1 - Como assim não me posso inscrever?

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Mais um dia nojento me esperava. Sim, nojento. De verão, tudo é nojento. Como é que podem gostar de ver pessoas a suar em bica e levar com o cheiro? Pior ainda é ir à praia e parecer a mulher panado quando saímos do mar e vamos para a toalha, a areia colasse em todo o lado. Eu detesto o verão, mas a verdade é uma… ao final do dia sabe bem ir jogar uma partida de futebol… mas tirando isso, detesto!

Se tudo correr bem hoje, vou livrar-me das férias em família! Só de pensar dá-me vontade de dar uma corrida ao quarteirão! Dois meses sem aturar a chata da minha irmã mais nova, sem aturar os dramas e as manias da minha mãe e sem aturar as piadas secas do meu pai. Era o meu sonho de criança tornado realidade… (mentira: o meu sonho é conhecer o James Rodriguez e apalpar o cú do Hulk mas isto não sai daqui.) Isto é se me conseguir inscrever no torneio, esperança e vontade não me falta.

Atei o meu cabelo num rabo-de-cavalo, peguei nos meus ténis brancos e no meu telemóvel. “Mãe, pai, vou-me inscrever no torneio, volto mais logo.” Gritei da porta de entrada.

“Vai pela borda, cuidado com os carros!” exclamou com aquela sua voz irritante.

Suspirei. “EU JÁ NÃO TENHO 5 ANOS MÃE.” E com isto bati a porta e andei em direção à junta de freguesia.

As pessoas desta terra são todas umas ‘morre-ao-sol’, parece que passam 24h sobre 24h cansada, é que metade delas estão em casa alapadas a receber o fundo de desemprego sem mexer um dedo, mas enfim é neste pais que vivemos, uns trabalham para manter os outros.

O sol era forte e não corria vento. Senti o meu pobre e já pequeno cérebro derreter, assim como todos os músculos/ossos/órgãos/células/moléculas/átomos do meu corpo (se é que isso é humanamente possível, nunca fui de estar atentar às aulas do Professor Sobral, os testes dele cheiravam tanto a tabaco e a naftalina que eu quase que morria intoxicada.) Apressei o passo e agradeci a todos os santos padroeiros da terra - que não faço a mínima quantos são mas pela quantidade de festas que aqui há devem ser muitos - quando vi o velho edifício onde se situava a junta de freguesia.

Para minha admiração fui a primeira a chegar, pensei que ia estar uma fila maior que os pelos do buço da minha vizinha, mas afinal não. É bom quando me engano, sou sempre pessimista. Entrei numa divisão branca, com as paredes todas rachadas e com a tinta a descascar-se. Havia apenas uma pequena secretária de madeira onde estava sentado um homem careca de óculos de sol. Parece que o ‘swag’ já atingiu a meia-idade, é caso para começar a propagar medidas de prevenção contra esta contaminação, daqui a nada o meu avô anda com uma camisola da ‘obey’ e com um ‘cap’ da ‘monster energy’. Temos de parar esta bactéria quando ainda é tempo.

“Posso ajuda-la nalguma coisa?” questionou o senhor.

“Eu vim para me inscrever no torneio de futebol.”

Gargalhadas. Gargalhadas. Gargalhadas em todo o lado. “Desculpe? A m-menina está a falar a s-sério?” gaguejou de tanto rir.

Cruzei os braços e semicerrei os olhos. “Porque não haveria de estar?”

E lá começaram outra vez as gargalhadas irritantes, mais cinco minutos e atiro-me para cima deste abutre e só saiu quando ele deixar de respirar. Detesto este gajos.

“Não deves ter lido o regulamento, mas é só para rapazes.” Informou ainda com uma expressão de gozo no rosto.

“Eu li o regulamente sim senhora!” falei de forma brusca. “Eu tenho todas as competências à exceção de não ser um rapaz, mas para que é que isso interessa?!”

“Todas as competências?” riu-se. “Se tu souberes dar um chuto na bola é muito. Isto aqui é para quem sabe jogar, não é para miúdas.”

Pronto, se este estúpido tivesse ficado com a boca fechada era mais inteligente. Tocou no meu ponto fraco, ele subestimou-me. Nunca, mas nunca, subestimei uma rapariga como eu, se não, irão sofrer as consequências.

“Seu grandessíssimo filho de uma…” trinquei a língua numa tentativa de me impedir de completar a frase. “Eu quero falar com o organizador disto!”

“O próprio.” Declarou uma voz grossa por detrás de mim. Virei-me e deparei-me com um homem alto e musculado, deve ser professor de fitness ou até um personal trainer. Com um corpo daqueles, até eu começava a ir ao ginásio só pra ter aulas com esta beleza.

“Importas-te de dizer a esta pirralha que o torneio é só para rapazes?” interrogou o careca. Maldito sejas.

Ele sentou-se na cadeira vazia que estava ao lado do careca-maldito-filho-de-uma-gradíssima-puta e deixou escapar um sorriso charmoso. “Como é que te chamas boneca?”

Boneca? Pronto, fudeu o charme todo.

“Margarida.” Respondi de forma seca. É que detesto o meu nome, detesto mesmo o meu nome, é que pronto eu detesto o meu nome… já disse que detesto o meu nome?!

“Então tu queres inscrever-te no torneio?”

Não. Eu só estou aqui porque vim fazer publicidade à secção de congelados do Pingo Doce. “O que é que lhe parece?” revirei os olhos.

“Tem nome de flor, mas não age como uma.” Riu-se sozinho com o seu trocadilho. “É o seguinte querida, este torneio foi feito exclusivamente para rapazes, se abrir uma exceção para ti, terei de abrir uma exceção para todas as raparigas que quiserem entrar.”

“Pense comigo.” Pedi. “Você acha mesmo que num espaço de 5 km vai encontrar uma rapariga que goste de jogar futebol e se queira inscrever?! Não! Eu sou edição limitada, não há mais nenhuma miúda que queria frequentar o torneio, elas estão demasiado preocupadas a limar as unhas.” Verdade verdadinha.

Ele encostou-se à sua cadeira, massajando o seu queixo como se tivesse a refletir sobre o que eu tivera dito. “Desde dos 12 anos que espero por este dia! Eu quero muito ir! Nem que tenha que me mascarar de rapaz, eu quero mesmo isto.”

Um momento de silêncio invadiu a divisão. Quando as pessoas não falam ou estão a tentar arranjar uma desculpa, ou são parvas e de raciocinio lento. Há de tudo neste mundo. Finalmente o jeitoso falou: “Okay Margarida. Fazemos assim: eu deixo-te fazer a inscrição e vais connosco para o torneio.” Informou o musculado fazendo o meu coração acelerar de felicidade.

“O quê?" perguntou indignado. "Mas ela é uma miúda!” protestou o outro.

“Cala a boca careca, deixa-o acabar!” rosnei. “O que estava a dizer?” voltei a focar-me no outro.

“Caso eu veja que não tens as competências para lá estar, vens embora. Não podes gerar conflitos com os outros, e ao mínimo desrespeito das regras és expulsa. Estou a ser benevolente contigo, mas a minha bondade tem limites.” Terminou com um ar mais sério, mas eu só conseguia sorrir, até já me doíam as bochechas. “Então, temos acordo?”

Quase a vomitar arco-íris respondi: “Onde é que eu assino?”

E foi assim meus caros, que eu, Margarida Teles Mangas Jumenta, consegui entrar num torneio masculino.

Paraíso aqui vou eu. 

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Oi povo, como vão?

Primeiro capítulo assim um pouco seco, mas coiso e tal. Estou bastante feliz o McDonald’s da minha rica/maravilhosa cidade foi denominado o mais bonito do mundo. ‘BIBA AO PORTO CARAGO!’

Deixem aí a vossa opinião sobre esta miúda avariada, sobre o careca , ou até mesmo sobre o sr. Músculos. Como quiserem. Vejo-vos em breve avariados.

p.s - alguém aqui sabe fazer capas para fanfics? é que eu não tenho habilidade nenhuma xD

Beijinhos e abraços a todos. 

Footballer ||h.s||Where stories live. Discover now