12. Alex

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Queria que Zoe fosse comigo pelo apoio moral.

Mas acho que isso só irritaria mais Candice.

As duas garotas e o garoto com quem minha namorada conversava quando cheguei saíram assim que colocaram os olhos em mim, como se eu estivesse com o toque do queijo, de Diário de um Banana.

- Não quero escutar, Alex - Candice olhou para o outro lado para enfatizar.

Parte de mim quis dizer "ok, você que sabe" e deixar por isso mesmo. Me senti culpado.

- Então é isso? - perguntei. - Terminamos?

Ela pareceu surpresa.

- Não sei, Alex. Terminamos?

- Eu quero estar com você, Candice.

- Mas... - Ela olhou pra cima com os olhos verdes.

- Você tem que confiar em mim. Eu tenho amigos e pessoas com que me importo.

Ela pareceu ponderar.

- Você lembra como você me contou aquela piada quando éramos parceiros de laboratório? - Candice sorriu. - Eu nem sabia o do que você estava falando, mas eu nunca ri tanto. - Ela me abraçou. - Estamos bem. - Candy me soltou. - Só espero que se tiver que escolher, você lute por mim.

Nos beijamos, ela sentada na mesa e eu de pé. Não percebi que estava olhando ao redor até ela perguntar:

- O que foi? Aquele diretor conservador está por perto?

- Não - falei a abraçando. - Tudo limpo.

- Você e ela são só amigos mesmo, né? - perguntou e imaginei que estivesse se referindo à Zoe.

Uma vez estávamos na minha casa jogando videogame quando tínhamos quase quinze anos e minha mãe disse ao servir sanduíches: "Não beijem escondido". Era só brincadeira, mas arregalei os olhos e Zoe respondeu tão natural que é como se não houvesse outra resposta possível: "Eca!".

- Só amigos.

***

É autossabotagem ser péssima em matemática e mesmo assim cabular essa aula?

Pedi para ir ao banheiro e fui a caça à Zoe. Estou sendo grudento?, me perguntei. Só queria ser um bom amigo. Não queria pegar no pé dela. Eu até deixava ela colar de mim, mas o que isso a ensinaria sobre álgebra? a + b= seja lá o que o Alex respondeu.

Trombei com um dos caras do lacrosse.

- Opa, Parker, cuidado - disse ele se equilibrando.

- Brad. Você viu a Zoe? - aproveitei a chance.

- Quem? - Ele acenou para uma garota ruiva passando ao longe.

- Zoe Carter.

Ele balançou a cabeça, ainda não fazendo ideia de quem eu estava falando. Você falha em me mostrar gratidão. Foi isso que Candy disse, certo?

Brad Summers diria "quem?" se perguntassem a ele sobre mim há alguns meses. Mas Candice me fizera entrar para o time e Brad me chama pelo sobrenome por que é algo que os caras fazem.

Tinha me esquecido sobre a total invisibilidade. Zoe e eu éramos bons nisso. Como no Halloween que vestimos um lençol com dois furos para os olhos e tentamos assustar crianças na rua, que só nos chamaram de idiotas. E na mesma noite, na festa da escola, alguém derrubou ponche no meu lençol e ela dividiu o dela, aí ficamos na sala do diretor com uma lanterna acesa por baixo da barraca de fantasia de fantasma. Ninguém nunca soube que estiverámos lá.

- ... gostosa da festa - concluiu Brad e senti que havia perdido alguma coisa.

- Sei... - falei para não parecer idiota. Acho que falhei.

- Enfim. Até mais. Espero que a Rita ou seja lá qual for o nome dela não te dê uma bronca se te ver de bobeira.

Rita era a bibliotecária. Se ele havia mencionado seu nome, poderia ser que é porque Zoe estava na biblioteca. Era um palpite tão bom quanto qualquer outro.

***

Zoe e Kat do Arizona estavam encostadas na sessão de biologia com um pacote vazio de balas jogado ao lado delas.

Me aproximei e vi as formigas por cima da bala esquecida no chão, provavelmente derrubada acidentalmente. Não vejo por que uma pessoa sã jogaria bala no chão de propósito, refleti.

- Ele é meio fofo. - A voz meio grossa, mas alta, de Kat me trouxe de volta à realidade.

- Acho que só foi divertido ser ofendido por mim - respondeu Zoe.

Cheguei por trás e vi que ela estava no perfil de Nate do Facebook.

- Aceita o convite de amizade, sua doida! - Kat tentou clicar na tela de Zoe e as duas começaram a rir. Pigarreei.

- Alex - constatou Zoe. - Autossabotagem, né? - adivinhou, jogando a cabeça pra trás e a batendo na estante.

Me agachei para ficar em seu nível, já que ela estava sentada, e nós rimos.

- Botar a cara nos livros? Você está fazendo do jeito errado - zombei e ela me empurrou.

Acabei sentado no chão também. Não era meu lugar favorito de sentar, diga-se de passagem.

- As formigas estão comendo nossa bala - comentou Kat.

- É verde. Talvez as façam lembrar de folhas - disse Zoe.

- Na verdade, as formigas usam as folhas para cultivar um tipo de fungo que serve de alimento. A folha não é o alimento em si - expliquei.

- Tão nerd - brincou minha amiga e puxou um livro de biologia da prateleira. - Aposto que sabe tudo. Vou abrir numa página aleatória e você tem que adivinhar as respostas.

- Divertido! - Kat disse com ironia.

Ouvi as páginas sendo viradas. Mas Zoe não disse nada. Abri os olhos. Caiu na página de reprodução humana. Constrangedor. Quer dizer, é só órgãos e ciência, mas ao mesmo tempo é mais do que isso.

- Divertido! - repetiu Kat.

- Você conhece o Nate? - Não sabia de onde aquilo havia surgido. - Eu sei que ele esteve no restaurante, na verdade. Estávamos no telefone. - As duas me olharam sem dizer nada. Me senti pressionado a continuar falando sem parar. - É o Nate, sabe, Zoe. Do dia em que nos conhecemos.

Ela fechou o livro e o pôs no lugar errado. Estiquei o braço por cima dela e arrumei. Ela pareceu nervosa. Apreensiva talvez. Estranho.

- Por que está perguntando dele? - disse ela finalmente.

- Vi no seu celular acidentalmente quando cheguei.

- Pff - soltou Kat. - "Acidentalmente". - Ela fez aspas no ar.

- Bom ver que sua audição funciona com perfeição - ironizei e ela sorriu.

- Tudo bem - interferiu Zoe. - Ele me adicionou no Facebook e daí?

- E daí nada. - Dei de ombros. - Só quis dizer que ele é legal, mas é encrenca.

- Tudo bem - respondeu Zoe.

- Tudo bem.

Nós Podemos Ter TudoWhere stories live. Discover now