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Atualmente

MELANIE

  No exato momento, me encontro olhando pela milésima vez umas fotos de alguns anos atrás. Eu sempre fico assim e fico me perguntando o quão ruim eu fui nessa ou em outra vida pra merecer isso tudo. Tinha dias que eu só queria morrer por não conseguir lembrar de momentos que, registrados em fotos, pareciam extremamente especiais para mim. Eu sempre perguntava ao meu pai sobre, mas ele sempre fugia do assunto, era triste eu ter perdido bons momentos com ele, mas ele sempre me disse que o importante era viver o agora, o presente.

Mas doía, eu sentia que uma parte de mim faltava, que várias partes faltavam, e o que me agoniava era que eu não sabia quais partes eram e nunca mais saberia. Eu não lembro de boa parte do meu ensino fundamental, não lembro dos amigos que fiz, a única parte que me restou foram meus pais e minha melhor amiga de infância, a Lexie. Que por falar nela, a mesma tinha acabado de me enviar uma mensagem falando que estava no elevador do meu prédio. Se não fosse ela e meu pai, eu tenho certeza que ficaria o resto da minha vida na cama olhando fotos e tentando forçar minha mente a lembrar das coisas. Sou muito grata por eles, e o que seria de mim aqui sem eles? Absolutamente nada.

Há 2 semanas eu consegui um emprego em um escritório aqui em Miami e por fim consegui sair um pouco das "asas" do meu pai. Eu sempre sonhei com o momento em que sairia da Argentina, voltaria para Miami e conseguiria fazer minha faculdade, ajudar meu pai a pagar a mesma e morar sozinha, e era isso que por fim estava acontecendo. Bom, nem tanto, meu pai morava umas 3 ruas depois da minha, porque ele diz ter medo de que me aconteça alguma coisa, mas sabemos que não é só isso, ele ainda se preocupava e tinha muito medo da ideia de me ver fora da casa dele. Eu até chamaria a Lexie para morar comigo, mas eu quero ter a experiência de morar sozinha, eu e Deus, e a minha bagunça.

— Ô DE CASA! — Lexie já estava do outro lado da porta e berrava. Eu ia matar ela. Fui até a porta e ao abrir me deparei com uma Lexie sorridente. Na mesma proporção que ela sorria, eu fazia uma enorme cara de brava.

— Você sabia que existe uma coisa chamada campainha? E você sabia também que eu moro com outras pessoas do lado? — digo, mas ela me ignora e vai em direção ao sofá, esparramando-se no mesmo. Pelo menos não veio sozinha, a sacola em sua mão parecia estar com muita comida.

— Os olhos brilham, né? Ninguém mandou querer morar sozinha e ter preguiça de cozinhar — pra quê inimigos, não é mesmo? Fecho a porta e paro na frente dela, eu estava curiosa para saber o que iríamos fazer hoje. Afinal, eu ainda tinha mais uma semana antes de começar minhas aulas na faculdade.

— Qual a boa pra hoje? Vai querer ir de novo naquele parque? — pergunto torcendo para que a resposta seja não.

Nosso último fim de semana foi completamente focado na Lexie e seu vício por parques. Foram sexta, sábado e domingo indo no mesmo parque só porque ela estava viciada num brinquedo que você girava até quase vomitar. Juro que se eu ver esse ou uma roda gigante na minha frente eu dou um jeito de quebrar. Só de lembrar meu estômago já embrulhava.

— Nada disso, hoje vamos pra balada, e fé no pai que a pegação sai. Mais encalhada que você, não tem — eu não estava acreditando naquela pérola que ela tinha dito.

— Perdão? — digo irônica — Pra sua informação o garoto do parque deu muito mole pra mim, viu?

— Mas você como é uma bunda mole não deu nem brecha pro garoto tentar alguma coisa contigo. — eu ia me pronunciar, mas ela me interrompe novamente — Quando foi seu último namoro? Há 6 meses? Há quanto tempo você não beija na boca? Uns 2 meses? Se você abrir a boca eu consigo ver as teias daqui.

UncoverWhere stories live. Discover now