Capítulo X - Altos e baixos

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Pássaros entoavam cantos no quintal enquanto o sol gentilmente derretia a neve que cobria o gramado. Alguns dias após o último ocorrido.
Era uma tarde parcialmente fria (em relação aos outros dias de inverno) de segunda-feira, dois dias anteriores à véspera de ano novo. Victoria iria visitar Hunt Pigeon na saída da fábrica. Os negócios de seu pai estavam indo aparentemente conturbados por acaso, a produção de metalúrgicos naquela época era arriscada, só não entendia o porquê, e nem iria perguntar pois ele estava totalmente ocupado.

Veio em sua mente a lembrança de que Hunt havia a dito que fazia parte de um sindicato, e a explicava que todos os operários também faziam parte, quem não fizesse seria ignorado em meio aos trabalhadores. Dizia que organizavam greves e ajudavam as famílias, tinha a dito também que os patrões odiavam a organização, e que faziam de tudo para derrubá-los.

Sua tia ficaria até o 3° dia de janeiro em Manchester, e não estava gostando muito daquela estadia, a fumaça fria era agonizante, dizia. E que deixava as crianças extremamente frágeis para resfriados. Frederick e Patrick Coldwell tinham 8 anos de idade e eram gêmeos, entretanto, curiosamente, eram fisicamente bastante diferentes. Acreditava que eram razoavelmente agradáveis para crianças de idade tão difícil, e eram, acima de tudo, doces como a mãe, porém, resolutos e tímidos como o pai, Mr. Coldwell.
Frederick tinha o cabelo castanho, encoracolado e ralo, com sua pele negra, como a de seu pai. E Patrick tinha o cabelo ondulado em um tom castanho com a pele clara para parda, como sua mãe.
Victoria abraçou os primos que desciam as escadas rapidamente quando viram que ela estava logo em baixo, se organizando para sair de casa.
- Se comportem, meninos! Obedeçam a mãe de vocês. E eu voltarei mais tarde hoje, falem para ela que saí e ela saberá para onde. - Beijou a testa de ambos que voltaram a correr pela grande casa.
Passou o dedo indicador sob a borda do chapéu que usava e tirou um pouco da poeira que o cobria por estar guardado em uma caixa desde a última vez que havia utilizado. Saiu da casa seguindo o mesmo percurso até a saída da fábrica onde Hunt Pigeon trabalhava. O dia com George havia sido extremamente interessante, porém não trazia o sentimento prazeroso que queimava sua barriga como borboletas e trazia seu coração a palpitar a ver o operário sair pelos portões como um rosto que se destacava aos seus olhos na multidão de trabalhadores melancólicos. E via no brilho de sua íris esperança, e um sorriso surgir no rosto coberto de graxa do homem quando a via acenando em sua direção. Era para ele. Sempre seria.

- Por onde andou? Eu senti sua falta, Victoria. Tenha piedade de mim. - Se inclinou para abraça-la, mesmo sabendo que talvez fosse recusar ele esperava que ela não fosse. Victoria sabia que ele precisava de um abraço, sua solidão fazia de um abraço como remédio, mas dificilmente se sentia segura para ato tão íntimo. De vez em quando, quando a noite atacava os céus e se encontrava já de camisola em sua cama, sozinha, sentia a carência daquele abraço que nunca deu, e se desse para George, por exemplo, ele poderia entender errado, Hunt jamais entenderia errado. Mesmo sabendo que o amigo se encontrava sujo, não se importou em corresponder a aquele abraço, e o recebeu com toda a ternura que poderia aquele ato, e soube de sua reciprocidade. Não durou muito tempo mas já foi o suficiente para embaralhar as palavras que saíam de sua boca e confundir o seu coração que palpitava ainda mais rápido.

- E-eu juro que tenho piedade de você, só não tive tempo. - Respondeu victoria com um sorriso sincero e com os olhos expressivos.

- Bom, acho que hoje terá, no natal me deixou sem mais explicações. - Limpou os dedos no lenço de flanela que tinha em seu pescoço e os deslocou até o rosto de pele fina e limpa de Victoria, que tinha apenas uma mancha de graxa como resquício do abraço, rapidamente limpou e tirou uma mecha que fugia e cobria seus olhos, a colocando no seu lugar. Olhando diretamente para seus olhos.

- Então, vamos para sua casa, não? É melhor nos misturarmos na multidão, para não nos virem. Desculpa, de verdade, eu não queria precisar escondê-lo, mas devo, por enquanto. - Ele assentiu e dando o braço para ela e velozmente adrentaram naquele meio.

Victoria | Completo Onde histórias criam vida. Descubra agora