~6 - Adeus, turbulência, blocos e musgo ~

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Hoje era, definitivamente a transição, o início de uma nova fase e o momento do último adeus.

Eu tenho uma veia dramática impressionante.

- Manu! - chama minha mãe entrando no quarto. Ela já está pronta, com um vestido verde repleto de flores brancas, simplesmente lindo, que eu dei a ela no seu aniversário do ano passado. Ela tem os longos cabelos negros presos em um rabo de cavalo e para no batente da porta para se recostar ali.

- Oi mãe! Já íamos descer. - Digo apressada percorrendo o quarto em busca de algo que talvez tenha esquecido de colocar em minha mala.

- já pegaram tudo?

- anh... - verifico mais uma vez em volta. - sim. - coloco a mochila no ombro e Gio pega com certa deficuldade a minha mala.

- Então vamos. Os garotos estão lá embaixo esperando.

- Poxa! Finalmente eles resolveram aparecer heim. - diz Giovana indignada, e não é para menos, eles disseram que chegariam duas horas atrás; já estava ficando desesperada com a possibilidade de ir embora sem me despedir deles.

- ok. Estão vamos. - concordo e vou em direção a porta, as duas descem as escadas mas antes de fechar a porta e segui-las eu dou uma última olhada no meu quarto, as paredes azuis, a cama de solteiro com a colcha florida, a mesma cama que já serviu tantas vezez de esconderijo quando eu e Cat brincávamos de esconde-esconde, o meu abajur dourado, gravo cada detalhe em silêncio.

Me despeço da minha pequena fortaleza. Respiro fundo e tento com todas as forças prestar atenção em cada pequena coisa, para não me esquecer de nada. Como se isso fosse me ajudar de alguma forma, como se as memórias vivas em minha mente fossem manter essa realidade também estável mesmo que eu não estivesse por perto.

Fecho a porta...

~•~

- Achei que vocês não iriam aparecer. - digo aos meus amigos que estão largados no sofá da sala. Ao lado deles minha irmã mais nova está sentada.

- desculpa o atraso, é que nosso amigo aqui dormiu demais. - Vinícius acusa, apontando para o Rafael.

- Ata! - estala Rafael cético - Ele é que dormiu até o último minuto possível. Estava quase subindo para derrubar ele da cama quando esse preguiçoso finalmente apareceu. - rebate Rafael.

- Todas essas acusações são falsas Manu. Você precisa acreditar no seu amigo aqui. - ele aponta o dedo para si mesmo - que no caso sou eu.

- não sei não Vinícius, esses seus olhos vermelhos e inchados de quem acabou de acordar te condenam. - rebato rindo.

- ah! Tudo bem. - ele dá um suspiro resignado - Desculpa tá? É que só consegui pegar no sono pela manhã.

- Ué porque? - minha irmã pergunta curiosa.

- nervosismo pré-viagem, sabem como é, não é?

- Como? Se nem é você que vai viajar? - Pergunta Rafael. Giovana dá risadas ao meu lado.

- Rafael isso é puramente fruto de uma amizade. Você teme pelo seu amigo quando este vai fazer uma viagem, você simplesmente tende a ficar nervoso. Eu fiquei por conta da viagem da Manu. Por isso tive dificuldades para dormir.

- ah! - Rafa cai na gargalhada. - isso tudo para explicar porquê você acordou tarde? Rarara muito engraçadinho você.

- não foi só por isso... ah! Quer saber? Deixa para lá você é um insensível. - acusa.

- chato! - recrimina rafa.

- Ok. Ok. Os dois podem parar com o drama? Temos que ir. - chamo rindo enquanto já estou no meio do caminho até o carro. Viro o rosto a tempo de ver os dois vindo atrás de nós. Mamãe fecha a porta da casa, eu dou uma última espiada na fachada antes de me virar e todos nós entrarmos no carro. Com certo esforço é claro, afinal de contas éramos seis pessoas e meus amigos tinham um corpo bem atlético, admito. Então lá fomos nós razoavelmente amontoados para o aeroporto. Mamãe dirigindo, Cat no banco da frente e eu e meus amigos no banco de trás.

Meu romance imperfeito Where stories live. Discover now