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Os primeiros dias após a consulta, não foram exatamente como Brigitte esperava. Os remédios não fizeram um efeito imediato, na verdade, alguns até lhe causaram efeitos colaterais, como náuseas e dores de cabeça, e muito nervosismo, porém, o médico também já havia alertado a ela sobre o fato de que isso poderia acontecer inicialmente.

Fabrizio todos os dias a visitava em seu chalé e tentava melhorar um pouco mais o seu humor, a incentivando a continuar e dizendo sempre que tudo ficaria bem, que logo tudo passaria..

Ela sabia que o tratamento seria longo, mas também estava disposta a enfrentar, afinal, aquela era a chance de ser realmente feliz, como ela sempre quis ser.

Somente cerca de duas semanas  depois daquela primeira consulta, ela começou a se sentir um pouco melhor e os tremores causados pelo nervosismo foram diminuindo, as náuseas, e dores eram cada vez menores, ela também já conseguia dormir melhor e de vez em quando se sentia genuinamente alegre outra vez, sem aquela constante sensação de angústia no peito, que mesmo nos momentos "felizes", permanecia lá, discreta, mais suave, porém, sempre estava lá.

E só agora, quando estava se sentindo  realmente livre, ela se deu conta de que a muito tempo não se sentia realmente feliz, mesmo quando imaginava estar bem.

Ela descobriu também, que não fazia nenhuma idéia de quanto tempo conviveu com aquele sentimento, ou quando ele realmente começou a lhe afetar realmente, simplesmente foi permitindo, mesmo sem perceber, que ele fosse tomando cada vez mais espaço dentro de si, até quase lhe consumir por completo.

Além dos medicamentos, Brigitte também passou a frequentar um psicólogo e seguindo as suas instruções, ela deveria se sentir mais útil, e também praticar alguma atividade física que estimulassem a sua produção de serotonina, um dos "hormônios da alegria" dos quais tanto precisava, mas que o seu cérebro já não produzia mais.

Era estranho como estava aprendendo a se reconhecer agora, aprendendo sobre o que se passava realmente no seu interior, de forma que jamais teria imaginado antes.

Para ajudá-la nessas questões também, Fabrizio, juntamente com a sua família, a levaram até uma instituição local, que abrigava e ajudava crianças órfãs.

A instituição era independente e dependia de doações e trabalho voluntário. O fazendeiro e a sua família inteira eram voluntários há muitos anos e assim que as contas da fazenda voltaram a se estabilizar, se tornaram doadores também.

Brie nunca tinha se sentido necessária para nada antes disso, nunca participou dos negócios da família, nem exerceu qualquer outra função. Por um momento ela pensou que não serviria para estar ali também, afinal, como poderia ser útil?

Conversando com a diretora do lugar, ela tentou fazer uma lista mental do que sabia fazer, então se ofereceu como professora de ballet e inglês para as crianças.

Nunca tinha visto o ballet como uma profissão, mas, o praticou durante muito tempo no colégio e realmente gostava disso e apesar do seu sotaque, o seu italiano também era muito bom e ela poderia ensinar o mais básico para comunicação das crianças.

Além das sessões de terapia, as aulas de ballet eram como um revigorante para sua vontade de viver e ser feliz,  a convivência com tantas crianças órfãs, o fato de poder ajuda-las de alguma maneira e ver um sorriso se formando em cada rostinho a enchiam de bons sentimentos.

Uma vez por semana, Antonella ia ao convento e contava histórias, brincava com as crianças e preparava guloseimas, Fabrizio e o pai faziam pequenos reparos na propriedade e jogavam futebol e Brie se dividia entre o ballet e o inglês. No final do dia todos se reuniam e oravam agradecendo pelo momento que passaram juntos. 

Salva Pelo AmorWhere stories live. Discover now