oito

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Um pesadelo. Mais uma vez a mulher do amigo estava tomando o lugar dela, já não bastava tê-lo tirado de dentro de casa aos finais de semana, tomou conta da cozinha e agora da garupa da moto, lugar que pertencia a Bulma.

Rozie se deitou no sofá como se estivesse à vontade na própria casa. Bulma simplesmente se recusava a acreditar no que estava acontecendo. Fez a mochila e antes mesmo que Rozie pensasse em se levantar do sofá, já tinha saído em direção a rodoviária. Comprou a passagem e teve sorte pois já tinha um ônibus de saída e em três horas chegaria na casa dos pais.
Lembrou-se que nesse mesmo dia no ano passado, estava com os cabelos batendo contra o vento e agarrada nele indo em direção a mais um Natal juntos e em família.

Atravessou o portão da casa em que morava a pouco tempo com os pais e notou que não houve mudança nenhuma desde que saiu de casa pra morar com o amigo na capital. As mesas estavam sendo organizadas no quintal e ao chegar na porta os pais vieram a encontrar pra um abraço coletivo. Bulma sentiu um conforto em estar nos braços dos pais e por um momento desejou não ter crescido. Era feliz quando criança e não sabia, tinha o Goku só pra ela e os pais que a mimavam o tempo todo. Conversou um pouco e largou a mochila no quarto que era dela e permanecia quase do mesmo jeito que era antes de se mudar.


Desceu as escadas e encontrou a Gine que vinha entrando no portão com uma travessa de doce para comer após a ceia. Deu um abraço em Bulma assim que largou a travessa na mesa e tratou de saber da nora.

- como ela é Bulma? Cuida bem do meu garoto? Sabe cozinhar? É caprichosa?

Que interrogatório irritante. Já não bastava a dor que ela sentia ainda mais a mãe dele perguntando de uma mulher que ela não podia sequer ouvir a voz.

- Não sei dizer tia Gine. - Bulma desviou o olhar, o que não passou despercebido pela mãe do Goku. Estava na cara que ela morria de ciúmes do seu filhote. Gine sempre soube que Bulma manipulava o filho e que ele sempre teve uma paixonite por ela desde criança.

Bulma pediu licença a saiu para a frente da casa. Precisava pensar, não queria estragar a ceia de natal com o péssimo humor que estava. Massageou as têmporas e ali no cantinho estava o pai fumando um cigarro de palha. Não se aguentou e sentou no colo do velho o abraçando forte.

- Que saudade papai!
- Eu sinto a sua falta todos os dias. Disse o velho. Bulma mal cabia no colo dele, mas não tinha deixado de ser a princesinha dele. O velho não gostou de saber que ela namorava alguém cuja tradição familiar não poderia sequer ir desejar feliz natal para a namorada. Isso era demais para o velho entender. Que namorado era esse que se quer veio conhecer a família da moça?

Bulma aproveitou mais um pouco o colo do velho pai, só levantou porque ele disse que não estava sentindo as pernas. Subiu as escadas voltando para o quarto em que passaria a noite e não via hora da Tights aparecer, estava dentro de casa, próxima da família, mas ao mesmo tempo tão sozinha.

Olhou algumas recordações que tinha em uma caixa debaixo da cama, desde fotos de quando criança até cartas que ela fez, mas nunca entregou para os meninos que gostava platonicamente. Sorriu ao encontrar um desenho que o Goku tinha feito pra ela aos 7 anos. Se deu conta que pelo garrancho ele deveria ser médico, a caligrafia mostrava isso.

Ouviu gargalhadas vindas do quintal e desceu apressada acreditando ser a Tights, mas não era. Era o Goku e o pesadelo da Bulma, que mal tinham chegado e a Rozie estava sentada no meio da Gine e da mãe da azulada. Conversavam e gargalhavam como se fossem velhas conhecidas. Já não chegava o amigo que ela roubou agora a família também. Ver aquela cena, era como se levasse mais um soco no estômago que já estava dolorido.

Rozie dirigia o olhar em direção a azulada enquanto dizia algo que divertia as jovens senhoras. Aquilo já era uma provocação a ela só podia ser, não tinha outra explicação. Só faltava a Tights chegar e ceder aos encantos da Rozie que agora foi até a cozinha ensinar uma nova receita de farofa para a Gine e a mãe da Bulma.

Goku conversava com o velho Briefs no quintal, mas não deixou de observar a azulada que fingia organizar alguma coisa na mesa que já estava arrumada sem precisar de nenhum detalhe a ser acrescentado.

- E esse rapaz Goku... Que a Bulma namora como ele é? Porque senão eu pego a minha 12 e...

- Não precisa se preocupar a Bulma já sabe se cuidar senhor Briefs. "Só não sabe escolher alguém que presta" pensou.

Quando a azulada por se sentir deslocada ia voltar para o quarto com o mau humor e o ciúme que ela tinha certeza que ainda a destruiria, Gine a chamou para ajudar a estender a toalha numa mesa maior onde todos sentariam juntos.

- Pode esticar mais Bulma. Disse a Gine segurando a ponta da toalha.

Bulma não queria nem conversar mais, só queria que alguém desse atenção a ela, que lhe mimasse um pouquinho só, já que a intrusa tinha toda a atenção pra ela.

- Olha como a minha norinha é querida... Gokuzinho me surpreendeu, de verdade! Sabe cozinhar, parece ser caprichosa e ainda é carinhosa... Olha lá os dois pombinhos, não são lindos?

Por obrigação Bulma olhou... Rozie estava sentada no colo do Goku e os dois riam incansavelmente. Ele parecia ser feliz com ela...
Como Bulma odiou naquele momento o Andrew, poderia ter vindo pelo menos meia hora pra ela poder sentar no colo dele e mostrar o quanto se gostavam para os que estavam ali. Mas não era mostrar o namorado, não era isso que ela queria... ela queria aquele colo, ela deveria estar ali e não a Rozie.

- Bulminha, meu amor! Prove a farofa que a Rozie fez, está divina! Nem eu sonhei com essa receita! A mãe a arrastou para a cozinha para provar a tal farofa... A azulada já estava com nojo daquilo.
" A Rozie sabe cozinhar", "a Rozie é caprichosa", "a Rozie é carinhosa", "a Rozie sabe...".

E no fundo o olhar da maldita ladra de amigo, de família, enfim de tudo, parecia saber exatamente o que Bulma estava sentindo e com um sorriso sarcástico demonstrava satisfação. Como ninguém enxergava que ela só queria provocar a Bulma? Pelo menos essa era a visão dela.

- Não mamãe Obrigada, dispenso essa farofa. Quero comer a sua comida.
- Porque não aproveita a Rozie nas horas vagas pra aprender a cozinhar Bulma? Perguntou a mãe.
- Aí mamãe, vamos trocar de assunto? Se ela continuasse iria chorar ali, mesmo. Estava destruída por dentro até que a Tights chegou.


-Tá tudo errado nessa droga! – bradava a garota de cabelos azuis jogada sobre a sua cama chorando sobre pual
Parecia uma adolescente boba de novo
E sua prima como boa confidente que havia se tornado naqueles últimos anos ouvia tudo tomando um bom copo de gemada sentada no fofo tapete rosa, na verdade tights nunca tinha percebendo como o quarto de Bulma na fazenda era tão Barbie girl e riu achando graça. Finalmente Bulma acalmava-se depois de desabafar um tanto de coisas sem nexo que tights ainda tentava intender em como Goku conseguia manter um diálogo e compreende—la naqueles momentos. Na verdade, pensando bem a azulada tinha sorte de ter Goku como amigo, afinal quem não queria um amigo como ele?
-Ele parece estar bem feliz – disse tights inocente que não havia entendido que o foco daquela discussão era exatamente ele.
-Como pode ser tão cruel comigo? Até você? – chorou Bulma novamente afundando a cabeça na pelúcia azul e branca.
-Foi mal... – Disse a loira pensativa --- tá, me conta o que é isso tudo? Achei que estava bem com o Andrew?
Bulma se senta secando as lagrimas e franzi a testa
-Mas eu to bem com ele, o que isso tem a ver?
-Bulma... não me entenda mal, mas.... você tá se acabando de chorar por um homem que é seu amigo e tá ignorando o seu namorado, se não conhecesse a história de você e do Goku eu até diria que você está apaixonada por ele
Bulma deu uma gargalhada pavorosa e irritada, um misto de raiva e sarcasmos
--eu não to apaixonada por ele! Eu só... odeio aquela garota, falsa e melosa que rouba todo mundo, não só meu amigo
--cara, ela é a Rozie Vikal, a garota prodígio das cênicas, já foi a alguma das peças dela?
-Não – murmura Bulma
-Ela é muito boa – diz tights -- eu até trabalhei em parceria com a equipe da turma dela e a desgraçada rejeitou o meu roteiro acredita?
-Então ela é atriz? – Bulma fala se interessando de uma vez
-E de muito futuro – Things completa – bom, esquece ela, talvez esteja dando atenção demais
-Ela roubou o meu amigo, e não vai ficar por isso- Bulma rosna e tights revira os olhos com os ciúmes da prima, era mais que nítido aquilo, e Bulma era tão teimosa e arrogante que não ouvia ninguém.
-E por falar nele, como estão as coisas?
--sinceramente? Horríveis, e tudo só ficou essa merda depois dela na minha vida tão perfeita, ele estava bem antes, fazíamos coisas juntos e ele me arrastavam para as coisas idiotias que ele gosta de fazer, mas agora é tudo ela – Bulma fala com um bico
-Ela é namorada dele, é normal, e nós duas sabíamos que uma hora isso ia acontecer né?
Bulma fez um bico
--Bulma, você parece que não está feliz por ele, desculpa prima, mas isso é tão egoísta, você tem o Andrew que é um fofo e ai tinha o Goku e parece que nunca tem atenção o bastante, já parou pra pensar em como o Goku se sentiu quando você deixou ele de lado pelo Andrew?
-Ele não tinha problema nenhum com isso, estávamos bem, e ele começou a mudar comigo depois dela! Ela é a intrusa na nossa relação de amigos, eu cheguei primeiro na vida dele, eu sou a prioridade!
--desisto, faz o que quiser, só não pisa na bola tá lega? O Goku é um cara bacana – fala a loira – bom, mudando de assunto, quem é sua prima favorita?
--eu não sei... uma loira chata que nem me defende daquela bruxa - disse Bulma ainda com um bico
--chata, --riu tights—eu consegui uma entrevista pra você, na quarta lá no estúdio que eu to estagiando, você precisa começar o estágio, não é?
-Jura? - Bulma fala eufórica
--juro, mas... é pra assistente de estúdio
-E em outras palavras...
-Somos a base da cadeia alimentar e não somos nada – riu Tights confirmando

Conversaram mais um pouco e aquilo ainda remoía tights que tornou a alertar Bulma sobre não misturar as coisas com Goku, e também a garota de cabelos loiros estava um tanto irritada com a desculpa esfarrapada de Andrew pra não estar ali ao lado de Bulma. Para tights estava nítido que Bulma estava sentindo algo pelo amigo e ainda assim Bulma se negava e se ela ainda estava nesse estagio de negação então a melhor coisa era não estragar a única coisa boa que os dois ainda tinham um com o outro. Desceram juntas pra tomar as conversas animosas de todos e Rozie no meio.
Lá pelas tantas da madrugada todos estavam dormindo na casa dos Briefs e Bulma vestiu o seu robe rosa e desceu aas escadas, já lá em baixo ela olhou para o amigo de cabelos arrepiados que estava sentado frente a lareira comendo biscoitos
-Isso deveria ser para o papai Noel sabia? – ela sorriu murmurando
Não achava que ele ainda faria as mesmas coisas de quando eram crianças, pelo visto Goku sempre mantinha os velhos hábitos
-Ele me deixou de pressente – riu o garoto com a boca cheia e Bulma caminhou até ele e o jovem a puxou para si a aconchegando no seu colo frente a lareira.
-Foi é? - Bulma sorriu e arqueou a sobrancelha – e por acaso ele n~~ao deixou nada pra mim?
-humm, deixa eu pensar - Goku leva a mão no queixo – não, ele disse algo sobre você ter sido muito malcriada esse ano, ter teimado com o seu melhor amigo, e ter sido muito chata – riu Goku e Bulma se preparava pra abrir a boca e ele levou os dedos nos lábios dela a fazendo calar – mas, por sorte você tem um amigo que gosta de você mesmo sendo malcriada
Goku esticou a mão e pegou uma caixinha e entregou pra Bulma
-é pra mim? É sério mesmo? - Bulma tinha os olhos brilhando -- eu também tenho algo pra você – disse e se levantou – espera aqui – ela disse e correu escada acima e voltou logo em seguida e Goku a olhava curioso
Ela abriu a sua caixinha preta com um laço dourado, não era grande, mas era o bastante pra Bulma saber que ele ao menos ainda se importava.
Abriu a caixa e deu de cara com um cordão que tinha nada menos que uma pequena coroa de pingente, era uma peça tão delicada e cheio de detalhes incríveis e pequenas pedras coloridas, deveria ter sido caro...
-Eu disse que ia fazer uma coroa pra você não foi? – Ela fala – bom, eu não sei fazer coroa, isso é obvio, nunca tive dom artístico – riu coçando a nuca e Bulma pulou nele o abraçando
-Eu adorei! É perfeita! - Disse a garota –coloca em mim – pediu se virando e Goku o fez, assim que travou o fecho encostou o nariz na nuca dela cheirando e ela sorriu com as cocegas. – Vai, abre o meu!
Goku então abriu a caixinha retangular comprida, mas não muito grande. E viu uma caneta linda nas cores preto, azul e laranja, tinha uma gravação especial com o nome dele. E Goku soube que foi pedido especial...
--perfeita! -- disse
-Vai usar muito quando... você sabe – Bulma gesticula. E acaba mordendo o lábio inferior e ambos se encaram um tempo em silêncio apenas se olhando.
-Quer ir lá pra fora? – Goku chama – aposto que já começou a nevar
-Será? - Bulma fala e com a ajuda dele se levantam e saem e Goku tinham razão, os flocos já caiam e tinha uma pequena aglomeração de gelo.
Correram como quando eram crianças e próximos a grande arvore nos fundos e Goku achou algo incrível, o ultimo dente de leão ainda vivo da estação anterior e o puxou e colocou entre as mãos de Bulma e segurou junto com as dele por cima e olhavam-se nos olhos.
-Feche os olhos e faz um pedido – ele murmurou e ela sorriu daquela bobagem, mas era divertido essas coisas as vezes tão tosca que ele gostava de fazer.
Os olhos turquesas e os negros se fecham e em silencio cada um faz o seu pedido e no três sopram a flor a espalhando nos ventos gélidos da madrugada.
Foi incrível aquela noite, fazia muito tempo que ela e ele não estiveram tão juntos e tão ligados como quando eram apenas crianças, e sentados sobre uma das cercas de acesso a plantação mais afastados da casa principal viam o sol despontar no horizonte. Aas mãos acabam se encostando e mesmo mantendo os olhares firme a frente ambos deixam as mãos se enlaçarem, ambos com o coração levemente acelerado, mas calados.
E quando o sol por fim emerge por completo Goku solta a mão e se espreguiça
-Acho que é hora de voltar – murmura o garoto de cabelos desgrenhados e da um pulo da cerca e estende as mãos puxando Bulma a segurando forte pela cintura e a aproxima dando um beijo na testa dela.
--promete pra mim que nunca nada nem ninguém vai separar a gente? —Bulma pede
--prometo – Goku fala
--de dedinho? – Bulma fala
-de dedinho – Goku fala e cruzam os mindinhos fazendo mais uma jura.

Amor além do tempo(Concluída)Where stories live. Discover now