Capítulo XII - Purgatório

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Derbyshire. Derbyshire soava como uma ideia, não um local. para Victoria uma ideia de paraíso em meio a lagos e árvores que tinham folhagens tão verdes que brilhavam sob a luz do sol. O paraíso que era tão diferente de onde estava, e não tinha uma semelhança sequer com Manchester, o seu inferno. Antes de tudo deveria passar pelo purgatório, e este local em sua mente seria Londres. O grande purgatório londrino, onde encontraria avanço, grandes hotéis e restaurantes, pobres e ricos vivendo uma segregação visível, porém sempre ignorada pela pressa dos que passavam pelas ruas a caminho de seus ofícios ou de seus prazeres. A capital dos luxos, onde tudo que gostaria poderia acontecer se tivesse algumas libras em sua conta.
  Mas por que tudo aquilo passava em sua cabeça enquanto tricotava um enxoval de casamento para alguma amiga de sua tia? (que tagarelava algo, mas o universo parecia silencioso enquanto lidava com seus pensamentos)

— Bem, quando for tarde da noite e a madrugada estiver próxima iremos partir! — Disse sua tia com uma fala que finalmente a interessasse, que puxou Victoria de volta para o mundo real e estava subitamente desnorteada.

— Ah, claro! Estou feliz que papai permitiu que eu pudesse ir. Puxa! Seria uma pena perder tal oportunidade de visitar Derbyshire, titia. Sabe melhor do que qualquer um que sera reconfortante. — Deu um sorriso para a aprovação de sua tia. Não mentiu em uma palavra sequer de sua frase, mas estava apreensiva em deixar aqueles que tinha tamanho apreço, mesmo que fosse por apenas um mês.
  Havia deixado um aviso sorrateiramente por debaixo do tapete de Hunt enquanto estava em horário de trabalho, dizendo que havia viajado para longe, e que não haviam motivos para qualquer preocupação. Sophie soube por meio de Mr. Hope, seu pai, que era próximo de Mr. Abbot e foi alertado para avisar diretamente para sua filha pelo próprio patrão.
  Era o momento de um último jantar antes da ida. E aquilo deixava Mr. Abbot completamente apreensivo e deprimido, não ter ninguém por perto, ter que aturar a casa silenciosa enquanto o vento frio fazia barulhos irritantes nas janelas e lhe causavam medo.

— Victoria, corresponda, não esqueça das correspondências. Se alimente bem e seja uma dama comportada e sob as leis da casa de Mr. Coldwell. Por favor não se coloque em situações de perigo. — Falava o pai enquanto encarava o consumè  que Fizzy havia preparado para aquele jantar. Victoria colocou em seu rosto um sorriso fraco em resposta aos comentários atenciosos da figura paterna.

— Oh papai, ficarei ótima. Sabe como sou, não sairei de minha cadeira sem titia, juro pelo nome de nosso
Sagrado Deus. — Iniciou a provar a comida assim que viu seu pai levantar a colher e levá-la até a boca.

— Victoria estará bem em Derbyshire, é um local seguro. Veja como ela está feliz em partir! Sem objeções, Caleb Abbot. — Cortou Mr. Coldwell, surpreendendo todos por ter tomado alguma atitude. Pigarreou em seguida. Todos ficaram em silêncio até  o fim da refeição. Era tarde, estava próximo da hora de partir e no estômago de Victoria se formavam borboletas.
  Quando a escuridão se alastrou por mais um pouco e poderia se sentir um forte cheiro de gás por conta das luminárias à fogo, Mrs. Coldwell avisou para a sobrinha que refletia em seu quarto da chegada da carruagem, e que assim que terminassem de levar as bagagens, partiriam.

   E assim se fez. A família Coldwell, desta forma, roubou um pedaço de Mr. Abbot, e em uma carruagem, levavam o tamanho tesouro do pai, que fazia preces para O Bom Deus proteger sua pobre e inocente menina.  O coração de Victoria pulava para fora de seu peito, enquanto as imagens corriam de forma veloz e turvas por trás da janela, e sutilmente afastava a cortina para ver melhor. Embora a visão fosse impedida pela névoa que embaçava o vidro, era possível ver de forma sorrateira a imagem de algumas poucas pessoas na rua e acreditava que fossem os vigilantes.

  Até que finalmente chegaram na estação de trem, e se antes o coração de Victoria parecesse que iria pular para fora de seu peito, agora poderia jurar que estava em sua goela pronto para ser expelido. Alguns poucos viajantes entravam e saíam das máquinas de viagem, e o cheiro de fuligem e ferro era forte, além do clássico som das maquinarias no momento de seu freio, que poderiam ensurdecer alguém, tinha certeza que sim.

— Bem, você tem coragem Victoria, sei que tem. Não se amedronte por pouco, conhece seu pai, ele ficará bem  e nada acontecerá nem por aqui em Manchester nem em Derbyshire. — Disse Mrs. Abbot para a sobrinha, tomando sua mão tentando gerar segurança na garota.

Victoria | Completo Where stories live. Discover now