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17 de setembro de 2018

A whole new world
A dazzling place I never knew
But when I'm way up here
It's crystal clear
That now I'm in a whole new world with you
(A Whole New World – Aladdin)

LAURA:

Fechei a última mala e encarei as ruas de Londres lá fora e ao fundo o meu lugar preferido na cidade cinza: o Big Bang. Foi o primeiro ponto turístico que eu e minha mãe conhecemos quando eu tive idade pra entender o que acontecia ao meu redor, e sempre teria um lugar especial no meu coração e no plano de fundo do meu celular, onde só as coisas boas costumavam ficar.

Seria duro seguir em frente sem ela, mas sair de Londres me pareceu um bom primeiro passo. O céu constantemente nublado sempre me lembraria o quanto ela gostava de dias de chuva, e de suas incríveis criações culinárias nesses dias.

- Ok, mamãe. É minha hora de ir.

Retirei as minhas malas menores, as únicas que levaria comigo em primeiro momento para Madrid, meu novo lar.

Quando decidi deixar Londres, por alguma razão a capital espanhola apareceu em minha mente como primeira opção. Talvez pelo fato da família da minha família materna ser inteiramente espanhola – mas de Salamanca, não de Madrid - ou pelo simples fato de que sempre tive um grande apresso pela cultura castelhana, tanto que optei pelo espanhol como segunda língua no Ensino Médio, enquanto, apesar da rivalidade Reino Unido × França, a maioria das pessoas optava pelo francês. Mas tudo fez sentido quando meu vôo pousou no aeroporto de Madrid- Barajas.

Eu amava a atmosfera madrilenha.

O ritmo de cidade grande com trejeitos de cidade pequena me encantava. A possibilidade de uma vida boêmia e ao mesmo tempo a calma do subúrbio me atraiam. Eu tinha uma fascinação por Madrid, e meu sonho de conhecê-la se realizou quando eu, aos 24 anos, resolvi fixar residência na capital espanhola.

Consegui um emprego como professora em dois turnos numa escola particular no centro de Madrid graças ao meu currículo. Minha formação em Pedagogia pela grande Universidade de Oxford e minha pós graduação em Educação Infantil pela mesma instituição pesavam muito na minha escolha como profissional. E eu sabia que os dois itens tinham me ajudado a conquistar a vaga. Em um turno, pela manhã, eu seria responsável pelos alunos de 5 a 7 anos, na classe de alfabetização. Apaixonada por todas as línguas, em especial o inglês, e aprendendo a ler aos 4 anos, fato que eu considerava uma conquista, eu obviamente não poderia estar mais realizada. Durante o turno da tarde, eu auxiliaria a professora suplente de uma turma de berçário, cuja idade máxima era um ano, enquanto a mínima era cinco meses. Oscilando entre diversas idades e situações, a professora pediu por ajuda e eu fiquei feliz em me oferecer para ajudar – sendo devidamente remunerada por tal atividade, é claro.

Eu estava feliz. Ou quase.

A perda da minha mãe era uma dor ainda constante e muito presente no meu cotidiano. Aos 57 anos, dona Vera Ortega, minha mãe, falecera em decorrência da doença física do século: o câncer. Na minha mãe, ele se manifestou na tireóide. Descoberto em estágio IV, logo iniciamos o tratamento com quimioterapia. Ela logo perdeu seus cabelos, mas continuava vaidosa como sempre. Em sua última semana de vida, me fez gastar uma boa porcentagem do meu salário de estagiária em um colégio local em lenços e novos batons para ela. E eu obedecia, sem reclamação.

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