Capítulo VI - Conflitos e igualdade

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  - Querida Sloane, cuidado com a lareira! - Exclamou Mrs. Deighton que estava apreensiva com a pequena filha que brincava com êxtase próxima ao fogo com as novas bonecas e trenzinhos de madeira que havia ganhado de Mr. Abbot. Seu irmão a observava com olhos de ternura, os cachos dourados decorados com fitas azuis caíam sob o leve vestido de algodão azul em corte tradicional infantil.

   Mr. Deighton havia conseguido a proeza de levar Mr. Abbot e a filha para um jantar em sua casa. Mrs. Deighton estava controlando sua língua e a criança estava mais dócil, talvez o tímido George tivesse conversado com os familiares antes do encontro. Victoria estava especialmente quieta, porém seu coração estava impaciente, seu pai ainda não havia decidido se passaria o feriado natalino em Londres, Derbyshire ou Manchester, mas pedia ao Senhor desesperadamente que tivesse a oportunidade de viver o natal londrino apenas mais uma vez. Tinha em sua mente a gentil conversa que tivera com George nos dias anteriores, talvez o jovem tenha ganhado uma parcela mínima de sua simpatia, todavia, ainda parecia sem senso de humor e apático para ela.

  No dia anterior, Victoria havia ido até a saída da fábrica onde Hunt Pigeon trabalhava para encontrá-lo, era, provavelmente, seu único amigo naquela cidade, ao menos o considerava um amigo, se levasse em conta suas circunstâncias, realmente, qualquer um que mantivesse contato contínuo com ela seria considerado um amigo. Conversou com o operário no caminho até sua casa sobre assuntos fúteis, porém, serviam de passatempo em suas tardes frias e tediosas de inverno na cidade industrial.

  O jantar na residência dos Deighton estava sendo extremamente agradável para seu pai, que discutia David Copperfield  com George, o rapaz jamais decepcionara Victoria na questão de colocar ânimo no coração de seu pobre e antes solitário pai, que agora constava com as constantes visitas do jovem Deighton, onde poderia encontrar uma alma semelhante. Durante todo o evento a jovem dama tentou manter contato com Sloane, que era uma criança deveras abrupta, preferia manter-se sozinha junto a lareira com seus novos brinquedos. Portanto, Victoria deveria, por certo, permanecer solitária enquanto observava todos os outros em conversas deleitosas! Oh, que castigo! Todas as outras moças de sua idade no local era antipáticas e não se assemelhavam com nenhuma de suas ideias. Pelas conversas que havia tido com seu novo amigo, Hunt, os trabalhadores eram extremamente injustiçados já que perdiam quase a totalidade de seus dias por poucos xelins, que mal serviam para alimentar grandes famílias, mas ninguém ao seu redor fazia questão de se importar com aquelas pobres pessoas, e acharia terrível que utilizassem da violência contra os mais ricos, pois sabia que de nenhum jeito iriam ouvi-los, muito menos ouviriam uma jovem senhorita burguesa decorativa para as grandes casas. Como uma mulher seu coração era amolecido, entendia isto, haviam lhe dito quando era pequena, as mulheres sempre seriam mais frágeis, porém sentia que defender aquelas pessoas era uma decisão racional, mas, era leiga no assunto, iria ficar calada, não gostaria de sofrer represálias.

- Ouvi falar que eles ainda mantém aquele sindicato em pé, Abbot. - Disse Mr. Deighton após comer um pedaço da sua coxa de frango.

- Ah, não chegarão em lugar algum com isso, deixe-os, acho engraçado, porém eles são tão ingratos! Oh céus - Lamentou Mr. Abbot

- Papai me perdoe interromper, porém eles ganham menos do que vale o anel que estou utilizando, eu não seria grata por isso. - A voz de Victoria saiu trêmula, porém recebeu olhares penetrantes de todo que estavam ali.

- Agora deu de minha filha defender vagabundos, oras! O que ouve com você Victoria? Está maluca!? Não me lembro de ter lhe presenteado com o Manifesto Comunista de Marx e Engels. - Mr. Abbot quase cuspiu a comida, e Victoria tomou uma feição pálida.

- Não papai! Não acredito que seja isto...- Foi interrompida por George que pigarreou em forma de interrupção

- Mr. Abbot, acredito que sua filha queira dizer que os operários precisam ganhar o suficiente para sobreviver, sei que é declaradamente um liberal porém isto não o impede de ajudar famílias a não passarem fome, tem dinheiro o suficiente para um aumento de salário dos operários, não fará mal algum para o senhor, poderíamos discutir melhor a situação amanhã, certo? - George tentava acalmar a situação com sua voz pacífica, e isso fazia Victoria ter os nervos à flor da pele, sua conduta era extremamente monótona, como todas as outras, quando sua vida iria ter alguma emoção ele encontrava um jeito de deixá-la maçante novamente. Mr. Abbot ouviu com clareza as palavras de George e assentiu sobre tudo.

Victoria | Completo Where stories live. Discover now