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Blair limpou o sangue da boca com as costas da mão e escancarou as presas para o licano que havia espetado contra um pinheiro com sua lâmina banhada em prata. O envenenamento de seu sangue pela prata o forçou a reassumir a forma humana, e ele estava nu, com a cabeça caída sobre o peito e a respiração curta e acelerada.

- Vocês sabem de quem é esse sangue - ela falou mais uma vez, sacudindo um pedaço de pano ensanguentado sob o nariz dele. - Qual de vocês sequestrou a pilota no aeroporto de Shreveport?

- Vai se foder, vagabunda. - Ele disse quase sem fôlego, agarrando o cabo da espada, mas sem força para conseguir arrancá-la do tronco da árvore atrás de si.

- Podemos ficar aqui o dia todo.

Ele ergueu a cabeça e a olhou por baixo de uma cabeleira ruiva um pouco mais clara que a dela.

- Eu vou estar morto em uma hora. E você não vai arrancar nada de mim.

-  Você só vai cair morto depois que me disser o que eu quero saber.

- Está latindo para a árvore errada, cadela. - Ele tentou rir da própria piadinha infame.

- Como você é engraçadinho. - Ela o pegou pelo queixo e levantou sua cabeça. - Vejo em seus olhos que você sabe do que estou falando. Basta dizer um nome que sua dor logo acaba.

Ele mostrou o dedo do meio.

- Está vendo isto aqui?

Blair encarou o licano com a mandíbula cerrada, perguntando-se se ele podia ser o responsável pela morte de seu companheiro. Era algo que a atormentava toda vez que ficava frente a frente com um deles. Ela precisava acreditar que o culpado ainda estava vivo, escondido em algum lugar, esperando para sofrer as mesmas atrocidades que havia cometido contra seu amado Charron.

- Quantos vampiros você já matou, cão?

- Menos do que deveria.

- Ele é jovem. - Disse Salem atrás dela, distraindo-a momentaneamente com sua nova coloração de cabelo, um tom de azul-escuro. Ele tinha sorte de ter feições tão clássicas — a beleza de seu rosto se mantinha qualquer que fosse a cor com que cobrisse a cabeça. Mas ele era também um sujeito durão, um tremendo filho da puta. Caso não fosse, já teria sido morto fazia tempo, já que sua cabeça colorida o transformava num alvo ambulante.

Ela observou o rosto do licano. Olhando além da dor e da exaustão que o maculavam, ela conseguia ver que ele era jovem. Talvez jovem até demais.

- Quantos anos você tem?

- Vai tomar no cu.

Inclinando-se para a frente, ela o olhou nos olhos.

- Estou quase me decidindo por soltar você, seu idiota. Vê se não estraga tudo.

O ruivo a encarou.

- Cinquenta.

Não era ele. Devia ser só um filhotinho de cinco anos quando Charron morreu. Ela arrancou a lâmina da árvore e viu o licano ir ao chão.

- Vá procurar o desgraçado que sequestrou a minha amiga. Diga que Blair está no encalço dele. Diga para ele vir me encarar como um homem, ou então se acovardar como um cão e acordar um dia com a minha lâmina nas costas.

A pele do licano começou a dar lugar à pelagem, numa tentativa desesperada de se salvar assumindo a pele de lobo. Esse processo aceleraria a cicatrização da carne que havia sido perfurada.

- Você vai deixá-lo ir embora? - Perguntou Raze, flexionando os bíceps superdesenvolvidos enquanto limpava o sangue da espada.

- Se ele conseguir sair vivo da floresta, é porque sua hora ainda não chegou.

A Touch of CrimsonWhere stories live. Discover now