Dia 2

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"2- Escreva sobre algo histórico"

No sofá, sob a mulher, havia sangue. A manta novinha em branco agora estava vermelha e tão vibrante quanto tinta fresca em uma tela.

Ela gritou, estava sozinha no segundo andar. Não estava enferma, apesar das dores no útero. Com todas as esperanças extremamente vivas, não estava podia estar morrendo. Ainda assim, ela gritou o mais alto que podia como se sua vida dependesse daquilo. Talvez dependesse.

O primeiro a passar pela porta foi o marido, seguido pelo cunhado. Seus rostos já pintados de desespero ficaram ainda mais pálidos quando viram a nova coloração escarlate do sofá. Contudo, sequer perderam tempo observando a cena, precisavam agir.

Dali até o hospital foi um salto. O genro como motorista, o marido como acompanhante enquanto, em casa, as cunhadas e a sogra juntavam-se às orações da própria mulher.

Dentro do hospital, a mulher ensanguentada foi levada para a sala de cirurgia tão rápido quanto o carro a trouxera. E, lá dentro, era só ela e os médicos. Ninguém podia entrar, ninguém podia olhar, tudo que podiam fazer era esperar.

Naquele dia, todos os envolvidos sentiram o choque entre morte em vida, tão real quanto uma batalha física diante de seus olhos. Provavelmente, vivenciaram o momento mais marcante de suas vidas. O drama de uma placenta rompida que os deixou tão perto de uma tragédia.

A criança nasceu desacordada. Com um berro do cirurgião chefe, ela foi levada da sala de cirurgia para ser reanimada com uma urgência tremenda. A mãe não a viu, o pai não a viu, somente os médicos e, certamente, seu anjo guardião. Porque, naquele instante, aquele bebê precisava de toda iluminação divina existente.

Tudo acontecia com rapidez e urgência. Os médicos correndo, os parentes de um lado para o outro, os batimentos cardíacos do pai. Mas, ainda assim, tudo passava como em câmera lenta.

Foram horas de apreensão. Cada segundo sobrecarregado por uma tensão doída. Então, houve a luz no fim do túnel. O médico anunciou que a mulher e a filha estavam fora de risco e o alívio tomou o seu lugar no ambiente. A batalha teve seu vencedor, a vida. Não só daquele novo ser humaninho no universo, mas dos pais renascidos após o maior drama de suas vidas.

A mulher ainda precisou ficar no hospital, assim como o bebê, ainda não visto por ela, na incubadora. Mas ela a veria em breve. Tinha fé que veria. Assim como sabia que sairiam as duas dali muito em breve.

O marido seguiu sozinho naquela noite, mas o alívio pelo fim da pior parte alimentava sua esperança. O calendário da casa indicava um domingo de novembro, dia 12 ainda. Os dois moradores só esperavam um novo inquilino sob aquele teto no mês seguinte, mas, aparentemente, não eram eles quem escolhiam.

E mesmo se escolhesse, possivelmente não mudariam nada.

[📝]

|Notes: Isso é sobre meu nascimento. Ok, pode parecer meio narcisista ter escolhido meu nascimento mas, we were born to make history, né.

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