6- A Verdade🌹

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A noite chegara e o jantar para dar início as festividades seria servido. Todos estavam sentados em seus devidos lugares ao longo das enormes mesas de madeira posicionadas paralelamente no salão principal.

Estavam aguardando a Rainha.
Rose trajava um belo e comprido vestido azul. Vários anéis e brincos de ouro, e seu colar de rubi.

Estava acompanhada de Daehan que usava vestes formais de gala na cor vinho, o que destacava muito em sua pele um tanto clara.

Entraram no salão, sendo recebidos por todos com reverências. Sorriram e tomaram seus lugares na mesa principal, onde apenas os nobres mais importantes sentavam-se junto à Rainha.

Estavam na mesa: Rose, Daehan e Robert; Joseph e seu irmão, e Theodor, Rei de Seam.
Theodor havia chegado enquanto Rose estava em sua caçada e, por estar cansado da longa viagem, ele cochilava em seu assento, despertando sempre que a sua cabeça tombava para os lados.
Edward, Rei de Lowe, chegaria apenas pela manhã.

— Então Majestade, algum futuro pretendente? — Joseph perguntou repentinamente. Rose sabia que uma hora ou outra a conversa sobre seu casamento viria a ser discutida. Isso sempre acontecia.

— Não.

— Vossa Majestade não quer se casar? — Dessa vez foi Vince quem perguntou. — Não pensa em ter filhos? Herdeiros do trono?

— Um casamento com algum rei faria de você uma Rainha muito poderosa — Joseph completou.

Rose sorriu sem mostrar dentes.

— Mas eu já sou. Nos últimos dez anos, Ennord se tornou a maior e mais poderosa nação dos Quatro Reinos. Com uma Rainha no poder, e não um rei.

Daehan não pôde deixar de sorrir. Adorava ver os rostos desgostosos dos homens sempre que ouviam as palavras de Rose. Eles sabiam que era verdade, mas não gostavam de admitir que uma Rainha, de apenas vinte e cinco anos, era mais poderosa que todos eles.

Fez-se silêncio por alguns minutos. Rose comia tranquilamente sua comida, enquanto Joseph e Vince mexiam-se visivelmente desconfortáveis em seus lugares.

— Você — Joseph falou, apontando para Robert. — Você é casado?

Robert olhou de canto de olho para Rose, o que fez Daehan sorrir.

— Sim, Majestade. Eu sou.

Joseph soltou um suspiro de reprovação.

— Que pena. Gostaria de casá-lo com uma de minhas filhas. — Sorriu. — É uma filha fora do casamento, verdade, mas é reconhecida como legítima, apesar de não ter direito à sucessão do trono. É a mais velha, Lya. Ela já está na idade de se casar, mas ainda não achei um pretendente à altura.

— E por que acha que eu estaria à altura de me casar com sua filha? — Robert perguntou tímido.

Joseph apenas sorriu e bebeu mais um gole de sua taça de vinho. Perdera as contas de quantas havia bebido a partir da sétima taça, e já sentia os efeitos do álcool pesando suas pálpebras e o fazendo enrolar as palavras.

— Não sei, gosto de você. Você me lembra alguém do passado. — Piscou. — E também, você é uma das pessoas do círculo íntimo da Rainha.

— Fico honrado, aceitaria com todo o prazer caso não fosse comprometido. — Robert fez um leve aceno com a cabeça. — Mas devo informá-lo que o Príncipe Daehan está solteiro.

Sorriu para Daehan que o fulminou com um olhar.

— Sério? O que acha da proposta, Alteza? — Joseph parecia esperançoso. — Lya é realmente uma mulher muito bonita e educada. É muito boa em cozinhar e limpar. Seria uma ótima mãe para seus filhos.

— Estou certo que sim, Majestade. Mas terei que recusar — Daehan falou educadamente. — Eu não me sinto atraído por mulheres.

Daehan nunca viu problemas em discutir seus gostos pessoais abertamente, mas diferente de Rose, que sempre o apoiou muito nesse assunto, as outras pessoas não se sentiam confortáveis e muitas vezes o criticavam, obviamente, pelas costas.

Joseph engasgou-se com o vinho que estava tomando, seu irmão dava batidas em suas costas para ajudá-lo. Após se recompor, com os olhos lacrimejando e respirando fundo, Joseph tentou fingir uma expressão natural.

Rose estava rindo. Havia parado de comer e agora observava aquela situação um tanto cômica.

— Oh... — ele não sabia o que dizer. — Certo.

— Case-se com um dos filhos, então — Robert contrapropôs.

Ele se divertia muito ao ver o Príncipe o olhar feio. Robert estava tendo sua pequena vingança pelo que Daehan havia dito sobre seu casamento e os seus sentimentos por Rose.

— Meus filhos são muito jovens ainda, Alteza — Joseph apressou-se em responder, fazendo Rose rir ainda mais. — O segundo mais velho tem apenas doze anos.

— E o primeiro? — Robert brincou.
Joseph baixou a cabeça. Fitava seus dedos pousados sobre a mesa.

— O primeiro morreu há muito tempo — falou baixo. — Ele teria quase trinta anos se estivesse vivo.

Virou mais uma taça de vinho.

— Sinto muito, Majestade. Eu não sabia — Robert desculpou-se.

— Tudo bem. — Sorriu sem graça. Ficou em silêncio por alguns minutos e se levantou. — Peço perdão, Vossa Majestade. Acho que está na hora de me retirar. Bebi demais.

Sua cabeça rodava e suas pernas doíam, e ele resolveu que era hora de ir para seus aposentos. Já não era tão disposto e cheio de vida como costumava ser.

— Tenha um bom descanso — Rose falou cordialmente.

— Obrigado.

Depois de todos comerem, Rose levantou-se e caminhou até o centro do salão. Todos a seguiram com o olhar.

— Bem, como todos sabem, amanhã completará dez anos de meu reinado — falou e todos concordaram com a cabeça. — Dez anos podem parecer pouco para alguns de vocês, mas é quase metade de minha vida. Dez anos em que dediquei todas as horas dos meus dias trabalhando duro para tornar Ennord o que é hoje. Houve tempos difíceis, assim como em todos os outros reinados que vieram antes de mim, mas conseguimos. Eu consegui, mesmo com todos dizendo que não conseguiria. Agradeço aos que me ajudaram ao longo desses anos, quando eu era apenas uma garota assumindo a grande responsabilidade de governar. Já aos que desejaram e conspiraram para o meu fracasso, só posso dizer que dez anos se passaram e estou aqui, no mesmo lugar em que pretendo estar por muito tempo. Obrigada.

Todos aplaudiram fervorosamente.

— Vida longa à Rainha! — A multidão gritava.

Rose sorriu.

— O jantar de hoje foi apenas o início das comemorações, amanhã teremos os duelos de espadas. Irei me retirar agora, tenham todos um bom descanso.

Ouviram-se os gritos de entusiasmo de todos presentes.

Rose saiu e foi em direção aos seus aposentos. Estava cansada do longo dia e só desejava que tudo aquilo acabasse o mais rápido possível para que pudesse voltar com a sua rotina como Rainha, o que não incluía hospedar tantos nobres.

Observava atentamente, enquanto andava pelos longos corredores do Palácio. Palácio esse que governava há dez anos.

Dez anos!

A memória do dia quem que assumiu o trono estava fresca em sua mente. Foi apenas um dia após o falecimento do Rei Lucius.
Ele estava de cama, sofria com dores intensas e febre alta. A queda do cavalo havia resultado em uma grave fratura em sua cabeça. Os médicos disseram que não havia mais esperanças e Rose ficou ao lado de seu pai até o momento de sua morte. Não porque estivesse triste ou arrependida, mas para cumprir a promessa de que o rosto dela seria a última coisa que ele veria.

Vejo você no inferno — disse, olhando o seu pai fechar os olhos lentamente.

Com a notícia da morte do Rei, todos no reino ficaram exaltados. Rose assumiu o trono, para a preocupação e desgosto de muitos.

A Rainha de Ennord Where stories live. Discover now