Dia 28

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"28- Escreva uma história baseada em algum sonho que teve"


A energia do ambiente mudou quando o homem entrou. Mesmo que minimamente, apenas por receber atenção e olhares, era uma mudança real e inevitável. O jovem milionário passou pelos corredores do que era seu império com Chegado mais tarde do que todos os outros que ali trabalhavam, ele carregava no olhar a despreocupação de quem não tinha horários a seguir. Estava nítido em sua aparência que havia dormido mais do que a cama, aquilo não era segredo nenhum. A blusa tão amarrotada quanto seu rosto sonolento de quem não estava acordado mas não desperto. No mínimo, era um dia de ressaca forte para ele, o que não era nada de novo sob o teto daquela empresa.

Ninguém ousou desejar bom dia, qualquer pessoa um pouco observadora sabia que, na melhor das hipóteses, receberia apenas um vácuo muito desagradável como resposta. Assim era melhor. O homem estava quase alcançando o refúgio de seu escritório, mas não chegou lá.

— Bom noite, vossa alteza — o melhor amigo abordou-o a meio passo da porta. A brilhante ideia de ter aquele idiota que chamava de braço direito trabalhando ali, com e para ele, fora exclusivamente sua. Aquela era uma estratégia tão prática quanto inconveniente.

O jovem recém-chegado apenas lançou um olhar de esguelha muito rápido na direção do loiro que mantinha-se com o braço em seu ombro, arrastando-o para longe dali.

— Receio que esteja um pouco atordoado — continuou, no tom preenchido de sarcasmo que era mais forte do que ele mesmo. — A reunião é para o outro lado.

— Que reunião? — O rapaz soltou as primeiras palavras desde que havia saído de casa. — Isso é só à tarde.

— É, às duas e meia. O que foi há dez minutos atrás — o loiro respondeu, sem deixar de puxar o amigo com uma pressa crescente. Estava tão nervoso quanto o moreno estava desnorteado.

Ele soltou um palavrão baixinho, para murmurar em seguida:

— Eu já falei que é para marcar essas merdas para mais tarde.

— Certo, mas nesse momento o que podemos fazer é entrar e fingir que está tudo sob controle — o amigo loiro parou em frente à porta de madeira. Avaliou o homem ao seu lado por um instante, soltando um suspiro fraco de desesperança.

Está tudo sob controle aqui — o moreno garantiu, com um toque clássico de arrogância em sua voz.

Eles entraram, lado a lado. Dentro da sala, mais dois de seus companheiros esperavam sentados, em companhia de uma mulher tão elegante quanto eles, tanto em suas roupas quanto na áurea que a rodeava. Ela estava impaciente, batia a ponta do salto no assoalho e os dedos brincavam ansiosamente com a caneta. O moreno sequer se preocupou em reparar em qualquer um desses detalhes. Tudo que enxergou foi sua cadeira.

O loiro tratou de desculpar-se pelo atraso do chefe, ciente de que ele mesmo não o faria. Então, a reunião foi iniciada. Não pelo moreno, este estava muito mais interessado no momento em que tudo acabaria. Era perceptível para todos, o desinteresse em cada resposta entediada que ele direcionava às falas da mulher era gritante. Ela percebia, a sala inteira percebia. Os três rapazes ali já estavam habituados, mesmo que o maior interesse fosse da empresa, o moreno jamais agiria como se importasse. Todos ali concordavam que ele não dava a mínima nem para sua aparência, com a blusa desabotoada e o cabelo despenteado. A diferença era que a mulher não era obrigada a aturar aquela atitude ridícula e estava a um triz de assumir tal posição.

— Isso pode ser muito mais rápido se vocês me apresentarem alguns dados dos últimos meses — ela dizia, insistindo na versão paciente de si para fazer um trabalho digno.

— Tanto faz — o moreno falou, seus olhos mal a encaravam. Foi a gota d'água, não havia como ser paciente, as divindades não a podiam culpar por tentar.

— Tudo bem, livre-se do processo sozinho, então — ela falou, levantando-se com tanta determinação quanto suas palavras emanavam. — E prepare-se se ele for pior do que está.

Ela bateu os saltou para fora dali, sem ligar de fechar a porta com educação. A raiva estava instalada. Provavelmente, se soubesse a expressão de preocupação que o moreno aderiu, com os olhos bem mais abertos do que manteve a manhã inteira, talvez ela não tivesse saído tão rápido. Mas, aquilo também já não mais importava, a paciência da mulher fora esgotada e, para ele, era tarde demais. Embora ninguém tenha lembrado de avisá-lo.

Os amigos na sala riram. Ela podia não ter visto aquela reação icônica, mas eles viram. Era inédito e não podiam deixar de aproveitar do momento, zombando de seu amigo irritantemente bem sucedido em tudo naquela vida.

— Parece que alguém vai se ferrar! — Um dos outros sibilou.

O moreno soltou um palavrão, passando uma mão na cabeça para bagunçar ainda mais seu cabelo. Então, levantou-se para seguir a mulher, mesmo que sequer soubesse seu paradeiro.


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|Notas: Sonho de 2017, ninguém disse que tinha que ser sonho recente huahauhsuh' Eu quis escrever sobre esse sonho naquela época, bem, tá feito. Nunca é tarde.

30 Days Writing ChallengeWhere stories live. Discover now