Capítulo VII - Intenções

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- Querida Ms. Victoria Abbot! Que surpresa é recebê-la! - Disse Sophie Colleen Hope no instante que viu a imagem de Victoria surgir pela porta com Mindy, a governanta. Largou as mãos do piano que tocava e com seu olhar extrovertido foi em direção a visitante. Para Victoria, Sophie Colleen Hope não se destacava dentre as outras jovens moças da cidade, era quase exatamente como elas, vívida, prendada e extremamente tagarela, porém, foi a primeira a aparecer em sua mente na ideia de visitas.

- Sophie, achei justo vir visitá-la após aquele jantar agradável em minha casa com sua família. - Sentou-se ao sofá da sala de música a convite de Mindy. Sophie não escondeu seu extâse.

—  Ah! Me sinto feliz que minha presença lhe agrade, estava no momento treinando piano, não é mesmo Mindy? — Os olhos esverdeados sorriam enquanto mechas do cabelo levemente loiro caíam sob a bochecha rosada e magra.

— De fato, Sophie. — Respondeu instantaneamente Mindy, com sua voz serena.

— Que maravilhoso, Ms. Hope! A senhorita deve ser, por certo, muito talentosa, ouvi elogios diretos de seu pai à suas habilidades. — Victoria se dirigiu com doçura para a jovem dama que seria por volta de 6 anos anos mais nova que ela, e mais alegre e imatura, sem dúvidas.
    Logo ao agradecer os júbilos de Victoria, naturalmente, retornou a tocar, a pedido da visitante, que achou que fosse o mais recomendável já que não sabia sobre o que falar com Sophie.

— Ms. Abbot, rumores correm por toda Manchester que Mr. George Deighton estaria totalmente interessado em lhe propor em casamento, será que poderia confirmar ou negar tais rumores? — Sophie falou destituindo o silêncio durante a pausa entre as músicas, que habitava naquela sala, que só não era abafado pelo som do piano que ressoava.
  O comentário curioso deixou Victoria em choque, e seus olhos tomaram aparência surpresa.

— Sophie!! Não sabia de tais rumores, imagino que estejam completamente errados, Mr. George Deighton é apenas um colega de nossa família e nos visita para conversar unicamente com meu pai, se falei com ele após minha infância foram poucas vezes, nunca deixou tais intenções explícitas e não tem nenhum motivo para tê-las. — Se sentia indignada, pois não acreditava que estava no nível de ter que negar falsas informações tão sujas! Mindy ofereceu água para a jovem visita que estava com semblante pálido e via o suor frio cair por sua testa.

— Temo que sejam realmente falsos! Querida Victoria, seus pobres nervos devem estar afetados com tamanha crueldade, rumores são terríveis! Já fui vítima de vários por aqui, até mesmo de gravidez. Logo eu, uma menina tão jovem e com um grande nome, o que levaria as pessoas a pensarem tais calúnias? — Sophie falava com o máximo de cautela e Victoria bebia a água oferecida por Mindy.

— Obrigada, Mindy. — Colocou a taça na pequena mesa de centro que estava em sua frente e ouviu as palavras de Sophie. — Que crueldade! Deve ter, de fato, lhe ofendido totalmente. Sinto muito. — Quando o assunto cessou por completo, se despediu da delicada e gentil Sophie e voltou para as ruas de Manchester antes mesmo do horário de almoço, e por sorte seu pai deveria estar chegando em casa no mesmo instante. As ruas estavam movimentadas por causa das lojas, e era perto do natal. Crianças brincavam com bolas e bonecos de neve apesar da névoa, não parecia um grande incômodo para a diversão daqueles pequeninos.
  Passava tossindo e apressada, o que fazia a paisagem de pessoas se tornar apenas uma imagem turva aos seus olhos. Chegou em casa com a sorridente velha Fizzy a recebendo, e dando espaço para ver os rostos de seu pai e de George nos mesmo lugares de sempre na sala de estar, o que a fez sorrir novamente.

— Ele está bem com você novamente, fique calma. Aja como se nada tivesse acontecido. Mr. George salvou sua pele, querida. — Sussurrou Fizzy em seu ouvido assim que passou pela porta, e a jovem assentiu com um sorriso, e ofereceu um abraço para a mulher, que ficou extremamente alegre com o gesto de sua patroa.

  — Querida! Que bom que chegou a tempo do almoço, acabei de chegar com George em casa, sinta-se à vontade para juntar-se a nós. Ouvi que visitou Sophie Hope, nos conte notícias dela e de sua família. — Mr. Abbot parecia animado, e logo olhou para George com um sorriso grato que ele compreendeu. Sentou na cadeira de recanto.

— Papai, ela está ótima. Vívida como sempre e muito atenciosa. — Respondeu Victoria bebendo um gole do chá que foi-lhe oferecido por Susan.

— Ótimo. Uma menina muito correta, de fato. Me agrada sua amizade com ela Victoria. — Seu pai comentou enquanto ajeitava os óculos que escorregavam pelo nariz enrugado.

Durante todo o tempo, Mr. Abbot e George mantiveram uma conversa agradável sobre Platão, e Victoria observava não opinando muito sobre, apenas o que poderia saber. Jamais pretendia contar para seu pai sobre as visitas frequentes à Hunt Pigeon, o operário, e tinha medo de que alguma forma descobrisse. Durante o horário de almoço apenas agiu como anteriormente, apenas observar seu pai e o amigo tendo conversas. Sua mente porém, estava em outro lugar. Pensava em abordar George quando estivesse saindo, para falar sobre o que Sophie a falou, estava realmente martelando sua mente sobre aquele assunto. Ao fim da refeição, concretizou seus pensamentos

— George, poderia lhe fazer uma pergunta, se não for incômodo? — Falou em um sussurro próximo ao ouvido do homem, colocando as mãos cobertas por luvas, delicadamente sob seus braços cobertos pelo sobretudo de cor preta, o que trouxe a atenção de Fizzy, que arregalou os olhos ao ver a cena, e ficou estritamente surpresa.

— A-Ah, claro, Ms. Victoria, venha. —  A dama os dirigiu até o hall de entrada, e o homem estava aparentemente nervoso, o que levemente a irritou, como qualquer ação que ele tomasse.

— George, o senhor tem alguma intenção de me propor? Me fale por favor, Sophie me informou que boatos estão correndo pela cidade, logo, preferiria desmentir com o próprio. — Suspirou ao terminar de falar. George tomou uma aparência pálida e suas pupilas diminuíram, dando lugar aos seus olhos azuis celestes. Ficou gélido e gotas de suor frio saíam por seus cabelos negros.

— Fico admirado como criam mentiras, eu juro pelo próprio Deus, (e que me perdoe pois não falo seu nome em vão), nunca passou por minha mente tal ideia, Ms. Victoria, minhas intenções com a senhorita não poderiam ser mais límpidas de amizade. Me perdoe qualquer equívoco. — Tinha seus olhos criando lágrimas, Victoria acreditava que fosse constrangimento ou pavor pela reputação.

— Se acalme, George, nunca duvidei de suas intenções! Apenas perguntei para ter a certeza. Suzie! Traga um copo d'água, por favor.

  Quando o homem finalmente saiu da casa, sentiu um alívio, porém, sua mente estava em confusão, não sabia se sentiria mal ou bem por George ter dito que suas intenções não poderiam ser mais límpidas por amizade. Não sentia paixão ou fervor algum em seu coração pelo homem, entretanto, seu ego estava inflamado por saber que nunca passou por sua mente de outra forma. O resto de seu dia foi agradável, finalizou o xale que tricotava para sua tia, e ansiava de sua visita o mais cedo possível, pois os ares tediosos de Manchester a matavam por dentro. No outro dia ficou em casa, suas saídas frequentes, de fato, iriam queimar sua imagem perante os cidadãos da cidade, e permaneceu daquela maneira pelo resto da semana, desde aquela segunda-feira.

 

Victoria | Completo Where stories live. Discover now