ali não era que ele conseguisse passar de primeira e sim que aprendesse como passar de cada obstáculo para no final daquela jornada perceber sua evolução. 

Eu começo a correr, pulo alguns obstáculos e continuo correndo, me abaixo, levanto, me jogo no chão, corro, engatinho, pulo, escalo e corro mais. Depois de cerca de 10 minutos me jogo no final do trecho caindo em pé na frente dos dois no fim do percurso, mas ao olhar para o lado não vejo Rodrigo.

– Cadê ele? — pergunto, confuso.

– Tá ali. — Júnio fala, apontando para trás. E eu me viro, enquanto tiro meu colete de 60 kg.

Quando o vejo Rodrigo acena. Ele estava no chão, no meio da arena. Assim que ele percebe que eu tinha o visto, sua cabeça cai para trás e eu sorrio, coçando a testa um pouco. Rodrigo já tentava vencer a arena há quase 10 dias e mesmo com os treinos exaustivos ainda não chegava nem perto disso.

– Por quantos obstáculos ele conseguiu passar? — pergunto.

– 3. — Giovani fala e eu penso um pouco.

Tudo é desligado e eu vou andando até onde ele estava, quando me aproximo, ajudo Rodrigo a levantar e percebo em seus olhos as expressões de frustração. Acontece que pra mim era visível a melhora que ele vinha enfrentando, provavelmente por estar acompanhando de fora.

– Foram mais que a última vez. — falo, tentando encorajar Rodrigo, que me encara completamente sem fé nas minhas palavras.

– É, da última vez foram 2. — é o que ele me diz, me olhando desanimado.

Na Minha Própria Mira (Romance Gay)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora