Capítulo XV - Réquiem

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    A ida para Manchester. Talvez o inferno não fosse um lugar tão ruim, e o paraíso fosse apenas uma ilusão, pois do que adiantaria ter o local perfeito se tudo que lhe faz feliz estivesse do outro lado?
   Aquela estação esfumaçada, o único ponto de Derbyshire onde ela poderia encontrar conexão com o que agora tinha prazer de chamar de casa.
  Teve o prazer de abraçar sua tia pela última vez naquele solo, e dizer adeus para seus queridos primos que tinham adquirido tanto apreço pela imagem da prima que os amava da mesma forma, de um modo mútuo.
  A linha que iria tomar seria direta, apesar da distância razoável, não teria o deleite de passar por algum purgatório; Seu caminho seria estreito para onde ao invés de fogo, havia fumaça. O expresso partiu de Derbyshire, não deixando mais uma palavra, apenas se manteve calada, deixando os vultos desaparecerem com o percurso e em questão de segundos não podia mais enxergar qualquer resquício do paraíso, e o verde brilhante que brilhava sob a luz do sol já não era o mesmo, o jardim do éden onde deixou os seus pecados mais repulsivos já estava distante de sua vista. O trem não tinha muitas pessoas em seu interior, na ida de Derbyshire raramente encontraria um homem de negócios, pois naturalmente o local não era onde os homens costumavam negociar e encher suas almas de trabalho, tinham abruptas famílias, e algumas mocinhas que saíam dos internatos que ficavam nas entranhas de Derbyshire, e era provável que estivessem buscando emprego como governantas após terminarem os estudos.
   Partir em viagens pela manhã sempre agradou Victoria, por alguma razão peculiar. Era condizente dizer que sentia prazer nos raios de sol inócuos do inverno inglês tocando seu rosto. O que sentia naquele momento era alívio, pois deixava o local que havia a deixado tão impaciente e não suportava mais tamanho tédio, e também sentia esperança, pois retornaria.
  Nunca havia viajado sozinha, mas por aquela vez percebia que a solidão não permitia que nenhum pensamento fosse obscurecido, e mesmo que os pensamentos estivessem todos em evidência; Seu coração estava impávido. Era um costume que naqueles momento onde não encontrasse ninguém, desse vazão às suas preces, e orasse em busca de um caminho para seguir, deveria pedir redenção pelos pecados, cometidos naquele mês, pois sua alma desasnou dos caminhos da fé, rogou para ter a conexão que Jane Eyre tivera com Deus. "Tu és bondoso e perdoador, Senhor, rico em graça
para com todos os que te invocam. 
Salmos 86:5"  Uma moça de sua idade sem nenhum casamento, já deveria ter perdido a confiança; Prometer a vida para o trabalho da igreja pela primeira vez aparentou ser uma alternativa naquela vida frígida. Os pensamentos de uma garota em seus momentos de privados poderiam ser transformados em desespero, uma senhorita deveria sempre ter uma companhia em seu casco para não se deixar navegar dentro do desespero, a culpa a mergulhava nas lembranças do final do ano anterior. A viagem se encurtou após misturar seus devaneios e quimeras. Despertou dos sonhos que tinha enquanto acordada com o barulho horripílo que o trem emitia quando chegava, apesar do incômodo, era o único alerta que tinha para saber que já estava próxima daqueles que amava.
   Pela janela lamentou avistar uma grande quantidade de pessoas que pareciam formigas, grande parte apenas a espera dos viajantes. Tinha a crença que seu pai estaria por lá como os outros, e deveria estar ansioso em vê-la sair pelas portas.

  Foi agraciada pela visão do pai, que tinha uma aparência acabada, não pode guardar sua preocupação, porém, estava com tamanha saudade e não poderia conter a necessidade de abraça-lo.

— Minha pequena criatura, se soubesse o quanto orei para que eu pudesse tê-la em meus braços novamente, sei que está em necessidade, não hesite. Prometa a seu velho pai que jamais o deixará neste estado; Me arrependo de ter permitido que fosse. — O pai descansava as mãos da cabeça da jovem garota, que poderia sentir lágrimas involuntárias se formando em sua face.

— Papai, não deve ter sentido mais do que senti, dói perder meu único porto seguro, juro por minha falecida mãe que jamais o deixarei... Ah papai! Mal posso esperar para ver os outros, senti tanta falta de sua face e da melancolia de Manchester.

Victoria | Completo Where stories live. Discover now