Dia 5

44 1 0
                                    

"5- Inspire-se na sua música favorita"

Era o pior dia da vida de Charlie. Apesar do sol brilhando no céu imensamente azul, da brisa agradável de uma nova estação, das flores coloridas que perfumavam os caminhos pela cidade, seus sentidos não conseguiram preder-se a nada disso. Havia perdido seu emprego de meio período, cometeu um atraso na faculdade que fora fatal para suas notas e seu carrinho deu defeito no meio do caminho. Ainda era cedo, mas para Charlie, o dia já tinha acabado. Ali, no meio fio, enquanto aguardava seu melhor amigo vir lhe resgatar, rendia-se ao que acreditava ser o fundo do poço.

— Para onde vai, gracinha? — O amigo perguntou, em tom de brincadeira, ao estacionar a moto perto do ponto cabisbaixo que era Charlie naquele instante.

— Se possível, para terra, por favor — respondeu após agarrar-se ao amigo em cima do transporte para partirem, com toda sua áurea pesada junto. 

— Cruzes— ele torceu a cara.— Está tão ruim assim?

— Esse é o pior dia da minha— aquilo soou sério demais para qualquer um duvidar.

— Ah, bebê, fique calma. Sempre há algo bom para aproveitar.

Um sinal vermelho os obrigou a parar. Aos olhos de Charlie, era mais sinal para o estado de sua vida.

— Eu perdi o emprego, a apresentação do trabalho e não tenho nem como voltar para casa por mim mesma. Se é que o apartamento ainda é meu, pelo jeito que as coisas vão...

— Isso não é o fim.

— Nossa! Me sinto aliviada, Benj!

— Não foi isso que quis dizer — ele revirou os olhos.— O dia ainda não acabou.

— Qual parte do "pior dia da minha vida" parece que quero que dure para sempre?

— Ainda pode terminar como o melhor dia da sua vida. 

Charlie riu. Uma gargalhada breve e com muita ironia envolvida.

— Por quê? Vai me levar para a terra como pedi?— ela zombou.

— Na verdade, será exatamente o contrário.

Charlie não entendeu nada. As palavras confusas de Benjamin, o motivo de ele se movimentar e preparar a moto quando o semáforo ainda estava vermelho ou suas intenções por trás daquilo. 

— Como assim?

— Um dia no paraíso!— ele explicou o que não foi nada explicativo para a amiga.—Está segurando bem?

— O quê?! Benj...

— Segure firme!— Ordenou e sua aparente impaciência fez Charlie obedecer às pressas.

— Mas o sinal está vermelho!— ela gritou por sobre o ronco da moto.

— Nunca é para sempre.

Ditas as palavras, o semáforo não demorou mais que alguns segundos para ficar verde, e Benj demorou ainda menos para arrancar com a motocicleta, fazendo Charlie quase berrar com o impacto surpreendente.

Dali, eles partiram entre carros e caminhões por um caminho que Charlie sentia que não reconheceria nem se estivessem em uma velocidade baixa. A brisa parecia um verdadeiro vendaval enquanto aceleravam no veículo de duas rodas. Tão pequeno mas tão veloz, a jovem admitiu consigo mesma.

Seus questionamentos foram respondidos com mais frases extremamente enigmáticas de Benjamin, deixando-a quase irritada pelo surto de mistério do amigo. Mas o costume de lidar com aquele típico bom humor surpreendente do outro impedia Charlie de adquirir um ódio mortal por ele. Apenas torcia em silêncio para que não fosse uma das ideias que ele julgava boa mas que, aos olhos dela, era péssima e só serviam para perderem tempo. 

30 Days Writing ChallengeOnde histórias criam vida. Descubra agora