Chapter XIII

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Episode: Alice - Avril Lavigne

Na manhã seguinte, Tomlinson sentiu-se estranho com a claridade. Acostumado a descansar esprimido dentro do armário, no breu, não pôde ignorar a diferença de estar esticado sobre uma superfície minimamente macia e quente, com o ambiente iluminado fazendo suas pálpebras tremelicarem.

Esta não foi a única mudança percebida, no entanto.
Havia uma matéria energética transmitindo um calor corporal na parte de trás da sua cabeça, que, quando mais consciente e situado de volta à vida, Louis desprendeu pertencer à mão de Harry que o fazia um carinho suave, transpassando seus longos e magros dedos entre os fios acastanhados do menor.

Ele ainda era tão genuíno.
Tão benevolente e inocente.

Esse era o grande medo materializado de Louis. Porque esta calmaria do mais novo era uma prévia da tempestade que se formava.
Sua doçura, sua suavidade, seriam avidamente arrancadas assim que o restante das drogas fossem perdendo o efeito no organismo, assim que os sete anos consumindo alucinógenos tivessem enfim uma interrupção.

Interrupção.
Quão vadia não era essa palavra agora?

O mundo deles era uma constante interrupção. De sonhos. De planos. De equilíbrio.

Tommo torcia com toda sua fé restante para que Harry não se voltasse contra ele quando a realidade começasse atingi-lo, quando a fantasia perdesse a cor e ele finalmente visualizasse quão cinza estava a versão real de sua existência.

Porque no fim das contas, ainda que na pior das considerações, o LSD era o melhor refúgio da dor. E Louis estava destruindo seu abrigo, destruindo as muralhas, pedindo - implorando - que Styles largasse o País das Maravilhas e aceitasse a tempestade.

Aceitasse os trovões.
Os vendavais.
A fúria dos relâmpagos.
A destruição deste tornado.

Porque somente permitindo-se afundar na dor, sufocar-se por dentro... ele conseguiria sair dela.
Algumas feridas precisam ser reabertas para enfim se cicatrizarem.

E a de Harry não era um pequeno corte, um rasgo vertical ou sequer uma fratura exposta.
A dele era uma amputação completa, após tirarem partes do seu corpo, removerem ossos e sonhos, e... não teria volta. Não cicatrizaria porque... os membros foram arrancados permanentemente.

Ele teria que reaprender a ser.

Ele teria que - por escolha própria - andar para debaixo do temporal.
Incorporar a tempestade.
Afogar-se no dilúvio.

Até que eventualmente isso se tornasse chuviscos.
Até que o vento se amenizasse para brisas.
E o barulho não o ensurdecesse, tampouco que o silêncio o fizesse solitário.

Louis entendia que a chuva nunca iria parar.
Os gotejos - em forma de traumas, dores e arranhões - estariam ali para sempre, molhando suas epidermes e encharcando suas roupas quentes, conduzindo-os para um frio eterno.

No entanto... no entanto.... mesmo com ela, com a garoa persistente e intermitente, Louis esperava que o sol viesse, que em algum instante o sol também aparecesse.

E ainda que suas vidas estivessem fadadas à chuva, também haveria o sol.
E com sorte, os arco-íris.

Afinal, não é esse o padrão para todos nós?

***

A primeira marmita reservada para aquele dia era arroz com ervilhas e frango. Infelizmente gelado. E infelizmente uma porção única e modesta que o loiro sem hesitar compartilhou com o menor.

Eles comeram na mesa do chá.

Harry ofereceu garfadas para Zayn e Liam (que haviam sido postos delicadamente próximos dos pratos), enquanto Louis tentava não sentir aperto no peito para a noção de que aquilo estava prestes a acabar.

Harry in Wonderland  [❀ls fanfiction ❀]Where stories live. Discover now