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Aceitando o conselho do Cavaleiro, seguiram viagem o mais rápido possível. Não queriam outro encontro com os homens que haviam fugido.

Thomas passou a maior parte do caminho pensativo. Pensava sobre o Cavaleiro, suas vestes, seus olhos, sua forma de agir e de lutar. Era algo realmente... intrigante.

Fantástico!

Avistaram, então, a grande construção de pedra escura. Bandeiras com a famosa rosa-vermelha estavam por toda parte. E uma dúvida surgiu na mente de Thomas.

— Como é a Rainha? — Virou-se para seu pai.

Lorde Marcell já havia se encontrado com Rose há muito tempo.

O pai fitou-o pensativo.

— A Rainha? Bem, quando eu a conheci ela era ainda muito jovem. Fazia apenas dois anos que tinha assumido o trono — disse, observando Thomas que ouvia atentamente. — Ela era exatamente como as pessoas diziam. Muito bela, como sua mãe, educada e graciosa como qualquer outra Rainha. Mas não pense que isso a torna uma Rainha comum. Não, não.

Thomas estava intrigado. Aquela era a primeira vez que visitava o Castelo. A primeira vez que veria a Rainha.

— Ela sempre foi muito esperta — continuou seu pai. — Apesar de muito jovem, possuía uma incrível sabedoria para governo e para batalha. Ela liderou seu próprio exército em todas elas desde sua coroação.

Uma Rainha no campo de batalha? Thomas estava surpreso.

— Me lembro da primeira vez que a vi. Não esboçava uma só expressão, apenas me fitava com seus olhos frios e penetrantes. Dizem que ela consegue arrancar seus segredos mais profundos só com um olhar. Eu fiquei aterrorizado.

Thomas não pôde deixar de sorrir. Nunca imaginou seu pai, o todo-poderoso Lorde Marcell, com medo de uma jovem Rainha.

— Não a subestime filho — alertou, apontando o dedo indicador para Thomas que achava toda aquela situação engraçada. — Esse foi um erro que muitos cometeram. Ela age educadamente e fala calmo. Quando você a olha, vê apenas uma jovem, com fardos pesados demais para carregar, e não uma pessoa estrategista, fria e cruel que muitos dizem que é.

Desviou o olhar de Thomas e fitou as altas árvores que passavam a medida que a carruagem se movimentava lentamente.

Voltou sua atenção para Thomas e continuou:

— Antes de conhecê-la, já tinha ouvido diversas histórias sobre ela. Histórias aterrorizantes sobre o quão cruel ela poderia ser. Diziam que ela poderia ordenar sua morte com a mesma naturalidade como se pedisse por uma taça de vinho. E que para ela, tirar a vida de alguém é algo tão simples quanto piscar os olhos. Nunca presenciei nada que pudesse provar a veracidade dos boatos ou explicar o porquê de sua terrível fama, mas há algo que notei no curto período em que passei com a jovem Rainha: ela é uma pessoa muito observadora. Enquanto você fala, ela te observa atentamente, procurando suas fraquezas, mas você nunca saberá quais são as fraquezas dela. Você pode vê-la sorrindo, mas não significa que ela esteja feliz, e seu rosto bonito e inexpressivo não te deixa saber o que ela está de fato pensando. Isso é realmente assustador.

Tudo bem, agora Thomas estava um pouco assustado.

Já ouvira várias histórias sobre a crueldade da Rainha, mas achou que eram exatamente isso, histórias.
  
  
Os grandes portões de ferro, que davam acesso aos terrenos do Castelo, foram abertos, dando passagem para a carruagem em que o Lorde Marcell e seu filho estavam.

A carruagem passou por um grande jardim de grama-baixa bem cuidada, repleto de flores de todos os tipos. Em especial, rosas-vermelhas. E continuou por alguns instantes, seguindo o caminho pavimentado de pedras e parou no Grande pátio em frente ao Castelo.

Foram recebidos por um jovem alto e moreno, de olhos amendoados e muito sorridente. Ele trajava uma armadura parecida com a que Thomas tinha visto alguns momentos atrás, a única coisa diferente era que a dele possuía detalhes em ouro e rubis, o que deixava claro que ele possuía muito dinheiro.

— Alteza — Lorde Marcell o cumprimentou, fazendo uma reverência. — Esse é meu filho mais novo, Thomas.

Thomas seguiu seu pai e fez uma reverência diante o homem à sua frente.

Aquele era o Príncipe Daehan.

— Sejam bem-vindos. — O Príncipe sorriu amigável. — Lamento em dizer que a minha irmã não poderá se juntar a nós, ela tem muitas ocupações no momento. A celebração será daqui a quatro dias.

Muitos julgariam o fato de Rose não receber seus nobres pessoalmente, mas a verdade era que ela não se importava nem um pouco. Nunca gostou ou seguiu esses protocolos da realeza, e gostava muito menos de confraternizar com os nobres. Fazia isso apenas quando era necessário, e naquele momento, não era.

— Nós entendemos perfeitamente, Alteza — Lorde Marcell falou sorrindo. — Diga a Sua Majestade para levar o tempo que for necessário.

O Príncipe assentiu simpático.

— Suas bagagens serão levadas aos seus aposentos. Venham, vamos tomar um chá ou uma boa dose de conhaque. — Indicou o caminho, sendo seguido por Thomas e seu pai.

O Príncipe os guiou por várias partes do Castelo, era uma construção impressionante.

Passaram pelo Grande salão de festa, que estava sendo decorado para a celebração dos próximos dias. Por diversos corredores, pela sala do Conselho e por fim, a Grande sala do Trono.
Era ampla, com grandes janelas que iluminavam todo o ambiente. Em uma parte mais elevada, estava um grande trono dourado. A sala estava ornamentada com algumas cortinas em tons escuros e nas paredes havia diversas pinturas.

— Esses são os Grandes Reis de Ennord — disse o Príncipe.

Thomas viu a pintura do primeiro Rei de Ennord, Stefano. Era um homem calvo, de barba rala e feições cansadas. Bem diferente das descrições que Thomas havia lido sobre ele.
Ao lado do Rei Stefano, estavam outros Reis dos quais Thomas nunca ouvira falar.

Caminhou, observando mais algumas pinturas e parou ao ver a que representava o Rei Lucius. Ele possuía cabelos lisos na altura dos ombros, um nariz proeminente e algumas rugas na região dos olhos. Era um homem de feição rígida.

Thomas não deixou de notar as semelhanças entre Daehan e seu pai. Os cabelos lisos e negros, olhos amendoados e pele clara. A única coisa em que Daehan não parecia nada com o seu pai era o fato de estar sempre sorridente.

Viu uma pintura da Rainha Anna. Ela estava sorrindo. Tinha cabelos que caíam em cachos até a cintura e usava um lindo vestido dourado que contrastava com seus olhos escuros, sua feição era serena e delicada.

Thomas não sabia explicar como, mas sentia-se calmo ao olhar para a imagem da Rainha. E constatou os boatos sobre sua beleza, ela era realmente uma mulher muito bonita.

Havia apenas mais dois quadros.

O primeiro era do Príncipe Daehan. Assim como sua mãe, ele estava sorrindo, e usava roupas tradicionais da realeza em tons de azul. Talvez fosse apenas alguns anos mais novo quando fora retratado naquele quadro.

Por que sua pintura está junto à dos Reis? Thomas se questionou.

— Minha irmã quem ordenou que colocassem aqui um quadro meu — Daehan falou ao perceber o olhar confuso de Thomas. — Como sabem, os quadros são reservados apenas para os Reis e Rainhas e como eu sou apenas um Príncipe, não teria um quadro meu até me tornar um rei, mas Rose mandou que fizessem.

Rose sempre dizia a seu irmão que ele era mais importante do que qualquer outro rei de Ennord.

Thomas olhou para o Príncipe, que sorria ao falar de sua irmã, e andou em direção ao último quadro. O da Rainha Rose.

Era o maior quadro da sala, uma pintura de corpo inteiro da Rainha. Ela, diferente do seu irmão, se parecia muito com sua mãe. Os mesmos cabelos cacheados caíam em uma negra cascata até o meio de suas costas, seu tom de pele era mais escuro que o de Daehan. Estava usando um longo e elegante vestido vermelho, mas não usava coroa, apenas um colar. O colar da Rainha.

Todos os grandes Reis e Rainhas de Ennord possuíam um colar que representava seu grande poder e sua importante posição hierárquica. O de Rose era relativamente simples, de ouro e com apenas um grande rubi no centro.

Thomas ficou alguns minutos fitando aquela mulher e não pôde deixar de perceber os negros olhos. Mais escuros do que os de sua mãe. Ela olhava diretamente para frente e, assim como o seu pai, não sorria. Mas ainda assim, impressionava com sua beleza.

Saindo da sala do trono, seguiram até uma pequena varanda onde estava uma mesa e algumas garrafas sobre ela.

Aquilo definitivamente não era chá.

A Rainha de Ennord Onde histórias criam vida. Descubra agora