Entrada XLI

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Aeee! É hoje!

Bom diaaa! E aí, amiguinho? Tudo bem? Tô passando aqui neste momento, às 10h da manhã, pra informá-lo de que não apenas tudo deu certo, mas também que estamos saindo de viagem daqui a pouquinho. Estamos eu e o Bruno esperando o Paulo aqui em casa. Vamos com ele e o Felipe vai de moto; a gente vai encontrá-lo na casa dele pra pegar as malas e colocar no carro do Paulo e, de lá, vamos pra Atma (eu insisti que fôssemos todos os três no carro do Paulo, mas o Felipe teimou e quis ir de moto). A viagem não é longa, a gente chega a tempo de fazer alguma coisa durante a tarde. Ah, é, a Analice desistiu. Terminou com o namorado e tá sem clima pra ir viajar, por mais que o Bruno tenha insistido. Não sei se gostei muito disso, porque agora acho que o Bruno vai ficar meio desacompanhado. Ele e o Paulo devem ter conversado umas duas ou três vezes até hoje, não sei como estão as coisas entre ele e o Felipe e eu vou ficar muito dividido entre o Paulo, de quem eu adoro estar perto, e o Felipe, de quem eu adoro estar dentro, com o perdão do trocadilho pobre mas inevitável.

O Paulo chegou!!! Vou te desligar aqui, tá? Nos falamos de novo antes de dormir. Até à noite!

*****

Oi de novo!

Chegamos, todos sãos e salvos. A viagem foi tranquila, sem grandes emoções. O Felipe se atrasou uns minutos, como sempre, mas nada de mais. A estrada pra Atma é boa, a paisagem é bonita também, tudo na paz de Jah. Chegando aqui, a primeira coisa que a gente fez foi almoçar. Como o Paulo conhece a cidade melhor do que nós, ele sugeriu o restaurante. Fomos num especializado em frutos do mar. Comi uma lagosta que deve ter sido uma das melhores coisas da minha vida. O restaurante ficava na própria praia, era muito da hora! A gente olhava pro lado e via o mar e aquela gente toda andando pela areia. Tava movimentada a praia. Acho que todo mundo teve essa ideia inédita de vir passar uns dias de férias no litoral. Mas eu não me importo, não; é bom ver as pessoas e ficar reparando, hehe.

Depois do almoço, fomos conhecer a casa do Paulo e nos instalar. Andamos de carro por uns quinze minutos até chegarmos. Cidade litorânea é um negócio engraçado: pra qualquer lado que você olha, tem mar. A casa dele é muito da hora, e é bem perto de outra parte, menos movimentada, da praia aqui. Colocamos nossas malas na sala e fomos fazer a divisão dos quartos. No quarto do Paulo tem a cama dele de casal; no quarto de hóspedes tem uma cama de solteiro com colchão e um colchão de solteiro sem cama; no quartinho tem dois colchonetes e o sofá da sala é perfeitamente dormível. Daí o Paulo falou que não queria ninguém dormindo no sofá e que poderia dividir a cama dele com quem se candidatasse. Eu me disporia a isso, por ser mais próximo a ele do que o Bruno ou o Felipe, mas logo pensei que, ficando com ele, Bruno e Felipe teriam que dividir o outro quatro, e isso eu achei meio chato. “Eu posso ficar com o Felipe no quarto de hóspedes, se vocês não se importarem de dividir a cama...”, falei pra ele e pro Bruno. Eles se entreolharam e deram de ombros. “Eu não me importo”, disseram os dois usando palavras diferentes. Isso significava eu e o Felipe no mesmo quarto, o que me soou bastante excitante, embora, é óbvio, a gente não fosse transar na casa do Paulo (tá bom, não sei se é tão óbvio assim). Decidido isso, fomos organizar as malas nos quartos. Felipe foi na minha frente e logo anunciou que quem dormiria no colchão seria eu. Dei um tapa na nuca dele e ele me deu um na bunda, seguido do já característico sorriso lerdo. Moleque safado, viu?! Mas acho que nosso cio deu uma maneirada. É claro que eu ainda comeria ele em qualquer lugar a qualquer momento sempre que ele quisesse, mas, pelo menos nessas primeiras horas de convivência, isso tava controlado.

Fui até o quarto do Paulo ver se estava tudo bem (?) e parecia que sim. Ele e o Bruno estavam conversando muito animadamente sobre alguma série de TV que os dois assistem e acho que isso me deixou mais tranquilo em relação à estadia deles juntos no quarto. O Paulo é fácil de lidar; é fácil fazer amizade com ele, e, ao contrário (um pouco) do Bruno, gosta de conversar. Acho que os dois vão se dar bem. “Puts, meu!”, Felipe entrou no quarto coçando a cabeça, “esqueci de trazer minha prancha!”. Eu nem pensei nisso porque nunca me interessei por surf, já que em Taigo não tem praia. “Não, relaxa, eu tenho uma de reserva”, Paulo respondeu e eu meio que me surpreendi. “Ué, você surfa?”, perguntei. “Claro!”. Bom, claro não era, mas achei curioso. Daí eles ficaram falando sobre prancha, sobre o mar de Atma, sobre ondas, sobre não sei mais o que e eu e o Bruno ficamos boiando — olha como meus trocadilhos estão perfeitos hoje. Bruno e eu fomos pra sala. “Tá tudo bem?”, perguntei por perguntar. “Tá, ué. Por quê?”. “Não sei... Com o Felipe aqui, você no quarto com o Paulo...”. “Eu gosto do Paulo, e eu e o Felipe fizemos as pazes já faz um tempo”. Eu não sabia disso; nenhum dos dois comentou nada comigo... Mas foi muito bom ficar sabendo. Às vezes eu acho que me preocupo demais com o Bruno, ou com coisas que eu, na minha imaginação, acho que vão chateá-lo ou algo assim. E, pensando bem, desde aquele dia da festa na casa da Analice o Bruno já demonstrava não estar muito preocupado com a existência do Felipe... Aliás, o Bruno é coração mole; de todo jeito acabaria perdoando o Felipe, cedo ou tarde. Que bom que foi cedo.

Pois bem. Depois que nos acomodamos, me deu uma preguiça lascada e eu sugeri que ficássemos em casa pra tirar um cochilo. Tínhamos todos acordado “cedo” por causa da viagem e eu não dormira minhas sagradas nove horas de ontem pra hoje. Para minha surpresa, ninguém se opôs à ideia. Paulo disse que, já que íamos todos ficar em casa dormindo, ele iria ao mercado comprar comida pra hoje e amanhã pelo menos. Ninguém se incomodou.

E foi. Agora veja só: Paulo no mercado. Eu, Felipe e Bruno e a casa vazia por pelo menos uma hora... Dá pra imaginar o que aconteceu, né?... Não dá? Tudo bem, eu conto.

Fomos nós três dormir, é claro. Naquele silêncio, sentindo aquela brisa que entrava pela janela aberta da frente, tendo todos dormido menos do que o de costume de ontem pra hoje... É lógico que fomos terminar o sono interrompido da noite. Eu me instalei na cama “do Felipe”, Bruno na do Paulo e o Felipe capotou no sofá mesmo. Dormimos feito uns anjinhos. Eu fui o último a acordar e acordei por causa do calor, porque tinha esquecido de ligar o ventilador. Levantei e estavam todos na cozinha tomando café. Eram pouco menos de cinco da tarde. “Cê dorme, hein, fi?”. O Felipe conversando é uma coisa adorável. Juntei-me a eles à mesa do café e começamos a planejar o que faremos nos próximos dias. Paulo disse que tem um quiosque GLS aqui perto que é legal. Ainda não sei se quero conhecer. Ficou combinado por certo de a gente ir à praia amanhã surfar e nadar e ir passear à toa durante o resto do dia, até porque em cidade litorânea não tem muito mais o que fazer além de ficar torrando no sol da praia, coisa da qual eu não estou muito a fim.

Enfim, o dia hoje foi, basicamente, comer. Comemos quando chegamos, comemos depois que acordamos, comemos antes de vir pra cama... Depois do pôr do sol, fomos caminhar na orla da praia. Caminhar, porque eu sou bastante sedentário e, se eu correr, sei que acordo todo cheio de dores depois. A cidade aqui é bem bonita. As paredes de alguns prédios que ficam mais perto da praia parecem ser cobertas por azulejo em vez de reboco. Será por quê? Passamos perto do tal quiosque GLS e o lugar me pareceu tranquilo. Nem todo mundo parecia gay, contudo. Esses que não pareciam deviam ser a parcela S do GLS. E, olha, o Paulo dá audiência, viu? Teve uma hora que ele tirou a camiseta e a maioria dos veadinhos ficou olhando descaradamente. E ele se sentia o máximo, é claro. Paulo gosta de confete, já percebi (mas quem não gosta, né?). Sei que achei a praia bem bonita e bem cuidada; não tinha sujeira na areia nem cachorro perdido zanzando e obrando pra lá e pra cá. Quando começou a escurecer, voltamos pra casa, jantamos, assistimos “Corra, Lola, Corra!” e agora eu tô aqui no quarto escrevendo enquanto o Felipe joga Call of Duty no PC dele.

Amanhã é dia de ir surfar. Eu vou só nadar mesmo; não quero mexer com surf, não. Devo voltar amanhã pra falar sobre isso, depois dou um tempinho pra curtir as coisas aqui no mundo real e volto com o boletim informativo, tá bom? Aí você aproveita e tira um descanso de mim também, hehe. Se cuida, amiguinho. Um beijo no cyber-coração. Até amanhã!

Vincent (romance gay)Where stories live. Discover now