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  Harry

  Já no jatinho arrumo alguns documentos importantes da empresa para organizar enquanto passo esses dois dias fora. Acabo achando três folhas, com três desenhos que vamos dizer que não são profissionais, mas são bonitos, os traços se transformam numa joia e lembro-me bem que não fiz nenhum desenho antes de vir, ou nem mesmo de pensar em algo novo para a empresa. Não gosto de pensar que por um momento está tudo fora do controle que não estou conseguindo associar os negócios da empresa com os meus. Respiro fundo deixando os desenhos que provavelmente foi Anna quem fez, entre os papéis.
  — Senhor Vitsky, ligação da sua empresa — tomando pares de inspirações fundas seguro o telefone.
  — Obrigado Jack — o homem de roupa formal se retira enquanto atendo o telefonema que me traria boas ou más notícias — sim?
  — Senhor Van Vitsky, conseguimos fechar os negócios com a marca famosa de Las Vegas, terá um desfile no primeiro dia do próximo ano.
  — Okay, muito obrigado senhorita Gusman — desligo o telefone e seguro meu notebook, se eu conseguir lançar as novas joias antes do desfile será um sucesso.

Anna

  Agora sim, definitivamente estou sozinha, só nesse casarão, na minha masmorra sem o meu sequestrador, sem um terço dos seus homens, mesmo assim, com muito deles. Mesmo sabendo que a proteção dos seguranças é máxima, não confio, as portas se mantém fechada, sei que o único a estar aqui é Arthur, um único segurança que cuida desse lado da casa, mas a qualquer barulho, seguro os lençóis e fico atenta, sei que o que me observa não é coisa da minha mente, uma vez que sei que Harry também viu. O que me deixava um pouco apreensiva é o porquê Harry pensa que aqui é menos perigoso do que está com ele? Já estive com ele em momentos ruins, aonde ele irá, é tão ruim assim?

  Uma hora depois de me preparar psicologicamente para descer para preparar algo pra comer, estou me sentindo como uma criança de dez anos, não é atoa, é? Suspiro e tento parecer uma garota normal de dezoito anos. Desço as escadas e já obtenho meu primeiro susto da noite com Arthur a andar pela sala.
  — Boa noite senhorita Annastácia — sorri pequeno para o homem loiro a minha frente.
  — Arthur é duas da manhã, por que não vai para casa? — o mesmo sorri.
  — É o meu trabalho senhorita, estou acostumado. — Arthur era alto e forte, pele morena, cabelos raspados e tatuado, tatuagens de coisas indecifráveis, misterioso, mas simpático.
  — Apenas Anna, por favor — assim que assentiu caminho em passos largos até a cozinha. Preparo um sanduíche, pois, não tenho fome de comida alguma a não ser besteiras, desde que cheguei aqui, não fiz nada da minha rotina anterior, aliás, vivi minha vida em semanas como se nasci de outro jeito. Eu própria me confundo, mas, na verdade, em um mês, consegui ser alguém que não era. Tudo bem vivi na máfia minha vida toda, mas nunca me envolvi com alguém que participasse, nunca fui tão aberta para alguém que conheço há semanas, ou até mesmo me apaixonei, nunca conheci o amor. Então me levou a estar confusa sobre os sentimentos com Harry, me olho no espelho e às vezes me pego pensando o quão pecadora fui ao me entregar a alguém, sujo? Era pra ser com alguém especial de qualquer forma foi, nunca tive um namorado e nunca pensei que o primeiro fosse um mafioso, não vivo uma vida de adolescente de dezoito anos, terminei os estudos cedo, nunca tive amizades por conta de meu pai, nunca fui a festas e nem pratiquei nada que um adolescente comum fez e se um dia meus filhos perguntarem o que eu fiz na minha adolescência? Fui uma garota que viveu uma vida escondida, uma vida falsa, com pais falsos, viveu como se tudo fosse calculado. Harry me resgatou de uma vida ruim e de alguém que não me queria, me trouxe como sua irmã e se apaixonou como sua mulher. Entreguei-me a um homem oito anos mais velho que eu, não tive um namoradinho de escola, jogador de futebol e nem perdi minha virgindade numa festa. Simplesmente meu primeiro namorado era alguém muito mais experiente na vida que eu que mexe com coisas erradas e vive uma vida louca. Uma menina que fugiu da morte por muitas vezes, e a viu passar em fios de cabelos seus. Acho que nunca fui adolescente.

  Suspiro deixando todas essas coisas de lado, só me deixaria mal pensar que poderia ter uma vida normal e boa, só me deixa ter atos egoístas, devo agradecer por ter estudos completos, não foi sendo líder de torcida e nem namorando um príncipe, mas foi bom, não tive uma primeira vez boa e nem pais, mas Harry, Harry fez minha vida ser diferente em um mês, não sei como será daqui para frente, mas conheci coisas que sempre tive vontade de conhecer por ver em filmes, me deu o amor e carinho que minha "mãe" me deu antes daquele cretino a matar. Cuidou de mim acima de tudo, e eu, pensava que nem me conhecia. Apesar de Harry ter mentido sobre meu passado. Não posso julga-lo a nada.
  — Arthur, para você — sorri o vendo ficar confuso e deixo o sanduíche sobre a mesa de centro. Subo as escadas e ando por todos os corredores achando meu quarto. Sento a cama deixando o sanduíche pela metade encima do móvel para que eu possa ligar a televisão, mas antes de eu me mover uma música me faz a atenção ir pra o local ao lado da cama. Harry esqueceu o celular? Abro a gaveta marrom vendo um telemóvel e um número desconhecido, devo atender? Pego o smartphone e atendo a ligação.
  — Estou — a pessoa não responde de imediato, mas ao ouvir a voz sorri.
  — Amei os novos modelos das joias, irá cair bem com o evento que terá no próximo ano.
  — Senhor — sorri para mim mesma.
  — Eu espero que esteja bem — sua voz transmite certa preocupação.
  — Estaria melhor se estivesse comigo.
  — Logo, quando menos imaginar estarei ao seu lado.

Um Último Gemido - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora