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— Mas a Rose não aceitou muito bem, não é? — Thomas perguntou divertido, ele sabia a história, Rose já o havia contado.

— Não, ela não aceitou. — Daehan revirou os olhos e sorriu. — Ela ficou grudada em mim como uma sombra por semanas, queria ter certeza que era realmente o que eu queria. Mas ela aceitou, por fim. Mesmo quase tendo voltado atrás depois que me viu matar alguém pela primeira vez.

Thomas olhou para Daehan com curiosidade. Rose disse que ele havia ficado mal quando tirou a vida de alguém pela primeira vez, mas não deu muitos detalhes.

— Como aconteceu?

— Estávamos cavalgando nas florestas. O exército de Ennord já era um exército bem poderoso, mas não se comparava ao que é hoje, e minha irmã era mais rígida em relação à minha segurança do que é hoje. — Sorriu. — Mas eu consegui convencê-la a irmos sozinhos. Nada poderia acontecer, certo? Eu estava na companhia da pessoa que alguns poucos anos mais tarde se tornaria o famoso e temido Cavaleiro Mascarado. Estávamos voltando para o Castelo, quando uma flecha atingiu o cavalo de Rose. Não era o Dark, por alguma razão Rose não o havia levado. O cavalo caiu com um baque audível e Rose foi arremessada alguns metros de distância. Ela não ficou gravemente ferida, mas havia um corte em sua perna que não a permitia andar no momento. Eu desci do meu cavalo para ajudá-la, e foi quando um homem apareceu. Não o conhecíamos, ele também não falou nada, apenas partiu pra cima da Rose que, sendo Rose, me mandou ir embora, mas obviamente eu não fui. Ela não conseguiria lutar, mal conseguia manter-se em pé. Então, eu peguei sua espada e fui na direção daquele homem. Foi tudo muito rápido, não tive chance de pensar ou analisar o que estava fazendo. Mas em um momento em que o homem baixou a guarda, eu o apunhalei com a espada. Eu o matei.

Olhou para Thomas que ouvia atentamente toda a história. Thomas imaginava como aquele devia ter sido traumático para um garoto de catorze anos. Ele aos seus vinte e seis, nunca sequer feriu alguém gravemente.

— Eu fiquei ali, observando o sangue escorrer pelo chão de terra — continuou Daehan. — E eu só conseguia pensar em qual seria o nome daquele homem, se ele tinha família, filhos talvez. Mas aí eu olhei para Rose ali machucada, mas me dizendo que ficaria tudo bem e que eu fiz o que deveria ser feito, e foi nesse momento que eu percebi que faria qualquer coisa para protegê-la. Eu tinha entendido que o que eu fiz foi necessário, era ele ou a minha irmã, mas eu continuava pensando sobre aquilo. Com o tempo fica mais fácil. Quando você é general de um exército, você sabe que para vencer uma batalha, pessoas terão que morrer. Não é uma escolha fácil, mas é necessário e você aprende a lidar com isso.

Deu de ombros.

— Acho que eu nunca me acostumaria com algo assim — Thomas disse baixo.

Daehan o olhou por alguns segundos. Seus cabelos negros, agora mais compridos do que o de costume, estava um pouco bagunçado pelo vento. Seus olhos amendoados tinham um brilho que sempre passavam um sentimento de alegria, agora estavam um pouco mais sérios.

— Então você está no lugar errado — disse ele. Apesar daquelas palavras causarem um arrepio em Thomas, ele entendeu o porquê de Daehan o dizer aquilo. Daehan estava certo, ali não era lugar para alguém como Thomas. Alguém que não consegue sequer vencer uma luta.

Ele sabia que não conseguiria ferir alguém, mesmo se esse alguém fosse um inimigo. Ele sempre esperava que não fosse preciso. Adiaria esse acontecimento o máximo que pudesse.

— Você está certo — Thomas falou sorrindo. — Por isso que pretendo ficar por perto de você ou da Rose para que eu não precise ferir ou matar ninguém.

Daehan sorriu.

— Me chame se precisar matar alguém — falou divertido. — Ou apenas ensinar uma lição.

— Qualquer pessoa? — Thomas perguntou sugestivo e Daehan concordou com um aceno. — Robert...

Daehan fechou o sorriso e o encarou por alguns segundos. Logo depois, jogou a cabeça para trás e caiu na gargalhada. Uma risada alta e contagiante que fez Thomas rir também. Daehan era alguém contagiante.

— Desculpe, amigo. Isso aí é entre vocês e minha não tão doce irmã — falou, enxugando as lágrimas que escorriam por causa da risada histérica.

Permaneceram assim, conversando e rindo por várias horas.


Thomas acordou cedo, apesar de ter ficado até altas horas da noite conversando com Daehan. Mas seu rosto cansado deixava claro as poucas horas de sono dormidas.

Arrastou-se lentamente até a sala do Conselho e encontrou Daehan conversando com o garoto Jacob.

— Ah! Thomas — Daehan falou animado. Mais do que Thomas achou que ele estaria. Thomas nunca conseguiria entender como o Príncipe conseguia ser tão animado em todos os momentos. — Dormiu bem?

— Não muito — Thomas confessou e Daehan sorriu. — E então, o que temos para fazer hoje?

— Estão chegando alguns carregamentos de alimentos — Daehan informou. — Você deve verificar tudo.

— Claro — Thomas disse.

— Ah! Sim, quase me esqueci — Daehan falou, parecendo lembrar-se de algo. — Chegou uma encomenda para você.

Thomas franziu o cenho. Ele não esperava nenhuma encomenda.

— Para mim? — perguntou e Daehan confirmou. — Tem certeza?

— Sim. Está no Grande pátio.

Thomas, ainda confuso, saiu na direção das grandes portas de madeira que levavam ao pátio. Daehan o seguia.
Talvez seja presente dos meus pais, Thomas pensou.

Ao chegar no pátio, Thomas franziu o cenho em confusão, não havia nada ali além de um grande cavalo branco.

— Onde está a encomenda? — perguntou para Daehan.

— Está bem aí — Daehan indicou o cavalo. — É um cavalo do Norte. São conhecidos por serem rápidos e extremamente companheiros.

— Mas esse cavalo não é meu — Thomas o encarou confuso.

— Alguém o enviou para você — Daehan falou despreocupado.

Thomas o encarou por alguns segundos, mas rapidamente a resposta veio em sua mente, o fazendo sorrir. Ele sabia quem o havia mandado aquele cavalo.

— Mas eu perdi a aposta — falou baixo, se aproximando do cavalo.

— O quê? — Daehan perguntou confuso. Não entendia sobre o que Thomas estava falando.

— Sua irmã, nós havíamos apostado. — Thomas sorriu. — Se eu a vencesse em um duelo, ela me daria um cavalo.

— E você a venceu?! — Daehan se espantou.

— Claro que não — falou e Daehan suavizou a expressão de espanto em seu rosto. — Por isso não entendo. Por que ela me daria o cavalo se fui eu quem perdi a aposta?

Daehan revirou os olhos.

— Você é burro ou o quê? — perguntou impaciente e Thomas o encarou espantado. — Isso é um presente, Thomas. Minha irmã te enviou um presente. Isso é bem injusto já que eu não recebi nada e meu aniversário será em algumas semanas.
Fez um bico desapontado.

Thomas não respondeu. Não sabia sobre o aniversário de Daehan até aquele momento, mas ele procuraria um bom presente para dar a ele depois. Também não seguiu o Príncipe de volta para dentro do Castelo. Apenas ficou ali, alisando aquele lindo cavalo branco em sua frente.

Não queria parecer um idiota criando expectativas, mas estaria mentindo se dissesse que aquilo não o deixou com um pouco mais de esperança.

Um presente de Rose. Ele sorriu largamente.

A Rainha de Ennord Where stories live. Discover now