onze.

12.6K 1.2K 685
                                    

Já eram seis e trinta minutos da manhã quando entrei no colégio. Tinham algumas pessoas em grupo a conversar e outras a andar em direção às suas respectivas salas assim como eu deveria estar a fazer, mas  gostava de chegar cedo para ir à biblioteca e ler um pouco enquanto esperava pelo momento em que a aula iria começar. Entretanto, esse não era o motivo real . O problema era que se eu chegasse tarde o colégio estaria cheio o suficiente para ter vários estudantes a encarar-me como se eu fosse um ser de outro mundo e soltassem piadas de mau gosto.
E eu não era uma garota que aceitava ser tratada como um brinquedo de tortura a todo o
período. Sempre tinha um momento em que a única cor que conseguia ver era vermelho e rebatia as provocações — apesar de serem raras as vezes.

A maioria dos alunos eram ricos. E o facto de terem tanto dinheiro os fazia se acharam melhores pessoas que os outros. Eu só estudava ali porque havia conseguido uma bolsa de estudo. Esforcei-me muito para conseguir, uma vez que Colombus High School era uma das melhores escolas da cidade. E por possuir esse título era bastante rigorosa. E se eu saísse por aí socando quem me rebaixava e chamava de órfã nojenta pelas costas seria expulsa da escola — o que eu queria evitar — por isso ficava na minha e engolia a minha raiva. Como a garota coerente que sou.

Quando entrei na biblioteca a mulher mal-humorada chamada Sra. Pheobe lançou-me um olhar sério e de poucos amigos. Ela não ia com a cara de ninguém e bastava você dar um espirro para ela usar isso como uma desculpa para lhe mandar embora da biblioteca. A mulher a alguns metros de distância de mim era obcecada por silêncio .

Sentei-me na cadeira que sentava frequentemente e tirei da minha mochila o caderno de matemática. Apesar de esforçar-me ao máximo para tirar boa nota em todas disciplinas a que mais me dava dor de cabeça era essa. Eu odiava matemática e quando terminasse de estudar escolheria uma profissão que não envolvesse muito dessa matéria. Talvez comunicação social ou direito. Eu ainda estava indecisa sobre que carreira seguir. Nunca parei para pensar sobre o que gostaria de fazer daqui para frente. Só queria ter um emprego estável.

— Esse lugar está ocupado?

Desviei o olhar do caderno  aberto em cima da mesa para o rosto de um rapaz. Ele vestia o uniforme da escola que estava levemente abarrotado e as mangas da camisa dobradas até o cotovelo me dando a visão de algumas tatuagens espalhadas pelo seu braço. Estretei os olhos na sua direção porque não era assim que a maioria dos garotos dessa escola vestiam. Todos, sem exceção alguma, usavam o uniforme completo. E se queriam bancar os rebeldes o máximo que podiam fazer era deixarem os primeiros botões da camisa, abertos.

Eles não vestiam assim porque queriam. As regras da escola é que eram brutas e severas. E se você ousasse passar por cima era expulso. E depois disso, uma outra escola em Colombus dificilmente aceitaria alguém que foi expulso de uma das melhores. Nas cabeças dos diretores, era sempre bom evitar pessoas corrompidas porque poderiam puxar outros para o mesmo caminho.

Um pensamento estranho, eu sei, mas é assim que a mente deles funciona.

Voltei para a realidade quando ele pigarreou, devido ao meu silêncio.

— Não — finalmente respondi, ainda a encarar o seu perfil sem pudor algum.

Ele sorriu para mim antes de puxar a cadeira ao meu lado para trás e sentar-se.
O seu perfume invadiu o meu espaço quando ele colocou a sua mochila em cima da mesa.

Aquele rosto e cheiro não me eram estranhos. Sentia que o conhecia de algum lugar, mas de onde?

— Sou o cara que estava largado no meio do corredor naquela festa que aconteceu na semana retrasada — chamou a minha atenção a acabar com todas as minhas dúvidas.

NeutroOnde as histórias ganham vida. Descobre agora