16. Alex

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Consegui ensinar as técnicas mais simples de nado a Zoe no dia seguinte, mas ela parecia um pouco distante e pensativa.

 Quando a deixei em frente ao seu prédio hesitei em chamá-la para o parque e comer em um food truck, e, quando percebi, só o seu cheiro de chá de hibisco e shampoo estavam no carro.

 Voltei pra casa e me senti meio entediado em pleno domingo. Domingo é em geral um dia tedioso que antecipa o mais odiado dos dias: segunda-feira.

 Candice estava na casa dos tios e Zoe foi esquiva quando perguntei se estava tudo bem em uma mensagem e se queria fazer alguma coisa.

 Meus pais tinham ido escolher um novo liquidificador. Minha mãe era daquelas que tomavam aqueles sucos verdes nojentos por serem bons pra saúde. Eu apreciava uma dieta saudável, mas meu limite era traçado com clorofila da couve.

 Abri meu livro de história sentado no sofá com meias aquecendo os pés. Eu era cuidadoso com minhas meias, ao contrário de metade da população humana.

 Tudo parecia mais interessante do que a Guerra de Secessão no momento, então fiquei encarando a parede branca à minha frente. Meus pais não ligavam tanto para decoração por acharem que logo compraríamos uma casa com quintal e cerca. Claro que esse dia nunca chegava.

 Eu precisava ser realista porque sabia que eles eram sonhadores. Uma família só pode ter um número limitado desses.

 Suspirando, olhei para o lado. Apertando os olhos, vi uma pipoca enfiada no meio de duas almofadas. A tirei e segurei na frente do rosto, rindo.

 Uma semana antes da volta às aulas, insisti para que Zoe finalmente visse todos os filmes de O Senhor dos Anéis.

 Com um balde de pipoca ficamos confortáveis no meu sofá. Mas ela adormeceu antes da metade do primeiro filme e acordou assustada com Gandalf gritando: “Você. Não. Vai. Passar!”, derrubando nossa tigela com pipoca.

 Apesar do sofá cheio de sal e grãos de pipoca entre os vãos, desatei a rir, quase perdendo o ar. O filme passava como um borrão na frente dos meus olhos.

 Tentamos limpar tudo, mas eis a prova de que algumas se esconderam muito bem.

 No fim, não chegamos nem ao segundo filme. Zoe não apreciou a jornada de Frodo tanto quanto eu, porém disse que gostou. “Acho difícil, já que você não consegue ver filmes enquanto dorme”, eu dissera, ao que ela respondeu: “Gostei das partes em que meus olhos estavam abertos para ver.”

 Talvez eu devesse ver um filme, ponderei com o caderno aberto sobre as pernas.

 A vibração no meu celular me fez parar o debate mental em que me encontrava. Era Nate perguntando se poderia vir em casa para jogarmos videogame.

 Da última vez que jogamos eu havia ganhado e ele voltou para Nova Zelândia antes da revanche.

 Dando de ombros, mesmo que ele não pudesse ver, respondi para ele vir preparado para outra derrota. Eu estava um pouco enferrujado já que passava a maior parte do tempo fazendo malabarismo com estudos, lacrosse, Zoe e Candice.

 Seria mais fácil se eu pudesse juntar alguns elementos, como Zoe e Candice, mas elas não pareciam estar se dando tão bem ultimamente.

 Para ser honesto, pareciam mais se tolerar do que qualquer outra coisa. E eu sabia que um namoro consistia em duas pessoas e não três, em situações ideias. Eu só gostava muito das duas, só que de maneiras diferentes.

 Nate chegou batendo à porta pouco depois, usando uma camiseta do Bob Esponja pequena demais. Me perguntei se as garotas realmente gostavam disso, ou do fato de ele não dar a mínima se gostavam.

Nós Podemos Ter TudoWhere stories live. Discover now