2 | Planos na fulga

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O fim da tarde deixara as coisas monótonas, e o ar estava pesado. O tempo ameaçou a noite com uma chuva, mas o céu ficou simplesmente cinza, e seco.

Um avião acabara de decolar.

Fazia só algumas horas que Robert tinha morrido. Ele foi velado em casa somente pelos pais e alguns vizinhos. Todos estavam compartilhando o mesmo sentimento doloroso: a tristeza. Os pais de Robert levaram um choque e tanto, e não aceitavam o assassinato de seu filho mais querido.

Tudo estava perfeito naquele vôo. Poucos passageiros, e nenhuma turbulência.

Numa poltrona, bem na frente encontrava-se um homem, gordinho, trajado com roupas sociais: camisa azul-clara e uma calça preta. Seus sapatos eram reluzentes, pois ficara assim, com certeza, após uma boa engraxada. Ele tinha um bigode pequeno e fino, e muito bem feito, e mais acima encontrava-se um par de olhos verde-claros, que estavam lacrimejados. Parecia um homem de negócios, alguém de boa influência numa determinada empresa. Não era charmoso e nem atraente, mas tinha uma certa elegância. Transmitia, de algum modo, tranqüilidade e calma, mas estava aparentemente incomodado com algo. Pôs-se de pé e rumou ao banheiro.

Ele encontrou uma porta trancada. E teve uma leve lembrança. Surgiu em sua mente um rapaz entrando no banheiro sem que o outro saísse, e realmente tinha visto a tal cena. Só ele percebeu, pois era o único que não estava com sono naquele instante, mas seu pensamento foi levado pela aeromoça que o viu parado em frente à porta.

– Posso ajudá-lo?

– Ah, não, não, muito obrigado! Só ia usar o banheiro, mas já está ocupado... licença, vou me sentar.

– O. k., se precisar de algo é só me chamar.

– Muito grato – disse ele, educadamente, e nisso, com sua curiosidade aumentando, sentou na poltrona e o seu pensamento o leva novamente a crer que tem dois homens lá dentro. Ficou pensando e nada de, pelo menos um, sair. Combinou consigo mesmo que iria espionar o que estava acontecendo, pois já havia assistido vários filmes que ladrões, terroristas ou seqüestradores armavam bombas no banheiro. Sentiu um leve arrepio, e como ninguém saiu do banheiro, decidiu fazer o que pensou. – Muito estranho – disse ele pondo-se de pé.

Ouviu alguma coisa. Alguém falando, e como ninguém estava lhe dando atenção porque estavam quase todos dormindo, colocou sua orelha prensada na porta para poder ouvir melhor. As primeiras palavras que ouviu não lhe fizeram sentido. E realmente havia duas pessoas lá.

O homem deu uma disfarçada, e quando certificou-se de que todos estavam sonolentos e com os olhares fixados em outros lugares, continuou a escutar. Ouviu alguma coisa como bebê ou bedê, mas logo concluiu que foi bedê. "É uma pessoa, deve ser um apelido", disse baixinho.

Bedê, tenho planos, mas aperfeiçoaremos quando chegarmos...

A voz de um deles ecoava.

– Planos para o quê?

– Para matar que não é – disse alguém em resposta. O espião pensou que era uma expressão o que acabara de ouvir, mas logo se assustou quando o autor da frase terminou-a.

– Precisamos de planos para nos esconder... e como eu disse, matamos o meu irmão sem precisarmos bolar nada, podemos fazer isto sem problemas. – O homem descolou rapidamente sua orelha da porta, uma gota de suor escorria por sua testa. Pensou em sentar, mas continuou na escuta. Quem sabe ele não salvaria todas aquelas pessoas do avião dizendo que ali havia terroristas? Voltou a sua posição de espião e continuou ouvindo, corajosamente.

– Blackmoon, é só saber de algum lugar para nós ficarmos, e daí vamos nos divertir bastante... tô louco para tirar umas vidas com você...

O homem que estava atento na conversa sussurrou:

– Quantas gírias meu Deus, olha só como usam as palavras, querem trocar umas por outras, esses jovens não usam mais nosso vocabulário corretamente. – E novamente foi surpreendido quando entendeu a frase, pois o jovem falou que mataria por diversão, e o outro, chamado pelo Bedê de Blackmoon, concordou. Ele ouviu que queriam, literalmente, tirar vidas.

O cara saiu de perto da porta e sentou-se rapidamente em seu lugar, pois ouviu o tal do Blackmoon dizendo que ia sair agora, e que cinco minutos depois era para o Bedê sair. "Combinado", respondeu Bedê.

O senhor gordinho viu um deles saindo, com certeza era o Blackmoon, e observou-o com os olhos entreabertos até sentar na poltrona bem perto dele. Mas pelo fato de estar fingindo dormir, ele nem conseguiu ver o rosto do jovem homem. Um calafrio subiu em seu corpo. Arrepiou-se. Fechou os olhos de verdade e tentou relaxar. Quando abriu, a aeromoça, que tinha lhe perguntado se desejava algo, estava vindo em sua direção, e bem de perto perguntou:

– Você está se sentindo bem mesmo?

– Estou, estou, é que eu fico meio incomodado quando eu tô voando, é estranho, mas não é nada, obrigado. – Dando atenção para a moça preocupada, nem viu o Bedê sair do banheiro. Olhou para os lados e o avistou sentando rapidamente com o seu amigo.

Ambos estavam com roupas muito pretas e bem discretas, mas percebe-se que eram de muito estilo. As vestes combinavam com eles.

Depois de quase três horas, foi avisado que o avião ia aterrissar. O gordinho não tinha pregado o olho preocupado com os dois rapazes, e felizmente, nenhum deles fez nada contra alguém, e nem a suposta bomba tinha explodido, mas em momento nenhum olhara diretamente para os dois que não paravam de conversar.

Quando o avião estava completamente parado, depois do pouso tranqüilo e suave, ele arriscou em olhar para os rapazes, mas estavam com as cabeças viradas para o lado contrário. Todos se levantaram, e saíram quando abriram a porta. O espião não os viu mais. Tinha-os perdido. Desistiu de segui-los visualmente e rumou para o lado onde tinha combinado de encontrar-se com sua esposa. Logo achou uma mulher de cabelos vermelhos, e com toda certeza contou toda sua viagem para ela. Saíram rindo. E abraçados, após um simples beijo.

Blackmoon e Bedê pegaram um táxi, e foram-se, aparentemente sem rumo. Ainda estavam combinando o local.

Blackmoon parecia cansado, mas cansado da viagem, pois não sentia-se nem um pouquinho mal por ter assassinado seu irmão. Olhou para Bedê e disse que não restava mais duvidas sobre o belo plano que formulava em sua mente. Falou baixinho e pediu para o motorista parar no restaurante mais próximo.

Quando chegaram lá, pegaram suas pequenas malas, pagaram o taxista e foram jantar. Já eram quase onze horas da noite. Blackmoon aproveitou a ocasião para detalhar os planos. Bedê escutava atento.

Demoraram mais de uma hora para saírem de lá, e mesmo assim, saíram conversando, e como havia uma boa quantia de dinheiro com eles, principalmente com Blackmoon, decidiram dormir em um hotel ali perto. Iam descansar. E quando amanhecesse, colocariam os planos em ação. Pois queriam divertir-se logo. Pensando bastante, tomaram consciência de que na cidade grande era mais difícil de fazer maldades, porém, não era impossível para Blackmoon e Bedê. O desejo de matar estava começando a aumentar, mas controlavam-se, queriam aproveitar a vida nova que cada um tinha agora, mas sem deixar os planos de lado.

Foram dormir quando já passava da meia noite.

Uma noite em Dead Woods (COMPLETO)Where stories live. Discover now