29. Imagem indefinida

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Ela se perguntava quem era a pessoa à sua frente. Será que, de repente, onde visse a foto dele, a imagem agora apareceria indefinida?

Mori se afastou do altar, andando até o meio da sala com os braços apertados contra o ventre e as mãos agarradas nos cantos da cintura, como se temesse a possibilidade delirante de sair do próprio corpo. Precisava de um tempo sozinha e até considerou sair daquele lugar... ou se tornaria cúmplice em um plano estúpido que decerto acabaria com a vida de alguém — e viveria com isso cutucando sua consciência.

Ao que parecia, Low não estava pensando direito — doutor Crow tinha razão, ele só podia ser paranoico. Se fosse esse o caso, mesmo, então ela definitivamente não deveria ceder ao pedido, para o próprio bem dele. Pensou em como Low agiu momentos atrás, mexendo no corpo do biólogo com tanta tranquilidade e frieza, como se o tio fosse um desconhecido. De repente, percebeu que o aviso que dera a Low servia também ao doutor.

— O seu code! — ela alertou, virando-se na direção do caixão e quase esbarrando em Low, que viera espreitá-la pelas costas. — Precisamos tirá-lo do doutor agora mesmo ou... — Fez menção de correr até o corpo do Dr. Crow, com a intenção de retirar o code ela mesma — ainda que houvesse uma grande chance de que recuasse ao chegar lá —, porém Low a segurou pelo braço.

— Acalme-se — ele ordenou, paciente, enquanto a encarava com o olhar enregelado. — Eu sei o que estou fazendo. Você só precisa cumprir sua promessa e poderá partir imediatamente, antes que os oficiais apareçam.

Mori puxou o braço, todavia ele não a soltou.

— Você não disse que tem o mesmo DNA? — ela questionou, confusa e enfurecendo-se. — Portanto ninguém viria?

— Disse, mas você não acreditou. — Suavizou o aperto, entretanto não estava disposto a deixá-la. — Preciso de uma pequena ajuda sua; para mim, não importa no que queira acreditar. Escolha logo a sua verdade, ainda tenho que ir atrás de um harmínion.

— E se estiver errado? E se isso arruinar a sua vida? — Mori teria de ser a voz da razão, mesmo que temesse o que poderia acontecer a ela quando deixasse claro sua posição. — Não acha que vou me sentir culpada?

Estremeceu quando Low começou a rir.

— Culpada por fazer algo que eu pedi? Não vai me convencer com esse tipo de argumento, aliás, com nenhum argumento. — Acalmando-se, enfim a soltou e abaixou a voz ao prosseguir: — Então veja por outro lado. Se não fizer isso, eu serei um uncoded, porque não aceitarei o meu code de volta... Acredito que isso possa conflitar com algum princípio seu. Considerando que não planeje cumprir a promessa que fez ao pobre doutor Crow, o que acontecerá com a sua consciência quando eu não fizer mais parte da sociedade?

Cruzou os braços e aguardou a resolução dela.

Mori percebeu a intenção dele de brincar com seu psicológico para conseguir o que queria, não se importando com o que ela pensava — no que ela acreditava — contanto que realizasse seu desejo, da mesma forma como no dia em que estavam na chácara de Sílvia e Maurício, quando descobriu que Low não se importava em mentir para ela, ou o que ela sentiria ao descobrir a verdade.

Sentiu-se tentada a fazer a incisão e ir embora de uma vez, dar o que ele queria para poder se ver livre dele. Contudo... conseguiria esquecer a existência de Elliot e fechar os olhos para o futuro de Sara? Porque Low se tornaria tutor da garota; isto é, se estivesse certo... mas e se realmente estivesse certo? Por mais paranoico que fosse, Low não era burro; ele sabia o que estava em jogo e decerto pensara muito sobre isso. Mesmo assim, como ele poderia ter certeza de que daria certo? Teria feito algum tipo de teste antes? Caso contrário, seria uma ideia bastante arriscada.

Lua vermelhaWhere stories live. Discover now