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Fabrizio sempre gostou do campo, desde criança amava ajudar o pai nos serviços da fazenda e adorava o contato com a natureza, a terra e o ar puro da toscana.

Aos dezoito anos, ele teve ainda mais certeza de que o seu lugar era no campo, quando teve que se mudar para capital para ingressar na universidade.

Ao contrário da maioria dos jovens universitários do seu curso, seus finais de semana não eram regados a festas e diversões, até porque o seu dinheiro não daria pra isso e também não lhe atraía nenhum pouco esse tipo de diversão.

É claro que ele teve os seus momentos de relaxar e curtir um pouco essa nova independência, mas geralmente fazia isso no cinema, ou numa noite de jogos com os amigos.

As garotas pareciam gostar da sua personalidade, o achavam um tanto misterioso e de vez em quando ele tentava manter um relacionamento com alguma delas, porém, numa universidade particular de alto prestígio nacional, onde ele não passava de um bolsista, era difícil continuar uma relação. Chegava a ser um insulto para a maioria delas, sair pra jantar no restaurante da esquina, ou esperar o namorado chegar de ônibus a qualquer lugar, contar para as amigas que ele trabalhava meio período como garçom e morava em um kitnet barato, então, nem se fala.

Quatro longos anos depois, Fabrizio ansiava mais do que tudo por voltar a sua amada terra, no Interior da Itália, porém, infelizmente ele teve que adiar seu retorno, a pedido do seu pai.

Os negócios agrícolas da família nunca foram grandiosos, mas, nessa época as dificuldades financeiras dos santori estavam mais evidentes, justamente por isso, todas as esperanças foram depositadas no jovem e único formado da família: Fabrizio.

No último ano da universidade, ele havia largado o emprego de garçom e conseguido um estágio em uma empresa de médio porte, que agora desejava contrata-lo como um funcionário fixo, com um salário melhor e uma pespectiva de crescimento profissional, ele poderia ajudar a quitar as dívidas que a fazenda possuía no momento e ajudar a manter as duas portas abertas.

Com o tempo, porém, Fabrizio não mantinha mais as mesmas esperanças dos pais, e mesmo após dois longos anos depois de haver se formado, ter subido de cargo duas vezes, os recursos que recebia não eram o suficiente para mantê-lo bem na capital e tirar a velha fazenda do pai do vermelho. As contas nunca pareciam bater, os juros eram desproporcionais e por mais que se esforçasse se sentia de mãos atadas.

Devido a toda pressão da situação, e ao cansasso mental que ela trazia, o senhor santori adoeceu algum tempo depois. O estresse e a preocupação o fizeram passar muito mau e Fabrizio, sem pensar duas vezes, largou tudo na capital e voltou a pequena cidade no interior da Toscana.

De volta a fazenda e agora a frente dos negócios, Fabrizio percebeu que o declínio econômico da família nós últimos anos, se devia principalmente a falta de supervisão de todo serviço. A idade avançada do pai já não lhe permitia fazer tantos esforços e os funcionários em quem confiava para supervisionar e manter a produção não estavam sendo honestos com ele.

Após descobrir um rombo enorme na contabilidade, Fabrizio escreveu sua carta de demissão a empresa na qual trabalhou desde que se formou em administração e decidiu que não sairia mais da sua terra e com suas economias e conhecimento faria a fazenda santori  prosperar novamente.

Foram anos de dedicação, esforço e estudos, mas, após o árduo trabalho realizado por Fabrizio, com a ajuda de alguns poucos funcionários que restaram, a fazenda aos poucos voltou a se reerguer e superar as expectativas de toda família.

A cada período as plantações estendiam um pouco mais suas extensões, máquinas modernas foram compradas para agilizar os processos, as negociações para venda dos produtos também fluiu de forma positiva, até que finalmente as contas fecharam e todos puderam respirar aliviados e felizes.

A meta agora era melhorar ainda mais as plantações nos vinhedos e Fabrizio sonhava iniciar uma pequena fábrica de vinho artesanal, mas, Ele também não tinha pressa, afinal, estava feliz de verdade agora, estava em casa, seu pai estava bem de saúde e ele podia comer a comida caseira da sua mãe todos os dias, diferente de quando estava na capital e tinha que cozinhar algo horrível pra comer sozinho ou pedir comida em algum restaurante, o que era raro, já que comer fora frequentemente também não cabia no seu orçamento.

Naquela manhã, quando acordou, Fabrizio tomou seu café na varanda com a família, como geralmente acontecia, em seguida beijou a sua mãe e partiu para uma palestra sobre vinhos artesanais na qual tinha se inscrito a algum tempo, e que aconteceria na cidade vizinha, Florença.

Depois do curso, a turma resolveu se reunir e beber alguma coisa, enquanto conversavam. Inicialmente ele não queria ir, mas, depois foi convencido pelos colegas da cidade que não o viam com tanta frequência.

A tarde acabou sendo mais divertida do que ele esperava, tomou apenas uma taça de vinho, já que voltaria dirigindo, mas, aproveitou de uma boa conversa e jogou dardos com a turma, ganhando da  maioria, por ser o mais lúcido presente na mesa.

Já era final de tarde, quando todos se despediram e Fabrizio ligou a velha picape para voltar pra casa. As estradas eram relativamente calmas, ainda assim, não gostava muito de viajar durante a noite.

Tentando aproveitar melhor a luz, ele pisou firme no acelerador, o que não se mostrou uma boa idéia, já que ma metade do caminho o sol já havia se posto de toda forma, e além disso, o motor do carro antigo começou a fumacar.

O fazendeiro reduziu a velocidade, e parou no acostamento para verificar o motor, o que também não adiantou muito, já que não entendia quase nada de mecânica.

Sem torre no celular e sem ter a mínima idéia do que fazer no motor, ele decidiu continuar dirigindo devagar e tentar chegar na cidade, no entanto, poucos metros depois a picape parou de funcionar de repente e o sinal do telefone ainda não funcionava no meio da estrada. Péssima idéia ter ficado até tão tarde.

Ele saiu do carro novamente e caminhou alguns passos fora da pista em busca de algum sinal, a região serrana era cercada por montes e olhando ao redor ele notou alguns bem altos e caminhou até um deles na esperança de que na altura o sinal do celular funcionasse de alguma forma.

Ao se aproximar um pouco mais, notou que próximo ao monte havia outro carro estacionado, a única luz presente era a do seu celular e ele usou a lanterna para inspecionar o veículo.

Completamente vazio, com a porta aberta e a chave ainda na ignição. Um conversível rosa que mais parecia um carro de boneca rica. Mas...
O que este carro estaria fazendo ali sozinho, fora da estrada e em condições tão estranhas?

Sem iluminação suficiente era difícil constatar qualquer perigo, a dois metros de distância ele já não conseguia ver nada, apenas a lua deixava uma luz tênue que não era o suficiente.

Em sua cabeça se passavam as piotes versões: Será que alguém  tinha obrigado a dona do carro  a parar no meio do nada e a sair do carro?

Olhando mais atentamente pra o veículo, notou uma bolsa feminina sobre o banco do passageiro e inquietou-se ainda mais.

Tentando ouvir algum som diferente, Fabrizio guardou seu celular no bolso e subiu o monte em um silêncio atento, quando de repente, como algo muito distante, ouviu um barulho de choro que se não fosse o silêncio total passaria despercebido.

Seguindo o som, que parou logo em seguida, o choque que Fabrizio sentiu o paralizou momentaneamente. Seus olhos já haviam se adaptado a escuridão e agora já conseguia enxergar um pouco melhor.

No alto do monte, caminhando em direção ao precipício, com os cabelos ao vento e uma expressão de total tristeza, estava a dona do carro de boneca. Sem ninguém a obrigar ou machucar, ela simplesmente caminhava para morte por conta própria.

Um...

Quando Fabrizio percebeu o que ela faria a seguir, saiu do seu estado de paralisia e subiu o monte o mais rápido possível, seu coração estava acelerado e ele não se sentia preparado para ver aquela cena.

Dois...

Apesar da sua voz ser apenas um sussurro, ele pôde ouvir nitidamente enquanto ela contava, parecendo extremamente concentrada nisso e completamente alheia a sua presença desesperada, enquanto isso ele torcia para que ela contasse só um pouco mais devagar.

Três...

Salva Pelo AmorWhere stories live. Discover now