3

6.1K 1K 150
                                    

Marco Martinelli

Maria Eduarda está me olhando desconfiada, ela está dentro do carrinho do supermercado me olhando sem parar, eu fico tão desconfortado com esse olhar dela, puxou isso da minha mãe. Quando eu e meus irmãos éramos pequenos e aprontávamos, ela parecia que tinha um superpoder, pois nos olhava e conseguia fazer com que nós contássemos o que fizemos ou iriamos fazer.

— Vai querer alguma coisa princesa? — pergunto desviando meus olhos dos dela.

— Chocolate, bolacha, balinha fini, sorvete e que você me conte o que aprontou. — é uma cópia da minha mãe.

— Por que você acha que eu aprontei alguma coisa?

— Papai, você está estranho, e não está olhando direito para mim. A vovó me disse que você fazia isso quando aprontava. — ela cruza os braços sobre o peito e me encara emburrada. Obrigado mãe!

— Quando a gente chegar em casa nós conversamos, amor! — ela levanta os braços para que eu a tire de dentro do carrinho. Ela caminha igual uma mocinha para pegar suas besteiras — Não se afasta filha.

Enquanto ela fica escolhendo o que quer levar, eu vou pegar outras coisas no mesmo corredor.

Cereal colorido, cereal de chocolate, nutella, sinto que estou esquecendo alguma coisa.

— Duda, estou esquecendo alguma coisa? — viro-me e não a vejo por perto. — Filha? Maria Eduarda? — começo a me desesperar.

Começo a andar pelos corredores tentando encontra-la, quando escuto uma risadinha conhecida perto das rações, vou ate lá e a vejo brincando com um cachorrinho marrom minúsculo.

— Maria Eduarda o que foi que eu disse sobre não se afastar de mim?

— Mas papai, eu vi esse cachorrinho andando sozinho por ai, fui atrás dele, não podia deixar ele sozinho perdido por ai. — ela o pega no colo e quase enfia o bicho na minha cara. — Olha como é lindo!

— Ele é lindo, mas deve ter um dono que está muito preocupado com ele. — leio o nome na coleira. — O nome dele é pipoca.

— PIPOCA! — uma mulher está chamando por ele. — PIPOCA, CADÊ VOCÊ MEU AMOR?

Ele esperneia nos braços da Duda, consegue se soltar e sai correndo, e a minha filha corre atrás dele. Era só o que me faltava, corro atrás da coisinha cachorro e da coisinha Duda.

De repente alguém tromba comigo, a pessoa cai, mas eu me mantive no mesmo lugar. Eu conheço esse cabelo ruivo.

— Tia Mari! — Duda aparece segurando o cachorro nos braços.

— Oi Duda! — eu a ajudo a se levantar, ela segura uma guia que deve ser do cachorro fujão. — Vejo que você encontrou o pipoca.

— Ele é seu? — ela pergunta.

— Sim! A guia dele quebrou e ele aproveitou e saiu para a liberdade. — ela pega o pipoca no coloco e beija sua minúscula cabeça. — Nunca mais fuja da mamãe, quase me matou do coração!

— Eu que achei! Ele estava correndo! — Duda se pronuncia passando a mão pelo pipoca. Quem coloca o nome de um cachorro de pipoca?

— Muito obrigada, se não fosse por você, eu nunca mais iria encontrar ele. — a professora beija sua testa e ela fica toda convencida.

Parece que eu nem estou presente, estou me sentindo um pouquinho ignorado.

Finjo uma tosse e as duas olham pra mim. Ótimo!

— Tá com a gaiganta dodói papai? — Duda me pergunta.

— Não amor, foi só uma coceirinha! — me viro para a ruiva. — Não sei se lembra de mim, mas sou o Marco pai da Maria Eduarda. — lhe estendo a mão.

— Me lembro sim! Desculpa por ter esbarrado em você. — ela tenta olhar para todos os lados menos pra mim. — Eu sou a Mariana, professora dessa gatinha. — Mariana aperta a bochecha da Duda, logo espero ela lhe de um tapinha na mão ou fazer careta, pois ela odeia que apertem suas bochechas, mas por incrível que pareça, ela sorri. Que estranho!

Meu celular apita, olho para e é uma mensagem da Marisa.

Marisa

Oi grandão, ansiosa pelo jantar! Já vou começar a me arrumar. Bjs.

Ferrou! Estou muito atrasado, ainda tenho que fazer o jantar, arrumar a Eduarda e me arrumar.

— Princesa, a gente tem que ir embora! — olho para a Mariana que está me olhando, mas quando percebe desvia o olhar. — Foi um prazer Mariana! Espero nos encontrar novamente!

— Igualmente! — ela se abaixa e dá um beijo na testa da Duda — Te vejo amanhã.

— Tchau! Tchau pipoca! — Mariana se despede e vai embora.

Pago as compras e vamos para o carro.

— Ela é tão legal, a professora mais legal do mundo, e a mais linda também.

Tenho que concordar, ela é linda, e sei jeitinho meio sem jeito é tão bonitinho.

— Papai, a gente pode chamar a Mari pra jantar em casa, e o pipoca também.

Termino de colocar as compras no carro, a ajeito na cadeirinha.

— Filha, nós já temos companhia para o jantar.

— Quem? — seja o que Deus quiser.

— Uma amiga do papai, ela quer muito conhecer você. — ela não fala mais nada, nós voltamos para casa em silêncio.

Por que estou tendo um pressentimento que esse jantar não vai sair como planejado?

Chegamos em casa, Duda corre para o seu quarto e eu vou começar a preparar o jantar.

DEGUSTAÇÃO - Marco - Irmãos Martinelli #2Onde histórias criam vida. Descubra agora