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Má?

Com os olhos ardendo Iani correu a esmo pelo labirinto esbarrando por algumas vezes nos espinhos que cortavam sua pele. Ela só queria ir para longe, o mais longe possível de Clycia e das outras mulheres. O sentimento de humilhação apertava seu peito junto da sensação de vazio, e aquilo doía bem mais do que os arranhões no seu braço. 

—Senhora?

Com o turbilhão de pensamentos Iani não percebeu que havia voltado para o palácio. A enorme construção parecia estar olhando-a de cima, fazendo com que se sentisse ainda menor naquele mundo estranho.

—Está tudo bem?

A menininha de mais cedo estava parada perto do poço, os olhos assustados encarando as linhas vermelhas no braço da bela mulher. 

—Ah, oi Mary... 

Iani virou o rosto para enxugar as lagrimas, não queria que ninguém a vissem naquele estado.

—Está tudo bem sim.

A garotinha continuou encarando os arranhões.

—Não deveria estar no almoço?

Iani limpou mais algumas lagrimas que insistiam cair dos seus olhos pouco antes de respirar fundo. Ela não poderia desabafar um assunto como aquele com uma criança. 

—Já terminei de comer e resolvi dar uma volta, e você, o que está fazendo?

A garotinha ficou em silencio pensando seriamente se deveria prolongar a conversa.

—Estou pegando água no poço...

As mãozinhas sujas de terra seguravam uma corda áspera com um balde na ponta. Sem pensar duas vezes Iani se aproximou tomando gentilmente o objeto da sua mão.

—O que está fazendo senhora?

—Te ajudando.

—N.não precisa! Vai sujar seu vestido!

Iani sorriu.

—Não tem problema Mary, fiz isso minha vida inteira, e sei que o balde é pesado de mais para uma criança puxar.

Sem saber o que fazer a garotinha apenas encarou assustada aquela nobre descer o balde até o fundo do poço puxando-o de volta logo em seguida com uma facilidade espantosa. Definitivamente ela não mentiu quando disse que fez aquilo a vida inteira.

—Prontinho, onde você tem que levar?

—Para a cozinha, mas eu posso fazer isso!

Iani mal teve tempo de se oferecer quando Mary tirou apressada o balde das suas mãos. 

—Tem certeza? Isso não é problema para mim.

—Tenho sim...

A garotinha se sentia muito grata por alguém tê-la ajudado, mas temia que sua senhora aparecesse por ali, afinal, aquilo era o seu trabalho e não o de uma nobre.

—Muito obrigada pela ajuda senhora...

—Por favor me chame de Iani.

—B.bom, muito obrigada Iani.

Mary já estava se afastando quando olhou mais uma vez para a mulher parada ao lado do poço. Os olhos miúdos encarando as linhas vermelhas na pele alva da humana.

—Tem alguns emplastros na cozinha...

Iani percebeu que a garotinha encarava seu braço.

—Vêm, vou mostrar onde fica.

Lobos na floresta | Livro 1 (Repostando)Onde histórias criam vida. Descubra agora