34. Barreira esbranquiçada

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Cobriam a visão do céu, assim como anuviavam seus olhos para que ignorasse a razão. Aceitar tudo fazia parte da mudança que buscava?

Ouviu passos. Mais pesados do que os de Sara... agitados demais para serem de Low... não tinham o alinhamento do Dr. Crow... muito barulhentos para serem de Mori... muito...

— Menino! — uma voz grave e desconhecida chamou.

Abriu os olhos sonolentos e tentou entender a imagem à sua frente. Dormira com os joelhos dobrados e os braços sobre eles, protegendo a cabeça. Viu o pneu de um carro, até um vulto tomar sua atenção ao se agachar.

— Está machucado? — O homem tocou no cotovelo de Elliot, pensando que ele ainda estava adormecido.

Elliot levantou a cabeça e encarou o homem. Ele tinha barba, mas não era o Dr. Crow.

— Ah! — O homem se jogou para trás, machucando as costas ao colidir com o automóvel. — Har-harmínion! — Levantou-se desesperado e tropeçou nos próprios pés ao tentar correr para dentro da casa.

Virando a cabeça para o lado, as pupilas ofídicas de Elliot acompanharam a corrida lenta daquele ser humano. Se descobrissem que ele estava ali... se soubessem de sua localização... Precisava impedir a metamorfose. Precisava encontrar a estimada a irmã.

O homem estava alcançando a porta, no entanto não chegaria a cruzá-la.

Após retornar ao seu quarto na noite anterior, Mori acreditou que seria impossível dormir

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Após retornar ao seu quarto na noite anterior, Mori acreditou que seria impossível dormir. Enganara-se. Não fazia a menor ideia de quando ocorrera — lembrava-se somente do tumulto de pensamentos conturbados insistindo em serem refletidos —, porém em algum momento abrira os olhos e a escuridão havia passado. Pena que em sua mente ela ainda não se dissipara.

Apesar de a chuva ter parado de madrugada, o céu era oprimido por camadas translúcidas e sutis, unidas para dominá-lo por meio de uma única barreira esbranquiçada.

Tomaram um café da manhã rápido no hotel antes de seguirem viagem. Para onde, Mori não questionou. Fazia quase uma hora que estavam no carro e, assim como no dia anterior, o silêncio regia o ambiente. A diferença era que, desta vez, não era Low quem evitava uma conversa, mas ela mesma, porque se sentia uma intrusa que não queria causar ainda mais incômodo do que já causara.

Seus olhos seguiam o caminho pela janela sem assimilarem as imagens. O ambiente dentro do veículo, embora tranquilo, impactara-a pela calmaria convencional demais.

Low escolhera se sentar no banco mais distante de Mori, praticamente colado na porta oposta à outra fileira de assentos, com o painel do automóvel entre eles. Poderiam cruzar olhares com facilidade, se não houvesse uma influência magnética misteriosa repelindo-os.

O que a jovem não aceitava era a normalidade na expressão dele. A maneira pacífica com que assistia à paisagem como faria em qualquer outro dia; o jeito que batia o indicador no braço do banco, segundo o ritmo de uma música clássica que nem estava tocando, como faria em qualquer viagem longa. Era apenas mais um dia.

Lua vermelhaWhere stories live. Discover now