Eu Preciso De Você

Capítulo 7

algumas horas naquele terraço conversando, ela tinha preparado um café da manhã especial para nós, que estava muito saboroso, com o sempre ela não errava em seus testes diários na sua pequena cozinha. Charlotte me contou um pouco sobre sua infância e sobre a época que foi morar com seus tios, sua tia Charlie era irmã do seu pai e casada com o senhor John, o dono da cafeteria.

Mesmo que meu passado me machuque só de lembrar, eu contei a ela tudo sobre mim, como conheci a Taylor, como fiquei cego e como tentei viver depois. Ou melhor, como eu conseguia sobreviver a escuridão de todos os dias, contei sobre a primeira vez que senti seu perfume e de como eu fiquei louco querendo encontrá-la novamente.

- Ainda sinto que tudo isso é um pouco surreal, eu e você aqui. - estávamos sentados e ela estava com a cabeça apoiada em meu ombro direito, eu comecei a rir de leve.
- Do que está rindo? - perguntou ela erguendo um pouco o corpo.
- Estou aqui pensando, você sabe fingir muito bem. - expliquei me referindo a ela esconder que sabia da minha condição.
- Acredite, minha casa estava cheia de pequenas notas espalhadas pelas paredes, para que eu não me esquecesse de detalhar tudo. - ela riu junto - Mas estou feliz que agora não se importe que eu saiba.

Fiquei em silêncio por um tempo, muitos pensamentos reunidos em minha mente, a maioria deles negativos, algo que eu deveria começar a lutar contra.

- O que foi? - perguntou ela - Ficou sério de repente.
- Estava pensando em coisas impróprias. - suspirei fraco e virei minha face para sua direção - Me desculpe.
- Não se desculpa. - ela tocou em minha face - Passou por todos esses anos no escuro, é normal achar que está sonhando ainda.
- E não estou? - toquei em sua mão de leve, retirando do meu rosto.
- Se estiver sonhando... - ela se aproximou de mim e me beijou novamente com suavidade - Não o deixarei acordar.
- Estou contando com isso. - sorri de canto ainda segurando a mão dela e entrelaçando nossos dedos.
- Hum, posso pedir uma coisa?
- O que você quiser.
- Uma foto, quero registrar esse momento.
- Quantas você quiser. - eu sorri.

Ela se levantou e deu alguns passos, logo ouvi o barulho de um zíper se abrindo, deveria ser sua bolsa, ou algo do tipo. Instantes depois, ela se sentou ao meu lado novamente e me pediu para sorrir, segundos depois o barulho da câmera surgiu.

- Como ficou? - perguntei curioso.
- Perfeita. - assentiu ela aproximando ainda mais seu rosto do meu e tirando outra foto - E essa também.
- Você disse uma foto. - brinquei.
- E você quantas eu quiser. - retrucou ela rindo - Você quer almoçar comigo hoje?
- Vejamos, não tem nada na minha solitária agenda. - permaneci com minha face voltada para ela.
- Que bom. - pela sua espontaneidade, ela parecia estar se divertindo com minhas ironias - Você gosta de frango?
- Sim. - eu ri - Mas, onde você pretende me levar?
- Você não está pensando que vamos a um restaurante, está?
- Não sei. - eu ri de leve - Me surpreenda.
- Apenas me acompanhe. - ela riu se levantando e pegando minha mão, me puxando.

Eu a segui rindo um pouco, percebi que estávamos fazendo todo o caminho de volta, e de acordo com minha memória, a direção era para o seu loft. E estava certo, assim que ela encaixou a chave no trinco e rodou, quando entramos ela pediu que eu seguisse até a sala, ela iria comunicar a o seu tio que já tinha chegado.

Meus passos foram mais lentos e perceptíveis dessa vez, eu queria memorizar cada detalhe daquele lugar, a textura da parede do corredor que era de tijolinho, o cheiro da orquídea que tinha na mesa de centro da sala, a maciez do sofá e como ela colocava as almofadas nele. Cada milímetro daquele loft era para mim, como uma floresta que eu tinha que explorar, estava tão distraído em meu reconhecimento de terreno que não reparei que ela tinha retornado.

Mas logo seu perfume chegou até mim, parei por um momento de inspecionar as duas prateleiras que tinha abaixo da televisão e me virei para a direção do aroma. Ouvi uma pequena risada vindo dela, não consegui e ri junto.