Dia 6

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"6- Escreva algo de terror"

- Droga - a loira murmurou para a porta trancada do metrô. Pelo visto, teria que voltar para casa a pé. Tudo o que ela podia desejar, ao contrário.

As ruas estavam tão desertas quanto o esperado para uma madrugada fria. A jovem caminhava a passos rápidos pelas calçadas, ouvindo apenas o ressoar de seus próprios saltos em meio ao silêncio da hora. Detestava o fato de ter ido àquela festa idiota da prima, ter brigado com o namorado em meio a celebração tosca e ter que estar sozinha naquele momento, em roupas muito desconfortáveis. Só queria chegar em casa, jogar-se na cama e esquecer tudo com uma garrafa de vinho até apagar.

Para a garota já em estado de alerta, qualquer mínimo barulho era um motivo para apressar-se mais em suas passadas. O vento que movimentava os galhos secos das árvores a fazia tremer não só por frio, mas por um pouco de pavor. Ela ainda continha-se em uma caminhada quando algo veio das sombras do alto em sua direção, rápido e indefinido. Seu reflexo em ótima condição a fez desviar bem a tempo, ela quase caiu com o movimento rápido de seu próprio corpo. Com o batimento cardíaco descompassado, a jovem olhou para trás e pôde ver, na calçada, o pássaro responsável por seu susto. Provavelmente, uma coruja, mas ela não fez questão de ficar ali para analisar melhor.

Em passos ainda mais rápidos, a garota fugiu pela calçada. No entanto, conforme avançava, percebeu que o total silêncio fora preenchido por um som esquisito. Quase como passos arrastados, ou pior. Ela, então, disparou em uma corrida, sentindo o desespero tomar conta de seu interior enquanto o barulho insistia em persegui-la.

A jovem arriscou olhar para trás, não enxergando muito. A ideia foi ruim. Quando tornou a olhar adiante, um grito escapou de sua boca quando se deparou com uma sobra a sua frente e seus passos pararam abruptamente. Contudo, fora apenas um alarme falso, o dono da sombra ronronou para ela, parado bem embaixo da fraca lâmpada de iluminação das ruas. A garota respirou aliviada.

- Um gatinho - disse para tranquilizar a si mesma. - Assustei você?

Ela abaixou-se, estendendo a mão para acariciar o bichinho. Mas nunca chegou a fazê-lo. Seus olhos se prenderam ao olhar vermelho do felino, as duas orbes brilhavam totalmente carmesim. Sentiu-se aterrorizada internamente, porém não houve reação de seu corpo ou de sua mente, como se estivesse hipnotizada. Perdida naqueles olhos, encantada naquela intensidade.

Ela mal conseguiu notar direito o bichano crescer, de maneira estranhamente intimidadora. De início, parecia apenas se esticar como um gato escaldado, mas ele não parou de esticar. Seu corpo pequeno dobrou de tamanho, em uma nova forma, em uma transformação impossível. A jovem loira quis gritar naquele momento, mas sequer foi capaz de tentar. Diante de seus olhos, o gato desapareceu. Em seu lugar, um homem forte sorria a poucos metros de seu rosto, em vestes pretas que pareciam mais sua própria pele, com sangue em seus dentes afiados e mesmos olhar de vibrante carmesim presos ao dela.

O ar lhe pareceu rarefeito, a garganta estava seca, o corpo gelado. Estava paralisada e a sensação era crescentemente agonizante.

Então, o breu tomou sua visão. Não enxergou mais nada. Não sentiu mais nada.


[📝]

|Notas: Foi difícil. Talvez o mais difícil até agora. Tenho a dizer que terror realmente não é comigo, nem mesmo tenho bases inspiradoras para isso. Mas, até que depois que comecei, fui até o fim com mais facilidade do que esperava. Começar foi bem mais difícil que terminar.

E o cagaço? Longe de mim.

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