7. Zoe

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Quando Candice mencionou o jantar-namoro-oficial eu me senti uma idiota. Na verdade, eu já me sentia assim antes; só percebi naquela hora.

"Eu sempre vou ficar do seu lado", dissera Alex o caminho todo no ônibus. Só que não era do jeito que eu queria e me sentia horrível por querer. Sentia como se o tivesse traído ao me apaixonar por ele. Sentia como se eu tivesse maculado nossas memórias.

Então caminhei pra longe daquele conversa e pra longe dele. Pensei que talvez eu estivesse errada. Eu não havia maculado nada. Tudo até um mês atrás, no verão, fora real. Eu não precisava me sentir mal por isso, precisava?

Encontrei Kat na cantina e aproveitei para pedir um chá. Ela atribuiu minha escolha de bebida às minhas origens e começou a me zoar, como se ser inglesa fosse uma ofensa.

Eu havia pedido um chá gelado, pois o clima pedia, mas o moço me deu um copo de isopor que percebi que estava quente quando segurei. Não tive paciência pra reclamar, então continuei conversando normalmente com Kat e tomei um gole. Não se passou um segundo que afastei o copo da boca, Alex esbarrou em mim com força, fazendo o chá derramar em nós dois.

Eu mesma era uma pessoa desastrada, o que me tornava bem tolerante a esse tipo de incidente. Mas era ele. Alex, o cara que eu falava e não podia amar. Me dei conta naquele momento o quanto eu estava com raiva. Não dele; ele não tinha culpa. Eu estava com raiva de nós. De como éramos íntimos, talvez mais do que ele com a namorada, mas de maneira e em níveis diferentes. Eu estava com raiva por não poder mais tocá-lo inocentemente e isso estava acabando comigo.

Não percebi o que eu estava fazendo até começar. Eu estava mesmo brigando com ele por algo tão sem sentido e sem fundamento? Eu estava mesmo jogando projetos de argumentos (se é que chega a tanto)?

Nem sabia mais o que eu estava dizendo quando ele levantou a camiseta, provavelmente porque estava doendo; afinal, o chá estava quente. Ele ficava tão bonito com aquela blusa vermelha e bermuda branca. E ficava tão bonito sem essa mesma camiseta também. E mais e mais pensamentos nada inocentes surgiram e eu só consegui encarar ele todo.

Estava tão constrangida que nem pude olhá-lo nos olhos ao tentar me recompor. Pretendia dar umas batidinhas leves na camiseta, como sacudir a poeira, mas eu praticamente me estapeei na frente dele. E depois saí caminhando com Kat pelos corredores vazios.

Eu era oficialmente patética. Mais oficial do que um jantar oficial pra apresentar oficialmente o namorado oficial.

Assim que chegamos na aula de educação física (muito atrasadas) Kat me deu uma bronca.

- Você queria dar mais na cara? - falou ela.

- Não foi exatamente proposital - respondi.

- Você vai ter que concertar isso - disse Kat num tom autoritário.

- Eu nem acho que ele tenha percebido alguma coisa - tentei.

- Deixa eu contar uma história, flor: os caras não percebem até perceberem.

Olhei pra ela confusa.

- Como é?

- Quando eu ainda morava no Arizona, aconteceu algo assim comigo. Eu estava a fim de um carinha lá e marquei bobeira. A gente estava jogando vôlei, e tinha um monte de gente do time pra quem seria melhor eu tocar, mas joguei pra ele. Ele ficou tão confuso que não pegou e nós perdemos o set. - Kat parou pra respirar. - Eu achei que não era nada de mais, como ele poderia saber que eu joguei a bola pra ele porque gostava dele? - Ela enfatizou a fala com uma expressão de "Não é óbvio?". - E na hora ele só achou que eu fiz bobagem no jogo; acontece. Até que eu olhei pra ele tirando a camisa suada na aula seguinte por tempo demais. E bum! - Minha amiga bateu no chão em que estávamos sentadas de pernas cruzadas e eu tive um sobressalto. - Ele percebeu. Ah, como percebeu. Meninos são burros, mas sabem juntar as peças quando envolve o amiguinho de baixo - disse ela, apontando com o dedo para baixo.

Nós Podemos Ter TudoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora