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  Quando acordo, sinto um peso sobre minha perna direita. Com a luz no rosto demoro alguns minutos para conseguir abrir totalmente meus olhos, ao me espreguiçar sinto agora outro peso sobre meu abdômen e só ai percebo que se trata da perna e braço de Harry. Encaro como dorme tranquilo e suave, seu rosto está sem expressões e sua boca entre aberta soltando leves roncos, seus cabelos bagunçados e seu rosto marcado por ter dormido muito tempo apenas de um lado. Escuto alguns barulhos no andar de baixo e isso me faz tirar o braço de Harry devagar o vendo se mexer, saio rapidamente deixando um travesseiro debaixo de si para que me substitua, vou à casa de banho para jogar uma água quente ao meu corpo, depois de amanhã já é natal, o primeiro sem minha mãe. Sei que não era de sangue, aliás, não conheci nenhum de meus pais pelo que Harry me contou, mas a mulher que Otto matou sempre será a minha única mãe. Confesso que não sinto nenhuma falta de Otto, alguém que me fez sofrer por anos, mas não nego que constantes pensamentos da minha vida passada me atormentam, parece que foi há um ano, mas só se passaram meses e isso é incrivelmente assustador.Saio do banho quente e vou rápido a minha mala para pegar uma roupa quente e confortável. 
  — Alguém acordou animada é isso mesmo? — ouço a voz rouca e baixa e o encaro enquanto fecho meu sutiã. 
  — Acontece que hoje — ponho a blusa fria pelo meu corpo e tendo a imagem de Harry bagunçado embaixo de um lençol me faz ter preguiça e ir até ele, entrando debaixo do lugar quente — estava pensando em como fazer você comemorar o Natal. 
  — Disse que não comemoro — revira os olhos e dou leves beijos em seu peito. 
  — Acontece que tudo tem sua primeira vez — dou uma piscadela para o homem a minha frente sentindo sua mão rodar minha cintura e me puxar para seu corpo. Seus olhos se fecham e ficamos ali, sentindo o calor do corpo um do outro, sua respiração faz cócegas em meu rosto e sua mão faz carinho e desenha desenhos imaginários nas minhas costas. 
  — O que iremos fazer no natal? — sorri em saber que se rendeu em querer comemorar comigo. 
  — Não conheço muito de Los Angeles — percebo que tudo que pensei em fazer com Harry está em Londres, o teatro, os jogos, os presentes. 
  — Nós iremos voltar, hoje mesmo, Dallas daqui a pouco vem aqui avisar que o jatinho já chegou — abro meus olhos e o encaro vendo os seus olhos em mim. 
  — Por que não me disse antes? — meu cenho está franzido.  — Achei que não havia necessidade — sorriu de lado. 
   — Neste caso — brinco com os cabelos finos de seu peito — Iremos ao teatro. Gosta de Charlie Chaplin? 
  — Um pouco — sua voz saiu quente. 
  — Será um teatro de mímica, em homenagem a ele. Porém, numa versão atualizada, com alguma música em orquestra em homenagem ao natal também — o olho. 
  — Vocês fazem isso no natal? — me encara. 
  — Na verdade, quando era apenas eu e minha mãe, jogávamos jogos e comíamos falando de coisas do passado, em como tudo mudou ou ela me contava como foi para chegar até a máfia, como ela abriu um bom lugar para as mulheres no meio disso tudo. Lembro que sempre quis ser como ela. Era uma pessoa sábia, nunca deixava que os negócios entrassem no seu ânimo de vida. Negócios aparte, família em primeiro lugar, por mais que a boa parte disso a levava a tomar uma surra — olho para um ponto específico em seu corpo enquanto falo — ela era do mundo do crime, mais nunca deixou o crime entrar no seu mundo — o olho sorrindo. — Vá se arrumar. Dallas daqui a pouco chega aí — sorriu para mim se levantando.

  Depois que Harry se arrumou e me vesti adequadamente para sair do quarto, nós descemos as escadas com nossas malas para que Harry se despedisse da sua família, não entendo o que lhe afastou de todos se odeia estar só, talvez nem sempre estar com todos foi bom como é fazer uma visita depois de anos, às vezes só matar a saudade é melhor que conviver junto sem ela. Queria poder ver minha mãe novamente, nem que só por um dia, dizer a ela tudo o que aconteceu e tomar um único conselho seu. 
  — Meu tio — Harry apertou a mão do homem que o puxa para um abraço — Nick e os seus irão receber um torpedo da França e logo receberá a notícia que foram abatidos — ouço sua pequena risada. 
  — Vá à sombra meu sobrinho e sempre que precisar, estaremos aqui. — Sorriu para ele e se despediu de todos antes de sair pela porta da frente do lugar que cresceu.

  Na porta, nos deparamos com Débora e Cristal que corre para abraçar o irmão, enquanto se abraçam olho para Débora que me olha fixamente. 
  — Feliz Natal Anna. — Desperto de olhar para Débora e olho a moça ao meu lado, não desvio o olhar da morena a minha frente mesmo no abraço apertado de Cristal. Não havia pensado em um reencontro depois do que tivemos há dias. — Aonde vão? 
   — Estamos voltando a Londres — percebo que a felicidade dele havia se ido — foi bom te ver minha irmã — sorriu para ela — até breve.

Um Último Gemido - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora