Entrada XII

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Senta que lá vem história...

Vamos começar logo com a manchete: fiz meu primeiro programa.

É. Já. Rápido assim. Semana passada eu estava naquele dilema moral (ainda estou), levantando os prós e os contras de se fazer programa, considerando, especialmente, o fato de que eu teria que me envolver sexualmente com caras, coisa que eu nunca tive vontade de fazer, e, por fim, resolvi que isso haveria de ser apenas um detalhe e que eu não seria assim tão seletivo, afinal tempo é dinheiro e os dois estão curtos pra mim. Não custaria nada tentar e arriscar. Concordei comigo mesmo, então, que faria um programa em caráter experimental. Um só; só pra ver como eu me sentiria e como eu me sairia.

Decidido isso, comecei a providenciar os detalhes e os meios que eu usaria pra me divulgar. A primeira coisa foi o nome. Fiquei pensando em alguma coisa sexy, mas tudo que me vinha à cabeça soava um tanto patético. Daí voltei a pensar no meu próprio nome: Daniel Braga Vicentin. E foi aí que tive a ideia: Vincent! Muito mais legal do que Daniel e muito mais enigmático que... sei lá. Eu gostei. E as pessoas de modo geral também adoram essas coisas americanizadas, então foi a combinação perfeita. Vincent. Sem sobrenome nem nada, só Vincent, pra manter o efeito

Depois disso, tratei de criar o meu perfil na internet. Dos três perfis que eu vi daqui de Taigo, só um deles mostrava o rosto. Como eu não sou “assumido” nesse ramo e tava só fazendo um teste, achei melhor manter o rosto fora da jogada. Tirei umas fotos minhas de cueca, do pescoço pra baixo, e constatei que preciso voltar pra academia: meu tanquinho está praticamente sumido. Também fiz umas medições e descobri que meu bem precioso está 3,7cm acima da média nacional, o que me deixou bastante satisfeito (é claro que não se compara a uns e outros que vi pela internet, mas não tenho o que reclamar dele, afinal ele só me trouxe alegrias até hoje). Tirei as fotos, coloquei num banco de imagens, criei um blog com informações bem mínimas e deixei quieto lá, junto com as fotos. No dia seguinte, fui à cidade, comprei um chip de outra operadora e coloquei num daqueles celulares antigos, que a bateria dura uma semana, sabe? Melhor não misturar as coisas e deixar um número só pra esses assuntos de “negócios”.

Depois, fui ao jornal (morrendo de vergonha) e coloquei o anúncio pra ficar dois dias.

[Vincent: Garoto de programa. 21 anos, boa forma, atendo todos os públicos. Telefone]

“Atendo todos os públicos” foi o melhor que consegui pensar; não me julgue. Coloquei o anúncio e ele seria publicado nos dois próximos dias. Enquanto ainda não saía no jornal, fiquei acertando mais alguns detalhes mentalmente: estou aqui na casa do Bruno (já falei que aceitei a proposta dele de morarmos juntos?), mas não vou trazer clientes pra cá, primeiro porque acho perigoso, segundo porque acho falta de respeito com ele e terceiro porque ele não pode saber que eu tô mexendo com essas coisas. Daí eu me lembrei de que, a algumas ruas daqui, ali perto da Praça da Independência, tem umas partes em que ficam umas garotas de programa de vez em quando. Como já é um pedaço tradicional, de fácil acesso e perto daqui de casa, resolvi fazer meu ponto de encontro por ali mesmo, na Abraão Mesquita, perto da madeireira. Ainda não sei se vou ficar lá parado que nem as garotas de programa geralmente fazem ou se ali vai ser só meu ponto de encontro, ou as duas coisas. Depois penso sobre isso.

Em seguida, criei uma planilha no Excel pra organizar meus preços. Depois cheguei à conclusão de que fazer isso seria inútil, porque os serviços não seriam muitos: se for cliente mulher, faço o que tiver que fazer; normal. Se for homem, faço o ativo e deixo o cara me chupar. Tá bom, né? Programa de até duas horas. 100 pilas. Se quiser fazer esquisitices (nada que me ponha em contato com coisas que saiam do corpo humano, porque aí pode ser a Scarlett Johansson que eu broxo), mais 50. Se não quiser sexo, 70 a hora (ouvi falar que tem gente que contrata garotos só pra acompanhar em festas, jantares, essas coisas... Vai que aparece alguém assim, né? A gente tem que se dispor a tudo). Local do programa, a critério do freguês. Sigilo total e absoluto (viu, caderno? Sigilo! Hehe). Salvei essas informações e decorei os valores.

Vincent (romance gay)Where stories live. Discover now