15. Zoe

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Peguei o elevador com o cara que sempre estava com roupa de academia, não importava o dia da semana ou o clima.

Ele me olhou quase com pena e pensei que devia ser porque ele provavelmente escutava as brigas familiares do outro lado do corredor.

Esbarrei com a minha mãe esperando impacientemente o elevador. Ela tirava um amassado da roupa com as mãos.

- Ah, filha - disse, surpresa ao me ver. - Vou ficar com o turno da noite hoje, desculpe. Você pode fazer o jantar? - Ela não me esperou responder e, depois de me dar um beijo rápido na cabeça, entrou no elevador o qual o Cara da Roupa de Academia segurava. Ele saiu quando ela entrou, já que morava no nosso andar.

Usei a chave para entrar em casa. Era o fim da tarde. Meus muitos chaveiros balançaram com um tilintar.

Fiz espaguete para o jantar, já que era um dos únicos pratos que eu fazia que ficava mais próximo de "gostoso".

Aproveitando o pique após lavar a louça, limpei a casa, com Fergus quase me derrubando o tempo todo passando por entre as minhas pernas.

Passei pela geladeira e peguei um pote de sorvete. Sentei no sofá embaixo das cobertas com os joelhos encostados no peito enquanto assistia à um programa de entrevista.

Minhas colheradas generosas enchiam minha boca e deixava mais difícil rir das piadas do apresentador.

Foi numa sorveteria com Alex e os pais dele que resolvemos fazer o Top 10 de sabores favoritos. Não sabíamos qual escolher e o pai dele resolveu o problema com a sugestão: "Por que não escolhem o que mais gostam?". Até o momento só sabíamos que amávamos sorvete, mas ao nos fazer escolher apenas três sabores, uma lista dos mais amados foi feita.

Me lembro que ficamos uma eternidade na fila e que tivemos que fazer a lista com os complementos também, porque, por algum motivo, não podíamos por todos.

De repente tínhamos uma lista para quase tudo: filmes, músicas, cores, cidades e tudo relacionado à comida.

Acho que entendo porque dizem que a vida é feita de escolhas.

Ainda refletindo com a boca cheia e o cérebro congelado, fiz carinho em Fergus, que estava deitado ao meu lado, com as mãos geladas, o fazendo miar insatisfeito, mas sem se mover. Tão preguiçoso quanto a dona. Eu havia o resgatado da rua e tive que discutir muito para trazê-lo pra casa.

Estava quase cochilando como uma velhinha às 19h da noite quando a porta se abriu. Assim que ouvi meu pai chegar, avisei do macarrão e fui tomar banho, deixando a colher na pia e o pote vazio no lixo.

Secando o cabelo ouvi meu celular vibrar em cima da cama bagunçada. Busquei entre as cobertas e larguei a toalha em uma cadeira enquanto checava as mensagens.

Minha irmã havia me mandando uma foto da comida de Maggie para me fazer inveja. A outra era de um número desconhecido, mas ao lê-la percebi ser de Nate, me convidando para um café. Por que não?, pensei.

Vesti uma jeans e uma camiseta de manga comprida. Ignorei meus sapatos de corrida e peguei minha botinhas.

Alguns domingos Alex vinha de manhãzinha e ficava batendo na minha porta sem parar - o que irritava meu pai tremendamente - até eu acordar pra correr com ele no parque porque era "saudável". Eu ia antes que meu pai levantasse para jogar meu amigo pela janela.

E aí a gente dava voltas pelo parque e toda vez que eu reclamava que estava cansada ele dizia: "Só mais uma voltinha." E nunca era a última. Até eu deitar no chão ali mesmo no meio do parque e as pessoas nos olharem estranho e pular meu corpo largado.

Nós Podemos Ter TudoWhere stories live. Discover now