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"droga"

pensou Brigitte no momento em que ouviu uma batida na porta. Definitivamente deveria ter ficado em um hotel, agora era o momento em que ela teria que dar mil explicações sobre o que estava fazendo durante todo este tempo trancada, e ouvir que não tinha motivos para se sentir assim.

" Para de ser egoísta e ingrata, Brigitte"

" Compre um novo sapato e irá se sentir melhor"

" Tem tanta gente sofrendo de verdade, para de frescura"

Eram sempre as mesmas frases, já estava esgotada de ter que ouvir as mesmas coisas e se sentir ainda pior, porque no fundo, ela sabia que todos tinham razão.

Determinada a ouvir tudo e procurar um hotel nas proximidades, ela finalmente decidiu atender a porta. Seu corpo estava dolorido e a sua cabeça explodindo, levantou-se relutante e lentamente caminhou até o andar de baixo e abriu a porta.

Seu aspecto deveria estar no mínimo terrível, assim como o seu humor, mas também não tinha ânimo para se importar com isso.

Assim que olhou do lado de fora da porta, se surpreendeu com Fabrizio, que já estava pronto para abrir a sua fechadura, com uma cópia da chave, que teria sido colocada na massaneta, se ela não tivesse aberto exatamente naquele instante.

Isto era a gota d'água, absolutamente precisaria sair dali. Odiava as pessoas tentando controlar a sua vida e ainda por cima invadindo a sua privacidade daquela maneira.

- o que você pensa que está fazendo? Se tinha uma cópia da chave, por que não entrou logo ao invés de ficar batendo como um desesperado?

A expressão dele era de puro espanto, talvez imaginasse que ela ainda estaria dormindo, ou simplesmente não esperava conhecer o seu lado briguento naquele momento, mas Brie também notou a vergonha estampada nele.

- desculpa, eu só queria ter certeza de que você estava bem.- se explicou, enquanto voltava a guardar a cópia da chave no bolso.

Era certo que o chalé pertencia a família dele, portanto, seria extremamente natural que tivessem uma cópia da chave, porém, o fato de terem lhe oferecido hospedagem, não lhes dava o direito de invadir o seu espaço a qualquer momento, quando bem entendessem.

- estou muito bem, sim, mas sem dúvida alguma, estaria melhor se tivesse a minha privacidade de volta.

- eu sei, me desculpe. É que você estava dormindo a mais de vinte e quatro horas, não comeu nada ou bebeu desde ontem...

- eu já entendi. Agora é a parte que eu tenho que me justificar pra você. Olha, eu realmente não queria me hospedar na sua casa, foi você que insistiu para que eu ficasse aqui, nesse chalé. Agora imagina qual é a minha parte preferida ao me hospedar em um hotel de verdade? eu gosto dos hotéis porque me deixam em paz! Quantas vezes você já entrou no meu quarto desde que eu dormi?

- cinco vezes.- respondeu envergonhado, mas, decidido a não mentir.- Sei que se sente mal e que dormiu pra esquecer de alguma coisa. Sei também que nesse momento está agindo por impulso. Você não é assim Brie.

- você nem me conhece! De onde tirou esse papo de " eu não sou assim"?Minha própria família não me suportou, por que você acha que eles fizeram isso?

- porque foram idiotas o suficiente para não reconhecer que você está doente.

- o quê? Eu não estou doente, você está! A sua doença é ser extremamente obsecado pela minha vida!-enquanto gritava, ela também massageava a própria têmpora, tentando aliviar a dor e o estresse que a consumiam.

- escuta, vamos parar um pouco com isso tudo, tá bom? Eu trouxe o seu almoço. Vou sentar naquele sofá e esperar que coma e se acalme. Depois disso vamos conversar. Eu não vou em bora antes que isso tenha acontecido.

Ela não podia acreditar em tamanha ousadia. Sem ser convidado, ele simplesmente passou por ela e se sentou no sofá, como tinha alertado, e tudo o que ela queria era tira-lo dali.

- sua mãe disse que o trabalho na fazenda estava atrasado, talvez não seja a sua melhor escolha, ficar parado aí.

- já coloquei tudo em dias, mas posso atrasar novamente, sem problema algum, caso você resolva demorar muito.- enquanto falava, ele abria um recipiente de vidro com a comida que trouxe, a fumaça subiu assim que ele fez isso e o cheiro fez com que o estômago dela protestasse.

O observando melhor, por alguns instantes, sua expressão pareceu cansada e realmente preocupada, Brigitte finalmente se deu conta, do quanto estava irritada e descontando toda a sua raiva nele.

- ok, eu estou sendo uma nojenta, admito isso. Me desculpe. Só preciso recuperar minha dignidade antes de comer na sua frente, tenho certeza que estou com uma aparência horrível.- disse correndo para escada, para se preparar o mais rápido possível e poder comer alguma coisa.

- sua aparência nunca será horrível, mas, se vai se sentir melhor, fique a vontade, eu espero.

Ela realmente se assustou com o próprio aspecto, seu rosto inteiro estava inchado de tanto dormir, seus cabelos completamente desalinhados e parecia até que ela havia babado pelo canto da boca. Credo!

Após cuidar da sua higiene e melhorar um pouco mais a aparência, Brigitte retornou a pequena cozinha do chalé, onde Fabrizio a aguardava com a refeição. Sabia que ele não se contentaria enquanto não comesse alguma coisa, mas, aquilo não seria um sacrifício pra ela, depois de um dia inteiro sem se alimentar.

Ela comeu em silêncio, pensando em tudo o que tinha acabado de fazer e se envergonhou pelas coisas que disse.

- perdoe-me Fabrizio- disse quebrando o silêncio após a refeição. - eu não deveria tê-lo tratado como tratei, não sei explicar o que houve comigo.

- precisa aceitar que isso não é você Brie. Você está doente, e eu quero que me deixe ajudar.

- então, você acha que eu sou louca? Eu não queria admitir, mas, confesso que eu mesma já pensei sobre isso.- disse olhando para baixo, completamente envergonhada para encara-lo.

- claro que não. Eu não entendo muito sobre isso, mas, acho que você pode estar com depressão, ou algo assim.

- como assim? Eu tenho tudo o que qualquer um gostaria de ter pra ser feliz, é isso o que o meu pai sempre fala: beleza, muito dinheiro, posso viajar quando quiser... Que motivos eu teria para ser depressiva?

- a felicidade não está em coisas fúteis como dinheiro e beleza Brie. Ontem você estava feliz aqui, nessa humilde fazenda, morando um chalé que caberia no banheiro do seu quarto no hotel, e andando na minha picape velha. Vamos lá Brie, faça isso por mim.

- ok, tudo bem, eu vou considerar o que disse. Mas, terá que me entregar a cópia da chave do chalé.

- feito. Aqui está - depositou a chave em cima da mesa.- sua consulta já está marcada pra amanhã de manhã, agora venha comigo, eu separei esta tarde pra você.

Brigitte não conseguia ficar com raiva de Fabrizio, talvez todo o seu ataque tenha sido justamente por tê-lo visto muito pouco no dia anterior. Pegando a sua mão e sentindo todo o calor de seu toque, os dois partiram em direção aos currais da fazenda, onde um belíssimo cavalo já havia sido selado a pedido de Fabrizio desde a hora do almoço, quando decidiu que a acordaria de qualquer forma.

Após ajudá-la a montar, os dois partiram a galope por uma região montanhosa por trás da fazenda. A paisagem, como sempre, era deslumbrante, além disso, era maravilhoso para Fabrizio sentir o cheiro da natureza misturado ao perfume de Brigitte, que estava sentada na sua frente. Para ela, era inebriante a sensação de paz que a natureza trazia, misturada a segurança que sentia ao estar entre os braços dele, sentindo todo calor daquele corpo forte encostando no seu.

Salva Pelo AmorWhere stories live. Discover now