The Accident

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Março de 2016

   Melanie e seu pai tinham acabado de sair de um voo de 7 horas cansativas de Miami até a Argentina. A garota, de 16 anos, não parava de reclamar e chorar sobre ter deixado seus amigos e seu quase-namorado pra trás, a única hora que tinha parado foi quando dormiu no voo. Mas do que adiantou se ela acordou tagarelando 10 vezes mais?

— Melanie, minha filha, eu sinceramente não aguento mais você falando sobre seus amigos e sobre o quanto você guardou seus sentimentos por esse tal de Joel Pimentel, chega por favor! — enfim seu pai tomou coragem para despejar essas palavras. A garota então, parou de falar e o encarou querendo chorar novamente. Toda essa situação era dolorosa e citar o nome do garoto era pior ainda.

— Eu não queria falar nada, ia acabar com a nossa amizade! Mas também não achei que como consequência do destino eu ia ter que vir pra outro País longe dele e de todo mundo — enquanto ela falava emburrada, seu pai chamava um táxi quase que correndo, só queria chegar em casa e dormir. Ele amava sua filha mais que tudo, mas a fase da adolescência o deixava de cabelo em pé.

— Quando você for maior de idade e quiser voltar para Miami, vai ter todo o direito e liberdade. Mas enquanto você for menor e eu estiver separado da louca da sua mãe com a sua guarda, você não vai voltar pra lá. E além disso, você é muito novinha pra estar tão envolvida com um garoto assim sentimentalmente, mas também, de qualquer jeito tem as redes sociais pra isso, pode falar com ele a qualquer hora.

Melanie na mesma hora pegou o celular de seu bolso e ia digitar para Joel que já tinha chegado na Argentina e estava tudo sob controle, mas logo teve que guardar porque o táxi já estava ali. Graças aos Céus o táxi havia chegado e seu pai, Mark, agradecia muito a Deus por isso. Assim que entraram, Melanie por fim permaneceu calada, estava digitando freneticamente no celular e resmungava algo sobre não ter sinal direito ali, o que devia ser consequência do dilúvio que estava caindo. Nada poderia piorar, pensava ela.

Conforme a chuva caía ainda mais, a estrada ficava mais escorregadia, o que não era bom sinal. Além do mais, também estava de noite, o que piorava ainda mais toda a situação. O motorista do táxi em que eles estavam buzinava sem parar pros outros carros e resolveu abrir a janela pra xingar um. Naquela hora era difícil saber quem estava com mais pressa, o motorista, Mark ou a própria Melanie. Enquanto isso, a garota estava agoniada por suas mensagens não estarem sendo entregues e sabia que em casa teria o tão esperado Wi-Fi, então queria chegar o mais rápido possível sem pensar nas consequências que isso causaria.

— Olha moço, sem querer colocar pressão nem nada do tipo, mas se o senhor puder correr mais rápido, eu agradeceria — Melanie dizia tirando o cinto pra poder apoiar melhor os braços entre os dois bancos da frente e chegar mais perto do motorista só pra ter certeza de que ele faria o que ela pediu. Caso não, ela insistiria mais um pouco, e quanto mais perto, mais irritante seria. Seu pai não disse nada, apenas revirou os olhos, no fundo ele queria a mesma coisa: chegar logo em casa.

O motorista como queria o mesmo que ela, seguiu então as ordens e passou na frente de outros carros, acelerando um pouco mais, talvez acelerando mais do que deveria. Como estava chovendo muito, ele tinha passado por uma poça imensa que jogou toda a água no para brisa tampando sua visão e ele perdeu a noção se freava ou não. Foi aí, com um enorme impacto, que Melanie viu sua vida toda passar por seus olhos e viu na sua frente todas as pessoas que ela amava, e jurou ter visto Jesus também. Como é que dizem mesmo? A pressa é inimiga da perfeição.

Naquele momento a única coisa que a fez cair na realidade foi o choque do seu corpo passando pelo vidro da frente do motorista. Logo depois o baque estrondoso de seu corpo caindo no chão e sua cabeça batendo em seguida. Tudo aconteceu tão rápido que ela nem conseguia gritar de tanta dor que estava sentindo. A última sensação foi de uma batida muito forte da sua cabeça no chão e os gritos inacabáveis de seu pai. O pensamento de culpa dela passava por sua cabeça, mas ela não conseguia expressar de forma alguma. Tudo o que via e sentia era um eterno preto.

UncoverWhere stories live. Discover now