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Após se afastarem relutantes, Fabrizio e Brigitte saíram para um passeio no jardim do hotel. Ele resolveu não tocar mais no assunto família ou o porquê da tristeza constante que acompanhava Brie, queria esperar um momento antes de abordar o assunto novamente, não gostava de ver a nuvem que se formava em seus olhos quando tentava desabafar, no entanto, sabia que na hora certa ela lhe contaria sobre tudo.

De mãos dadas, os dois esploravam o hotel e cada canto detalhadamente preparado para os hóspedes. O jardim estava florido e alegre e mais uma vez o jovem fazendeiro precisou se controlar para não beija-la entre as flores. Era tudo tão natural quando estavam juntos e ao mesmo tempo algo em seu corpo parecia tão inquieto.

Após caminhar e fazer algumas fotos, os dois foram ao restaurante do hotel, tomar o chá da tarde como planejado.
Brie agora parecia tão leve e tão presente. Foi extremamente especial, poder vê-la sorrir, sem uma nuvem ou uma expressão vazia no olhar.

- conheci mais da Itália passeando no hotel com você, do que em todo tempo em que estive aqui.– comentou ela, ainda sorrindo, enquanto sentavam em uma mesa reservada, com uma vista do jardim onde estiveram caminhando a pouco, mais cuidadosamente posta do que a mesa da ceia natalina em sua casa.

- poxa, se isso é tudo o que você conhece, eu vou mesmo ter que te tirar de casa nos próximos dias.

– sabe, Fabrizio, obrigada por se importar comigo. Desde o início, você mal me conhece e de repente estamos aqui.– enquanto falava, Brigitte procurou a sua mão sobre a mesa e a apertou entre as suas, seu olhar estava profundamente em Fabrizio e ele sentiu que precisava de muito mais daquele toque. Ele faria tudo novamente, dez vezes se fosse preciso.

– O que você fazia a caminho de cortona, quando nos conhecemos? Não onde nos conhecemos literalmente, mas, onde pretendia chegar, antes de parar ali?

- eu estava muito angustiada, isso é bem comum, na verdade, então eu liguei pra casa pra tentar conversar com alguém, mas, ninguém nunca consegue me entender, pra ser sincera, nem eu mesma entendo, me sinto além de tudo, culpada e egoísta.

Enquanto falava, ela desviou o olhar do dele e o seu rosto estava levemente corado, ela realmente parecia se culpar e se envergonhar pelo que aconteceu. Fabrizio pensou que ela se calaria, como das outras vezes, mas então, ela continuou.

– Todos me tratam como se eu ficasse assim por opção. Quando atendeu minha ligação, meu pai disse que estava ocupado demais pra ter que lidar com os meus mimos infantis e mandou eu desbloquear o cartão de crédito novo que ele me deu. Então eu obedeci e aluguei um conversível bem caro com meu novo cartão, e saí sem rumo, apenas pra fugir da realidade, ou tentar fugir da minha própria vida. Eu não pretendia pular quando cheguei naquele monte. Eu só subi e chorei até não ter mais lágrimas, mas... Em um certo momento parecia que se eu pulasse tudo iria passar.

Quando finalmente terminou de falar, os olhos dela já não seguravam as lágrimas, era a primeira vez que realmente falava sobre isso com alguém. Talvez fosse mais fácil se abrir com alguém que não conhecia e que em breve não veria mais, dessa forma não teria que suportar o julgamento tão pesado que depositavam sobre os seus ombros.

– eu sinto muito que você se sinta assim.– disse Fabrizio enquanto levantava a sua outra mão e dessa vez era a sua que cobria as pequenas mãos dela por cima da mesa.- isso tudo vai passar, você vai ver. Eu vou cuidar de você. Deixe eu tentar te ajudar Brie, talvez essa seja a minha missão, isso explicaria o porquê de eu me sentir dessa forma.

– olha, eu sei que na maioria das vezes não parece, mas, nos conhecemos apenas ontem, em circunstâncias no mínimo estranhas. Eu gosto de você, eu também sinto uma confusão de coisas e eu gostei da sua família, mas, não quero ser precipitada. Talvez fosse realmente melhor que eu me hospedasse em um hotel, ninguém me compreenderia se eu realmente ficasse na sua casa, tem dias que é tudo muito ruim, é sempre assim pra mim.

– nós temos um chalé atrás da fazenda. É mais reservado e está bem conservado. Nós alugavámos quando precisávamos de um dinheiro extra pra minha faculdade, mas agora está desocupado. Se preferir pode ficar lá, apenas fique perto.

- você deve ser um anjo que Deus mandou pra mim.- disse Brie, enquanto depositava um casto beijo no rosto de Fabrizio, mas que já foi o suficiente pra deixa-lo aquecido.

Em seguida os dois fizeram os pedidos e o assunto voltou a ser descontraído até o final do chá. Sem se estender por muito mais tempo, os dois partiram em seguida, ainda era preciso devolver o carro de luxo que ela havia alugado e procurar algo mais simples, mais a moda da fazenda.

Era impressionante como da mais profunda tristeza, os olhos de Brie agora brilhassem de entusiasmo, diante da espectativa dessa temporada na fazenda. Esperava que a vida no campo a realizassem mais, e que aos poucos sua alegria de viver fosse genuína em todos os momentos.

– Ainda gostaria de te mostrar alguns pontos aqui de Florença, eu amo a minha cidade, porém, também há coisas realmente muito boas por aqui. mas acho que ficará tarde para voltarmos. Podemos marcar um passeio na próxima semana, o que acha?

– Eu acho que podemos fazer isso tudo hoje e iremos pra sua casa amanhã de manhã, pelo menos não pegariámos a estrada a noite, além disso, a minha suíte tem muito espaço, podemos ficar lá.

Imaginar ter que dividir a suíte, por maior que fosse, com Brie, o deixava realmente tenso, porém, ao vê-la tão empolgada por fazer alguma coisa, Fabrizio sabia que faria o que ela quisesse, apenas para desfrutar daquele olhar.

– ok.– sua voz saiu mais rouca do que esperava e torceu pra que ela não houvesse notado. - então, esta noite nós vamos aproveitar um pouco mais de Florença.

O restante da tarde e a noite em Florença foram encantadores. O clima, o estilo que remetia ao passado dando um ar de mistério ao lugar, as construções belíssimas que pareciam intocadas pelo tempo, o movimento na área central e a calmaria de toda natureza que rodeava a cidade, tudo era indescritível, e Fabrizio mostrou a Brigitte tudo o que ele mais gostava no lugar.

Além dos pontos turísticos, a noite os dois jantaram em uma taberna no estilo medieval, onde a verdadeira pizza italiana era assada em um forno a lenha.

Tarde da noite, quando voltaram ao hotel ainda tomaram uma taça de vinho juntos, desfrutando da bela vista da suite.

– hoje você me deu um presente incrível, sabia? – disse Brie, enquanto apreciava o vinho escolhido por Fabrizio.

– é mesmo? E o que seria?

– um dia inteiro feliz. – Brie levantou-se e caminhou até mais próximo de Fabrizio e sentou ao seu lado aninhando a cabeça em seu colo, seu cheiro era maravilhoso e lhe deu vontade de mergulhar em sua nuca e beija-lo alí, mas o vinho e todos os acontecimentos do dia haviam a deixado tão sonolenta.

– tenho certeza que o seu dia não foi mais feliz que o meu.

sentir sua respiração próxima ao seu pescoço e a proximidade daquele corpo quente era realmente perturbador para Fabrizio. Um cheiro exótico exalava dos seu cabelos e Fabrizio não resistiu a toca-los. No momento em que se moveu para toca-los a cabeça de Brie escorregou do seu ombro e ele teve que segura-la a tempo. Parecia uma fada que havia adormecido em seu colo, ou uma sereia que o havia prendido em algum encanto e que agora dormia tranquilamente enquanto ele se agitava completamente por dentro, cada vez que ela expirava em seu pescoço.

Céus, o que estava acontecendo com ele? Quem era aquela mulher que revirava todo o seu interior?

Com todo autocontrole que possuía, o fazendeiro a tomou no colo e depositou o seu corpo macio e tentador na enorme cama, no centro do quarto. Ele tinha certeza de que aquela cama jamais caberia em seu quarto, porém, por maior que fosse, ele sabia que era pequena demais para deitar-se ao seu lado.

Com este pensamento, Fabrizio fechou as janelas e caminhou até o sofá, igualmente confortável para ele, onde passou a noite se revirando de um lado pra o outro, tentando em vão,  deixar de lado aquele feitiço que atraía a sua mente e o seu corpo inteiro para a cama no outro cômodo, porém, o seu cheiro embriagante estava em todos os cantos, o lembrando exatamente de cada detalhe daquele corpo sensual e daquele olhar profundo, que ascendia pra ele.

Sem sombra de dúvidas, aquela seria uma longa noite.

Salva Pelo AmorWhere stories live. Discover now