1. "Sonho pouco provável"

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     O cheiro do capim molhado e da madeira úmida daquela manhã chuvosa me fazia viajar, enquanto eu observava os pingos caindo pela janela da cozinha.

   Os céus choravam minhas derrotas.

   — Tome o seu café rápido e vá ajudar o seu pai lá fora, ele está separando uns arranjos de flores para levar para Astol City — disse minha mãe me despertando.

   — Hoje é o meu primeiro dia de férias. Por que não posso apenas ficar no meu quarto?

   — Não reclame, Hoseok, você sabe como as coisas estão difíceis por aqui.

   — Sim... eu sei.

   As coisas estavam realmente difíceis para nós nos últimos dias. Minha mãe foi mandada embora de seu trabalho porque a empresa faliu, e agora só vivemos pelo trabalho do meu pai, que é transportar coisas. E também conseguimos alguns trocados vendendo arranjos das flores que cultivamos em nosso quintal. Sempre que estou livre ajudo meu pai nas encomendas.

   Não faz muito tempo que nos mudamos para nossa pequena casa. Meu irmão mais velho se casou e mudou-se para os Estados Unidos para trabalhar por lá, ele nos envia um pouco de dinheiro todo mês e isso ajuda muito, ele diz que está trabalhando bastante para levar todos nós para morar nos Estados Unidos também, mas meus pais sabem que isso não vai ser possível tão cedo.

∘◦ ☆ ◦∘


   — Pronto filho, esses foram os últimos arranjos, já podemos ir — disse meu pai fechando as portas de trás da caminhonete.

   — Eu escolho a música!

   Saí correndo para dentro da caminhonete e sentei no banco do passageiro.

   Meu pai e eu gostavamos muito de sair juntos para fazer as entregas porque a gente se divertia escutando músicas durante o caminho inteiro.

   — Pai, essas flores são para decorar algum evento?

   — Uma festa de aniversário. Das grandes. — respondeu meu pai, sem tirar os olhos da estrada.

   — Isso me fez lembrar do meu aniversário de sete anos, — ri ao recordar — eu demorei demais fazendo o meu pedido e Jaehyuk assoprou a vela.

   Eu nunca vou me esquecer desse dia. Fiquei de cara fechada o resto da festa inteira.

   — Seu irmão estava apressado para comer o bolo que a sua tia fez, o bolo de chocolate dela é o melhor, você sabe.

   — Ah, e como sei! Aliás, por que eles encomendaram as flores de um lugar tão longe?

   — Também não entendi, mas eles imploraram que a gente fizesse as entregas e elogiaram muito nossas flores. Acho que a sua ideia de criar uma rede social para o nosso negócio caiu muito bem.

   Continuamos o resto do trajeto relembrando algumas histórias engraçadas e rindo delas, até que finalmente chegamos em Astol City, uma cidade pequena e rica onde mora toda uma elite. A cidade fica à quase duas horas de distância de onde moramos, mas nem percebi o tempo passar.

   — Filho, me ajuda com as flores — pediu meu pai, já saindo da caminhonete.

   — Pode deixar.

   Fui logo atrás, esfregando minhas mãos uma na outra na tentativa de esquentá-las.

   A chuva havia passado e um vento frio tomava conta do tempo. Puxei a touca do moletom e a joguei sob minha cabeça, enquanto pensava aliviado em como foi uma ótima ideia não ter vindo apenas de camiseta.

   Após tirarmos alguns vasos de flores da caminhonete, parei para observar o salão de festas luxuoso no qual estávamos prestes a entrar. O longo tapete vermelho estendido desde a calçada até a porta do salão fazia eu me sentir na entrada do Oscar, ou em uma daquelas premiere de filmes. Era incrível. A entrada estava bastante iluminada, e com o nome "Kim SaeJoon" piscando logo acima da bela porta de vidro. Hm, então esse era o aniversariante riquíssimo?

   — Filho?

   Meu pai me acordou.

   — Ah... nós vamos levar lá dentro ou eles virão buscar aqui?

   No momento em que perguntei, três homens, que aparentemente também estavam trabalhando na organização da festa, foram até nós.

   — Você é o entregador das flores, certo? Nós vamos levar os arranjos para dentro — falou um dos homens.

   — O seu pagamento — o outro homem estendeu um envelope branco para o meu pai, que o pegou — Muito obrigado pelo seu serviço, as flores estão muito bonitas.

   — Muito obrigado — respondeu meu pai, sem conseguir esconder o orgulho que sentia de sí mesmo por deixar mais clientes satisfeitos.

   — Nossa, você me lembra demais uma pessoa! — o mesmo homem me lançou olhares curiosos — Se eu não tivesse acabado de ver o senhor Saejoon lá dentro, eu com certeza confundiria você com ele.

   Sorri com o comentário, pois não é todo dia que sou comparado com gente rica. Observei na entrada do salão uma mulher, aparentemente jovem, que me olhava fixamente sem nem tentar disfarçar. Seu cabelo estava preso em um coque bem feito, acompanhado de um belo terno feminino preto, e ela segurava alguns papéis.

   Acenei com a mão mas ela apenas deu as costas e entrou. Não entendi absolutamente nada.

   Os dois homens levaram os arranjos de flores para dentro e meu pai e eu voltamos para a caminhonete. Fiquei triste por não ter entrado lá. Quando é que vou ter mais uma chance de entrar em um lugar assim? Nunca.

15 dias de fama・yoonseokOnde histórias criam vida. Descubra agora