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18 de setembro de 2018

It's just another sunrise on another day
Just another rainbow, well they're all the same
Let me guess, a sunset followed by the moon
I think I'm ready for something new
(Something New - Tom Fletcher)

LUCAS:

Os deuses não estavam ao meu favor naquele dia, apesar da estreia com vitória do time no dia anterior.

Primeiramente, a bateria do meu celular descarregou no meio da noite (eu não tinha o hábito de dormir com o aparelho ligado à tomada), o que fez com que meu despertador não tocasse, e eu acordasse meia hora atrasado. Por isso, tive que pular o café da manhã e comer algumas torradas de um pacote antigo que encontrei no porta luvas do carro.

Como se não bastasse toda a confusão que tinha se tornado a minha manhã, o treino tinha sido intenso e mais exaustivo do que de costume. Todos ainda estávamos nos readaptando à nova rotina de treinos com Lopetegui, o novo treinador. Alguns de nós já o conhecíamos - que anteriormente treinava a Seleção Espanhola - , mas a mudança depois de dois anos convivendo e conhecendo todas as práticas de Zinedine Zidane, a renovação no treinamento estava sendo, minimamente, cansativa.

E pra fechar o dia com chave de ouro, meu carro escolheu o melhor momento para não funcionar.

Eu não deveria ter levantado da cama.

- Você não se incomoda mesmo, cara? - eu perguntei a Marco, entrando no banco do carona do carro.

Marco Asensio, ponta esquerda e meu parceiro em várias jogadas importantes para a equipe, foi meu salvador naquele dia. Ele não hesitou em me oferecer uma carona, sorridente como sempre.

- Para de frescura e sossega aí, Vázquez. Você mora do lado de casa. É caminho. - ele disse, atendendo ao celular. - Cariño, está tudo bem? - eu sorri ao vê-lo falar carinhosamente com Flora, sua esposa há quase um ano e mãe de Aurora, a bebê de dez meses que sabia melhor do que ninguém colocar um sorriso besta no rosto do meu amigo. - Claro, eu posso sim, estou saindo do treino. Bons estudos. Também te amo. - ele desligou a ligação e só então ligou o carro. - Preciso buscar Aurora na escolinha. Você não se incomoda, certo? Flora ficou presa com um trabalho na faculdade. Normalmente ela faz isso, mas...

- Está tudo bem, não a vejo há um tempo. Escola, huh?

- Nem eu nem Flora queríamos isso, mas com ela de volta aos estudos, precisamos apelar. Flora não confia em babás, mesmo com todas as mil e uma recomendações da mãe dela. Preciso dizer que concordo.

- Como estão as coisas entre vocês?

- Como sempre e feito nunca. - ele disse repetindo a frase típica de Flora, eu me lembrava. - Ela é a mulher mais incrível do mundo. Nunca canso de dizer isso a ela.

- Dios mio, meu amigo está apaixonado.

- Por ela eu sempre fui, Vázquez. Sempre fui.

Ele estacionou em frente ao prédio colorido no centro de Madrid, desceu do carro e entrou, se misturando à multidão aglomerada no entorno da locação. Inúmeras crianças de todas as idades e pais saiam do prédio, alguns apressados, meio robóticos, enquanto outros eram mais serenos, conversando com seus filhos e fazendo brincadeiras. Dentre todas essas pessoas, uma moça jovem de vestido colorido tentava equilibrar pastas e cartolinas enroladas, com uma bolsa pendurada em cada lado do corpo. Três passos distante da porta da escola, tudo veio ao chão.

Minha mãe desde pequeno me ensinou que ajudar as pessoas não custava muito e que tal gesto poderia tornar o dia de alguém muito melhor e mais fácil. Portanto, quando vi a oportunidade, não hesitei em descer do carro de Marco às pressas e em ajudar a moça, que parecia muito atribulada em meio a tantas pastas, objetos e até seu telefone, que eu recolhi e coloquei em meu bolso quase que automaticamente.

Turning PageOnde as histórias ganham vida. Descobre agora