18. Alex

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Eu nunca havia sido o tipo de cara de praticava esportes. Eu era o esquisito (embora minha mãe discordasse fortemente desse adjetivo para me descrever) bom em ciências, ótimo parceiro no laboratório de química e virgem viciado em Star Wars.

 Aí conheci Candice e, embora três das quatro coisas ainda fossem verdade, uma havia mudado: eu era o cara que praticava esportes.

 Gostei de ganhar alguns músculos e me sentir parte de uma equipe, mas os treinos acabavam comigo.  

 Sempre perto de um jogo de lacrosse tínhamos que dar ainda mais duro e o treinador era um pouco obcecado. Ele tinha aqueles olhos de gente louca e cuspia um bocado quando gritava (e ele fazia isso pra caramba.) Ninguém se atrevia a colocar a boca em seu apito.

 Minha semana passou se arrastando enquanto eu ficava depois da aula para o treino para o jogo de sexta. Mal havia visto Zoe, que começara a andar com outras pessoas. Reconheci apenas Kevin, do time, e Kat, claro.

 Tentei não me sentir traído, porque, afinal, nunca foi uma regra que não podíamos ter outros amigos, mas desde que Zoe havia contado sobre Nate as coisas pareciam diferentes. Não seria injusto da parte dela, já que eu não a excluíra quando comecei o namoro?

 Enquanto enxugava o suor com as mãos, refletia sobre como ela estava meio estranha mesmo antes de Nate. Depois do verão. Eu tinha feito algo errado? Como melhor amigo dela eu deveria saber, mas a resposta era um total mistério pra mim, como quem era Jack, o Estripador. Eu nunca fora nenhum Sherlock Holmes.

 Tentei de verdade aceitar nosso tempo juntos no ônibus, conversas e sonecas, mas parte de mim só conseguia pensar em como eu não queria perdê-la.

 No dia do jogo, gostei de ver Candice com seu cartaz cheio de glitter e a luva de torcedora. Geralmente ela e Zoe sentavam próximas, porém dessa vez localizei-a do outro lado, com a turma dos artistas. Pelo menos ela havia vindo.

 Kevin acenou e todos o cumprimentaram de longe. Zoe podia muito bem ter vindo pelo novo amigo, mas o sorriso dela em minha direção me disse que não havia o que temer: sempre amigos.

 Às vezes eu me permitia ter dúvidas sobre jogar, só não durante o jogo. A temperatura da minha pele parecia lava e eu respirava como o Darth Vader.

 Candice havia falado de mim para o treinador e ele deixou eu fazer o teste. Não achei que passaria, mas aqui estava eu, meses depois, sendo parte da vitória enquanto ela gritava em plenos pulmões e pulava.

 Sempre era uma bagunça quando o relógio zerava e um bando de caras suados só queriam se hidratar e tirar um cochilo ali na grama mesmo.

 Cansado, mas feliz, segui Zoe com os olhos enquanto ela se aproximava. Ela me deu um soquinho no ombro e limpou a mão na calça.

 - Primeiramente: eca, se permita demorar no banho. - Ela olhou para minha camisa grudando no corpo, depois se limitou a não desviar os olhos dos meus. - Segundo: você foi ótimo. - Ela me ofereceu um sorriso. - Um nerd bom em esportes. Quebrador de estereótipos.

 - Esporte. Singular - corrigi. Vi Candice se aproximar rápido, mas hesitar ao ver Zoe. Quando foi que elas pararam de sequer tolerar a presença uma da outra?

 Zoe percebeu e olhou pra baixo. Fique sem saber o que fazer exatamente. Como poderia resolver isso sem perder alguém?

 - Sabe, Alex, isso combina com você. A torcida, as pessoas… - Parte de mim se perguntou se ela queria dizer “pessoa”, se referindo a minha namorada. - Eu - continuou ela - sempre me contentei com a zona de conforto. Nunca te incentivei a procurar mais.

 O tom de adeus revirou meu estômago, que antes roncava por baixo do barulho que segue um jogo, ainda mais vitorioso, tirando minha fome. O que aquilo queria dizer? Queria tanto saber, ter a coragem de perguntar e apenas entender. Não queria mais adivinhar o que Candice, ou Zoe ou ninguém sentia. Queria que parassem de esperar que eu fizesse isso.

 Zoe costumava deixar tudo tão claro. Por que aquilo havia mudado?

 Candice deu um passo lento a frente e Zoe saiu com um aceno antes que eu pudesse dizer qualquer coisa. Que ela estava errada. Que eu tinha encontrado, sim, algo no lacrosse, mas nunca havia sido papel dela me fazer querer mais. Eu não queria mais. Até ter a oportunidade e aí tirar algo dela.

 Então abracei minha namorada e agradeci os elogios. Nossos amigos se aproximaram também, falando sobre comer com o time; amigos que pensei serem de Zoe também, mas que nem perguntaram por ela, que se afastava com aqueles novos amigos.

 Beijei Candice e me desculpei quando fui atrás de minha melhor amiga antes que fosse tarde, por mais dramático que isso parecesse em minha mente. Porque perdê-la só não era uma opção. Por nenhum motivo. Por motivos que eu nem mesmo sabia quais.

 - Zoe - chamei e ela se virou. - Onde vai? - Eu não tinha um plano além de impedi-la de decidir que não seríamos mais melhores amigos.

 - Comer pizza. Quer vir? - O fato de ela não precisar pensar antes de perguntar me encheu de alívio.

 - Se importam se eu for? - perguntei para o resto do pessoal.

 Kevin se prontificou em dizer que eu absolutamente deveria me juntar a eles, e, apesar dos olhares atravessados de Kat, ela não me impediu de segui-los até a pizzaria, onde comemos uma quantidade impressionante de, bem, pizza.

 Entendi porque Zoe passou a andar com eles. Mal conseguia engolir sem dar risada de alguma piada ou palhaçada.

 Estávamos todos amontoados em uma mesa; roubamos cadeiras vazias para todos se sentarem. O dia se transformou em noite rápido e eu levei Zoe pra casa.

 Na segunda-feira Chloe ia voltar pra casa com o filho que ela e Maggie adotariam, e Zoe ia pedir folga no trabalho na terça pra ir conhecê-lo. Me ofereci pra ir conhecê-lo com ela.

 - Acho que ele vai gostar de um garoto no meio de todas essas garotas que vão cercá-lo - concordou ela, com a mão pronta para abrir a porta do carro.

 Dei uma risada.

 - Que nada. Ele vai ter sorte. Ainda mais comendo a comida de Maggie em todas as refeições.

 - Ela vai fazer ele comer legumes, e você sabe: argh! - Zoe estremeceu.

 - Seu paladar é mesmo infantil - falei balançando a cabeça.

 - Prefiro chamar de simples.

 - E legumes são sofisticados? - indaguei rindo. Ela sempre tinha péssimos argumentos.

 - Cala a boca, sabe-tudo - brincou ela, me dando um empurrão não tão de brincadeira e saindo do carro. - A gente se vê logo - disse ela e eu sorri.

 Não um adeus; um “a gente se vê logo.” Eu podia trabalhar com isso.

Nós Podemos Ter TudoWhere stories live. Discover now