02. help michael

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— michael!

— Michael, ainda está aqui? — Ben disse, tentando chamar a atenção de Michael Langdon.

Havia apenas uma semana e meia desde que o garoto tinha conhecido o homem, no infeliz dia em que sua avó Constance tinha se matado. Ele não conseguia deixar de se sentir culpado, Michael tinha feito coisas horríveis contra a mulher, coisas que desejava não ter feito. E foi no seu pior momento que Ben Harmon — um dos muitos espíritos da casa — apareceu, dizendo que o menino não era uma criatura desprezível, mas que só precisava de um empurrão na direção certa.

Ele queria ser bom desesperadamente, então não hesitou em aceitar a ajuda do homem. Michael devia isso à Constance.

— Você parece um tanto desligado hoje — o fantasma continuou.

E, de fato, ele estava.

— Eu estou apenas pensando — o rapaz falou, levantando o olhar.

— No que, exatamente? — A voz de Harmon era terna, devido à sua experiência como psiquiatra ainda vivo.

Michael se remexeu e cruzou as pernas sobre o sofá. Ele ainda não tinha se acostumado completamente com aquele corpo maior, então qualquer posição acabava se tornando desconfortável.

— Essa noite eu tive um sonho — contou, abaixando a cabeça novamente e começando a puxar os fios soltos dos rasgos da sua calça jeans.

— Foi um pesadelo?

O Langdon negou com a cabeça.

— Foi só... Estranho. — Tentou explicar, enquanto algumas imagens começavam a brotar em sua mente. — Como um aviso.

— Quer me contar sobre o que era? — o psiquiatra indagou, o fazendo suspirar.

— Tinha uma garota. — Michael piscou algumas vezes, tentando se recordar dos detalhes de seu rosto. — Por algum motivo, eu estava furioso com ela. Tudo que eu queria fazer era matá-la.

— Você a conhece de algum lugar? — O homem ergueu a sobrancelha. — Imagina uma razão para estar irritado?

— Não e não — o garoto vivo respondeu balançando as pernas, inquieto. — As vozes me alertavam para tomar cuidado, mas eu não sei por quê.

— Vozes?

— É. — Assentiu. — Várias delas, como sussurros.

— Você já experienciou essas vozes alguma outra vez? — Harmon inquiriu, anotando algo que Michael não conseguiu ler em seu bloco de notas.

O rapaz aquiesceu.

— Mas geralmente são os espíritos daqui, você sabe que eles sussurram coisas ruins sobre mim — ele explicou. A casa na qual se abrigava após a morte de sua avó era uma armadilha para almas, assombrada por mais de trinta espíritos. Alguns deles eram bons, como Ben; outros eram hostis, como os que perseguiam Michael e falavam coisas maldosas sobre sua natureza. — Dessa vez, não parecia nada com eles.

O psiquiatra coçou o queixo por um momento enquanto processava as palavras do mais novo.

— Talvez, essa garota represente as mudanças pelas quais você está passando — sugeriu. — A morte da sua avó, a casa... Como você se sente em relação à isso pode ter se manifestado na raiva e ressentimento que sentia pela menina do sonho.

— É, talvez seja isso — Langdon murmurou, mesmo que não muito convencido.

Um pressentimento o dizia que não demoraria muito até ter uma resposta mais esclarecedora.

ME AND THE DEVIL ➸ michael langdonOnde histórias criam vida. Descubra agora