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Aquelas palavras acertaram Yoongi em cheio. Como um soco.

Ele viu ali, naquelas palavras, a dor e a simplicidade que sua mãe havia usado pouco antes de ir embora. Ela não disse muito, mas foi sincera em suas palavras e aquilo ainda doía dentro dele.

-Eu não devia ter dito isso.

A voz de Aurora trouxe ele de volta pra realidade.

-Desculpa. -Ele soltou sem pensar.

Imagens de sua mãe vinham a tona, depois de anos de esforço pra guardar cada uma delas. Não era um bom momento pra ficar emotivo, mas Yoongi não conseguiu evitar.

Muitas lembranças moravam naquele chalé e qualquer coisinha que fosse era suficientemente grande pra abalar qualquer Min que estivesse ali. As vezes passamos tanto tempo criando muros pra nos defendermos que até esquecemos que o mal não ficou lá fora, ele está dentro de nós.

-Eu... -Ele tentou, mas Aurora foi mais rápida e não deu tempo pra ele se redimir.
-Não perde seu tempo, não. Eu não devia mesmo ter dito isso.
-Mas você disse. -Yoongi ainda encarava a menina sentada no sofá.

Aquilo era credibilidade.

Ela se abriu, disse coisas que Yoongi não fazia ideia que passavam pela cabeça dela.

-O que importa não é o que você disse, mas pra quem disse.

Aurora ouvia com atenção, tentando acompanhar o raciocínio dele.

Yoongi bufou. As mãos apressadas correndo pelos fios pretos do cabelo. Conversas como essa nunca foram seu forte. Ele era bom com negócios, com contratos, mas não com seus sentimentos.

-Se você confia o suficiente em mim pra dizer isso eu devia considerar, não é?

-Você não deve nada. -A menina deitou a cabeça no encosto do sofá e fechou os olhos. -Deixa isso pra lá. Pode voltar a dormir. Eu juro que não vou atrapalhar.

-Perdi o sono. -Yoongi disse. -E a gente devia fazer alguma coisa juntos.

-Não preciso da sua pena, Min.

Ele riu fraco.

-Não é pena. Eu só acho que seria legal se a gente desse uma volta. Tem um lago no fim da trilha, é bem bonito lá.

O sol brilhava ao longe é uma brisa com cheiro de flor passeava entre as árvores e deixava a caminhada muito mais prazerosa.

Uma música calma saía do celular de Yoongi, o único funcionando agora, e se misturava ao canto do pássaros.

Silenciosamente ambos compartilhavam de uma mesma sensação que os aquecia por dentro. Era como chegar em casa depois de um dia cansativo de trabalho, como abrir a janela pela manhã e deixar que o sol tocasse o rosto.

-Um doce pelos seus pensamentos. -Yoongi disse de repente.

Aurora riu.

-Tava pensando que, em menos de um mês, você já me fez caminhar no mato duas vezes.
-É que eu sou bem convincente.
-Não é não.
-Então tá aqui por que?
-Porque eu quis. -Ela disse rindo.

Num determinado momento, Yoongi parou de andar. Estavam no alto de uma clareira e lá em baixo estava o lago. Parecia um espelho refletindo o céu amarelado de fim de tarde.

-É a coisa mais linda que eu já vi.

Enquanto a menina se perdia na paisagem, Yoongi não conseguia olhar pra nada além do rosto dela.

"Como essa menina consegue ser tão linda?"

-Agora é minha vez, Min. -Ela disse. -Um doce por seus pensamentos.
-Não. Você não quer saber.

Ela riu sem entender muito aquela resposta, mas não insistiu.

Havia uma escada de madeira muito velha, mas que ainda aguentava o peso de uma pessoa. Os dois desceram por ali até perto do lago. O ar era frio e aconchegante, uma pequena amostra de manhã de outono.

-Ta vendo aquela cabana ali?

Aurora seguiu o olhar de Yoongi e vou o pequeno casebre de madeira. Parecia recém construído, mas tinha um aspecto muito rústico.

-Sim. -Ela respondeu.
-Minha mãe construiu pra mim quando eu fiz dez anos.

E lá estava ela perdida de novo. Nunca sabia o que dizer ou fazer quando o assunto era a mãe se Yoongi.

-Seus irmãos não tinham ciúmes de vocês dois?
-Muito, mas ela nunca negou afeto pra nenhum de nós. -Ele jogou uma pedra no lago. -A diferença é que a companhia dela sempre foi o suficiente pra mim, mas não pra Sun ou pro Yura. Eles preferiam o pai que dava tudo que eles pediam...
-Mas não o que precisavam. -Aurora completou. -Eu sei bem como é isso.

Yoongi continuou em silêncio, esperando que ela continuasse. Estava adorando o quanto ela estava se abrindo com ele, fazia toda aquela farsa valer a pena.

-Não tive uma relação boa com nenhum dos meus pais, mas minha avó foi essa mãe que cuidou de mim. -Ela sorriu sozinha, os olhos perdidos no lago. -Eu sinto muita falta dela.
-Onde ela...
-Ela morreu. Poucos meses antes do nosso... Você sabe.

Ele assentiu e jogou outra pedra no lago.

-A gente pode não ter muito em comum, mas conhecemos a dor de perder alguém.
-É.

O silêncio que seguiu não era incômodo, muito pelo contrário. Era reconfortante, como a brisa que soprava.

-Vamos? -Aurora chamou. -Eu sei que você tá morrendo de vontade de entrar na cabana.

the empireWhere stories live. Discover now